Benalla acusado de ainda se fazer passar por guarda-costas de Macron

por Joana Raposo Santos - RTP
Benalla viajou até Chade para, alegadamente, se reunir com o irmão do Presidente desse país africano Philippe Wojazer - Reuters

Alexandre Benalla, ex-guarda-costas de Emmanuel Macron que no 1º de maio foi filmado a agredir manifestantes, está agora a ser investigado por alegadamente ter utilizado o anterior cargo para benefício próprio durante uma viagem ao Chade. Benalla já negou as acusações, mas o Eliseu continua a garantir que o antigo segurança deveria ter informado previamente a presidência acerca da viagem.

Cerca de duas semanas antes de Macron se ter deslocado ao Chade para visitar os militares franceses que se encontram na capital Jamena e para se encontrar com o homólogo Idriss Déby, Benalla também viajou até ao país africano.

De acordo com o diário francês Le Monde, Benalla chegou ao Chade num avião privado com outras seis pessoas e ficou hospedado no hotel de luxo Hilton, de onde saiu a 4 de dezembro para apanhar um voo comercial.

Alegadamente, o antigo segurança esteve reunido durante duas horas com o irmão do Presidente chadiano, Oumar Déby, líder da Direção Geral da Reserva Estratégica do país e principal aliado da França em operações anti-jihadistas na região africana de Sahel.

Segundo o Eliseu, Macron fez questão de esclarecer junto do Presidente Idriss Déby, no passado sábado, que Alexandre Benalla não era, “de forma alguma”, representante ou intermediário do Governo francês.

“Apenas o ministro dos Negócios Estrangeiros, o assessor diplomático do Presidente e o assessor da presidência em África podem representar o Chefe de Estado” em terreno africano, esclareceu.

O Eliseu também frisou que a presidência “já não tem qualquer contacto” com Benalla e que “está em curso uma investigação interna” para determinar se o ex-segurança “utilizou o antigo título” para seu benefício.
“Chocado e indignado”
Benalla já reagiu às declarações do Eliseu, esclarecendo que tinha dado conhecimento ao Governo “na semana passada” acerca da viagem a Chade, informando ainda que se fez acompanhar de uma “delegação económica estrangeira para discutir investimentos” e que “todas as despesas da viagem foram suportadas pelo chefe dessa delegação”.

“Estou particularmente chocado e indignado com as observações irresponsáveis feitas pelo Eliseu, que insinuou que utilizei um cargo, um título ou um poder nas minhas viagens a África com o objetivo de fazer pedidos a nível profissional”, declarou Benalla.

Esta quarta-feira, a presidência francesa frisou que Benalla apenas recentemente comunicou que tinha efetuado a viagem, já depois de ter regressado do país africano, quando deveria tê-lo feito antes de se ter deslocado até ao mesmo.

Informou ainda que “mantém as declarações prévias”, tendo em conta que não recebeu de Benalla “qualquer documento oficial ou não oficial” sobre a viagem.

Esta não é a primeira vez que Benalla surge associado a viagens internacionais misteriosas. Desde que foi forçado a abandonar o cargo de guarda-costas do Presidente, já se reuniu por várias ocasiões em Londres com o empresário francês Alexandre Djouhri, antigo confidente de Nicolas Sarkozy que em janeiro foi detido e que aguarda agora extradição para França.
“Sou impulsivo, mas não violento”
O episódio das agressões do 1.º de maio, em Paris, foi considerado um dos mais marcantes da presidência de Emmanuel Macron. O então guarda-costas foi filmado a agredir manifestantes aparentemente calmos enquanto utilizava equipamentos policiais.

Após o sucedido, Macron suspendeu Benalla por duas semanas, permitindo depois que este regressasse ao seu cargo.

Face à pressão, o Presidente francês acabou por despedir Benalla, que chegou mesmo a ser detido para interrogatório. O antigo segurança afirmou, na altura, que apenas atirou um dos jovens manifestantes ao chão, mas que não o agrediu. “Sou impulsivo, mas não violento”, garantiu.

Benalla encontra-se atualmente a ser investigado por “violência voluntária”, “porte proibido de insígnias reguladas por autoridades públicas”, nomeadamente o capacete da polícia que utilizava no momento das agressões, e por manipulação de “imagens de um sistema de videovigilância”.
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