O primeiro-ministro britânico foi fiel ao seu estilo peculiar esta tarde, quando lhe perguntaram se podia prometer ao povo do Reino Unido que não iria a Bruxelas pedir novo adiamento do Brexit. "Sim, posso. Preferia estar morto numa valeta", respondeu peremptório Boris Johnson.
"Não se irá conseguir absolutamente nada. Para que servem mais atrasos", acrescentou aos jornalistas, momentos após um discurso perante uma esquadra no norte de Inglaterra.
"Devemos sair da União Europeia a 31 de outubro", martelara, diante dos polícias de Yorkshire.
Para Johnson, seriam preferíveis novas eleições. "Não há outro caminho para o nosso país", insistiu.
O primeiro-ministro talvez espere desta forma recuperar a maioria recém-perdida no Parlamento e adquirir legitimidade para a saída sem acordo no final de outubro.
O atual Governo vai apresentar na próxima-segunda-feira uma nova moção sobre a organização deste novo escrutínio, na véspera da suspensão do Parlamento decretada a semana passada.
Será a segunda tentativa de Boris Johnson para convocar eleições antecipadas, depois dos deputados britânicos terem rejeitado quarta-feira a sua proposta de eleições a 15 de outubro, duas semanas antes da data fatídica.
Palavra aos TrabalhistasPara ser aprovada, a moção terá de recolher dois terços dos votos dos deputados. Depende assim do apoio dos Trabalhistas, liderados por Jeremy Corbyn e principal partido da oposição.
A possibilidade existe, desde que a proposta de lei que impõe um adiamento do Brexit, e que deverá ser votada até dia nove de setembro, seja promulgada.
"O problema é que não temos confiança alguma na hipótese de Boris Johnson respeitar um compromisso ou um acordo que possamos concluir", explicou John McDonnel, peso pesado nos Trabalhistas, à BBC.
Para Johnson, as eleições terão de se realizar a tempo de decidir que primeiro-ministro irá à cimeira europeia marcada para 17 e 18 de outubro.
"Querem Jeremy Corbyn, com o seu plano de prolongar, para finalmente ficar na União Europeia... Ou querem quem ponha em marcha o Brexit?", perguntou o primeiro-ministro esta tarde.
O próprio Johnson sabe do que fala. Numa semana de reveses para o primeiro-ministro, teve de ver o seu irmão, Jo Johnson, pedir demissão do Executivo, assim como do Parlamento.
Na rede Twitter, Jo
Johnson, que votou pela manutenção da Grã-Bretanha na União Europeia em
2016, disse que ia colocar "o interesse nacional" acima da "lealdade
familiar".
"Saibam dizer-nos o que querem"
Mesmo as intenções da maioria dos deputados, de conseguir novo adiamento do Brexit, inicialmente previsto para 29 de março
passado, não têm garantia de sucesso.
O pedido terá de ser aprovado por unanimidade pelos 27 Estados membros
da União Europeia e não há sinais de que seja do interesse da UE.
A secretária de estado francesa dos Negócios Estrangeiros, Amélia de Montchalin, considerou à agência France Press que um tal adiamento não irá mudar nada "no problema".
É preciso que os britânicos "saibam dizer-nos o que querem", acrescentou.
Boris Johnson mantém-se convencido de que será possível chegar a um acordo com a UE até fim de outubro, mesmo se no Parlamento Europeu se lembra que não estão em curso quaisquer negociações, mesmo se a porta se mantém aberta.