Biden dramatiza discurso. O mundo enfrenta "uma hora negra" com a guerra na Ucrânia

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Yuichi Yamazaki - EPA

O presidente norte-americano declarou esta terça-feira que o mundo está a atravessar “uma hora negra na nossa história” com a invasão russa da Ucrânia. As observações de Joe Biden foram proferidas no âmbito dos encontros mantidos com os parceiros do Japão, Índia e Austrália. Estas quatro nações constituem o Quad, grupo nascido na ressaca do tsunami de 2004.

Esta terça-feira, no seu discurso de abertura dos trabalhos da cimeira, Biden sublinhou que o tema desta reunião era a questão das “democracias versus autocracias” e que a preocupação era apontar o azimute na rota correta.

Nesse sentido, Biden prometeu o empenho dos Estados Unidos em trabalhar com os seus aliados para liderar uma resposta global, reiterando o compromisso de defender a ordem e a soberania internacionais “independentemente das regiões onde sejam violadas”. Acrescentou a determinação de Washington em manter-se como “um parceiro forte e duradouro” na região do Indo-Pacífico.
Biden está a realizar uma série de encontros com os líderes destes países em Tóquio, neste que é o seu primeiro périplo pela Ásia enquanto líder máximo da Casa Branca. Uma deslocação que acontece em plena guerra da Ucrânia.

O mundo “navega numa hora negra na nossa história” com a invasão russa da Ucrânia, disse o presidente aos aliados asiáticos. A guerra tornou-se agora numa “questão global”, sendo vital a defesa da ordem internacional, disse Joe Biden.

“Com a Rússia a prosseguir nesta guerra, nós seremos parceiros e lideraremos uma resposta global. Isto é mais do que uma questão europeia, é uma questão global”, declarou o presidente norte-americano.

Biden seria secundado pelo primeiro-ministro japonês, com Fumio Kishida a acrescentar que “não podemos permitir que uma coisa semelhante aconteça no Indo-Pacífico”.

O discurso de Biden sofre aqui uma dramatização no dia em que atingimos os três meses do conflito na Ucrânia e 24 horas depois de o presidente deixar um recado a Pequim quando afirmou que os Estados Unidos estavam preparados para responder pela via militar a uma eventual incursão chinesa na ilha de Taiwan. Nas palavras de Joe Biden, uma decisão que seria vista por Washington como “não apropriada”, em tudo semelhante aos desenvolvimentos na Ucrânia.A agenda do Quad contempla questões de segurança e economia e não deixa de parte a crescente influência da China na região. Encurtamento da designação Diálogo de Segurança Quadrilateral, o Quad é um fórum estratégico informal entre Estados Unidos, Japão, Austrália e Índia que se mantém mais ou menos ativo desde 2007 através de cimeiras esporádicas, troca de informações e exercícios militares conjuntos.


Biden quis deixar claro o “compromisso” de Washington nesta matéria, mas não ficaria sem resposta da parte chinesa, com Pequim a aconselhar os Estados Unidos a não subestimarem a determinação chinesa na proteção da sua soberania.
Na realidade, tratou-se de uma declaração que apanhou de surpresa membros da própria Administração. Aqueles que estavam presentes na conferência de imprensa não esconderam o incómodo face às palavras de Joe Biden, que se afastavam da posição conservadora dos Estados Unidos face à questão de Taiwan.

A Casa Branca viria depois procurar corrigir o sentido da declaração do presidente: “Como disse o presidente, a nossa política de Uma Só China não mudou (…) Ele sublinhou o compromisso dos EUA ao abrigo da Lei de Relações de Taiwan “para ajudar a fornecer a Taiwan os meios para se defender”.
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