Ataque ao Capitólio. Diretor do FBI garante terem sido enviados alertas para possível violência

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Reuters

O diretor do FBI, Christopher Wray, apresentou-se esta terça-feira no Congresso para testemunhar sobre o ataque ao Capitólio a 6 de janeiro. Wray garantiu que o seu gabinete enviou um documento do FBI de três formas diferentes a outras forças de segurança, incluindo a Polícia do Capitólio, que alertava para um clima de "guerra" naquele dia. Wray descartou ainda a teoria de que os manifestantes eram "falsos apoiantes de Trump", nomeadamente membros do Antifa, e caracterizou a insurreição como um ato de "terrorismo doméstico".

Uma das questões mais esperadas no Congresso esta terça-feira dizia respeito às falhas de comunicação que ocorreram e à acusação de que o FBI não alertou adequadamente as outras forças de segurança sobre a ameaça de violência a 6 de janeiro, o dia em que o Congresso estava reunido para ratificar a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais de novembro.

Muitas das questões dos senadores centraram-se no relatório enviado do escritório do FBI em Nortflok, a 5 de janeiro, que, através da análise de várias publicações nas redes sociais, alertava para o facto de extremistas estarem a planear uma “guerra” em Washington no dia seguinte para impedirem a oficialização da vitória de Joe Biden.

Na semana passada, a chefe da polícia do Capitólio admitiu que o relatório nunca chegou às suas mãos e o antigo chefe desta força policial, Steven Sund, disse aos deputados da Câmara dos Representantes que apenas dias antes da audiência da semana passada teve conhecimento deste memorando.

Questionado sobre o tratamento dado pelo FBI a este relatório, Wray defendeu perante o Comité Judiciário do Senado que o seu departamento enviou a informação a outras forças de segurança, incluindo a Polícia do Capitólio e o Departamento de Polícia Metropolitana, uma hora após ter recebido o relatório do escritório de Norfolk. 

Wray sublinhou ainda que a informação foi partilhada de três formas diferentes: um e-mail para a task-force contra o terrorismo, discutido num posto de comando e publicado num portal da Internet disponível para outras forças de segurança. “Quanto ao motivo pelo qual a informação não chegou às pessoas de todos os departamentos, não tenho uma resposta para tal”, afirmou o diretor do FBI.

Embora as informações contidas neste memorando fossem “brutas e não verificadas”, Wray defendeu que eram específicas e preocupantes o suficiente para que “a coisa mais inteligente e prudente a fazer fosse simplesmente enviá-las às pessoas que precisavam de as obter”.

“Num mundo perfeito, teríamos demorado mais tempo para descobrir se a informação era confiável, mas nós fizemos a nossa avaliação para levar essa informação às pessoas competentes o mais rápido possível, como eu disse, de três maneiras diferentes, a fim de deixar o mínimo possível ao acaso”, disse Wray. “Era mais do que um e-mail”, acrescentou.

Apesar disso, o diretor do FBI acrescentou que o resultado do ataque ao Capitólio, que provocou cinco mortos, era, naquela altura, “inaceitável” e estão a investigar “como o processo [de comunicação] poderia ter sido melhorado”.

Fiquei atónito, tal como vós, com a violência e destruição que vimos naquele dia. Aquele ataque, aquele cerco foi um comportamento criminoso, pura e simplesmente”, disse Chris Wray.
Terrorismo doméstico
Wray caracterizou a insurreição de 6 de janeiro como um ato de “terrorismo doméstico”, destacando a crescente preocupação por parte do FBI em combater o aumento da violência nos EUA, nomeadamente de grupos de milícias, supremacistas brancos e anarquistas. A ameaça que representam está a ser tratada com a mesma urgência de grupos terroristas internacionais, como o Estado Islâmico ou a Al Qaeda, garantiu Wray, sublinhando que o FBI tem “soado o alarme” há “vários anos”.

Infelizmente, este não foi um ato isolado. O problema do terrorismo doméstico tem vindo a alastrar por todo o país há muito tempo e não vai mudar tão cedo”, disse Wray perante o Congresso, apelando aos norte-americanos a denunciarem qualquer ato de terrorismo.

O diretor do FBI deixou ainda claro durante a audiência desta terça-feira que o Antifa e outros grupos de esquerda não participaram no assalto ao Capitólio, descredibilizando a teoria apoiada pelo círculo de apoiantes de Trump de que entre a multidão estavam maioritariamente infiltrados de esquerda.

Não temos, até ao momento, qualquer prova que relacione extremistas violentos anarquistas ou pessoas ligadas ao Antifa com o dia 6 de janeiro”, esclareceu Chris Wray, assim como disse não ter indicações de que o ataque foi organizado por “falsos apoiantes de Trump”. A teoria cada vez ganhava menos força, à medida que vários manifestantes pró-Trump confirmaram que o Antifa e outros movimentos de esquerda não estiveram envolvidos no ataque e assumem “orgulhosamente” a responsabilidade pela acometida.

Por sua vez, Wray afirma que a maioria dos invasores eram “extremistas violentos com motivação racial, principalmente defensores da supremacia branca”.

A equipa de investigadores federais de Chris Wray está atualmente a analisar milhares de pistas de forma a processar as pessoas envolvidas no ataque ao Capitólio.

As autoridades norte-americanas já detiveram mais de 300 pessoas e identificaram outras centenas por envolvimento na invasão. Pelo menos 18 pessoas associadas ao grupo de extrema-direita Proud Boys foram acusadas e nove pessoas ligadas aos Oath Keepers, grupo paramilitar de extrema-direita, estão também a ser acusadas de ter conspirado desde novembro para invadir o Capitólio e, assim, tentar impedir a certificação de Joe Biden como novo presidente dos Estados Unidos.
pub