Barricadas e confrontos nas ruas de Minsk após anúncio de vitória de Presidente Lukachenko

por Graça Andrade Ramos - RTP
Bielorrússia, 09 de agosto de 2020 tutby - Twitter

Sondagens oficiais do regime à boca das urnas deram a vitória nas eleições presidenciais deste domingo ao Presidente Alexander Lukachenko, de 65 anos, candidato a um sexto mandato consecutivo, atribuindo-lhe quase 80 por cento dos votos. A candidata da oposição, Svetlana Tikhanovskaïa, teria obtido, de acordo com as mesmas sondagens, apenas 6,8 por cento.

A reação não se fez esperar e as ruas da capital bielorrussa, Minsk, severamente patrulhadas ao longo do dia, começaram a encher-se de manifestantes em protesto contra os alegados resultados.

Ao início da noite, a multidão era já considerável.


Svetlana Tikhanovskaya reivindicou a vitória, citando dados de assembleias de voto onde os responsáveis das mesas recusaram falsificar os resultados.

Logo após o fecho das urnas, a capital encheu-se de polícias de choque e os dois maiores sites noticiosos independentes foram bloqueados.

Nas ruas, quem se atrevesse a cantar cânticos da oposição, tinha de fugir para não ser detido.
A contestação só subiu de tom e o grande número de manifestantes acabou por tornar impossíveis as detenções individuais. Muitos bielorrussos começaram a usar as buzinas dos seus automóveis para expressar o seu descontentamento.

A polícia tentou dispersar os protestos com canhões de água, e os manifestantes ergueram barricadas. Em muitas ruas, ousaram enfrentar os agentes. Não se sabe quantas pessoas já terão sido detidas.

Há notícia de que o avião presidencial deixou o país  e aterrou na Turquia durante a tarde, sem qualquer confirmação de que Lukachenko se encontrasse ou não a bordo.

O grande controlo das autoridades sobre os meios de comunicação impede o testemunho de observadores independentes. As redes sociais são o grande veículo do que está a decorrer na capital da Bieolorrússia.


Correm rumores, impossíveis de verificar, de que os protestos e a contestação se estenderam a todo o país.

Em cidades como Zhodina e Baranovich, os agentes da polícia de choque terão baixado os escudos e recusado impedir os protestos, de acordo com testemunhos.

Em Minsk, à medida que as horas passam, as ruas enchem-se cada vez mais de pessoas em marcha.Gritam "Vai-te embora!", num recado a dirigido a Lukachenko.

Resposta musculada
Alexandre Lukachenko está no poder desde 1994 e, desde então, nenhuma corrente da oposição conseguiu afirmar-se no panorama político bielorrusso. Muitos dos seus dirigentes foram detidos e, em 2019, nenhum opositor foi eleito para o Parlamento.

Estas eleições encheram de esperança os bielorrussos que querem o fim da era Lukachenko, devido à candidatura de Tikhanovskaïa, uma professora de inglês com 37 anos e completamente desconhecida até há poucos meses.

Aguerrida e "farta de ter medo", a candidata da oposição agregou todos os descontentes do país e este domingo as eleições foram marcadas por uma participação histórica, tanto dentro de portas como na diáspora.

Às 16h00 já tinham votado mais de 73 por cento dos eleitores e dezenas de milhares de assembleias de voto tiveram de prolongar a hora de encerramento prevista para as 20h00 locais, devido ao número de pessoas que esperavam a sua vez.

Lukachenko, que acusa a oposição de estar ao serviço de uma campanha liderada pela Rússia para o destronar e deixar o país "a ferro e fogo", prometeu depois de deixar o seu boletim de voto, que "tudo iria continuar sob controlo" e que não haveria "caos".

A oposição combinava entretanto manifestações após o encerramento das urnas e apesar de muitos sites e redes sociais estarem inacessíveis ou mesmo bloqueadas.

O regime começou a preparar a repressão dias antes, e reforçou a capital com forças militares.

Ao longo de todo o dia, as forças de segurança vigiavam as principais entradas de Minsk e a circulação na capital estava condicionada. Nalguns locais estratégicos foram colocados carros armados e militares, e os edifícios públicos foram cercados com barreiras metalizadas, na antecipação de confrontos.


Também no sábado, o regime tentou impor um clima de medo nas ruas. Mais de 1300 pessoas foram detidas nos últimos meses e nem o fato de se estar nas vésperas do escrutínio foi excepção, como ficou documentado nas redes sociais.

Mal encerraram as urnas, as detenções, aparentemente arbitrárias, recomeçaram.



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