Bolsonaro sobre o Covid-19: "O povo saberá que foi enganado"

por Joana Raposo Santos - RTP
O Brasil soma já 1.620 casos de Covid-19, dos quais apenas duas pessoas recuperaram, e 25 mortes. Foto: Ueslei Marcelino - Reuters

O presidente brasileiro acusou a comunicação social e governadores de enganarem a população sobre os perigos do novo coronavírus, numa altura em que o número de infeções continua a aumentar no Brasil. A reação de Jair Bolsonaro à crise pandémica tem sido alvo de críticas e no domingo, pela sexta noite consecutiva, cidadãos de várias cidades brasileiras foram às janelas bater tachos em protesto.

“Brevemente o povo saberá que foi enganado pelos governadores e por grande parte da media nessa questão do coronavírus”, argumentou Bolsonaro no domingo, numa entrevista à Record TV.

Para o presidente, “estes vírus acontecem ao longo do tempo no mundo todo”, pelo que há que manter a calma, estimando ainda que o número de mortos por coronavírus no país deverá ser inferior a 800, número de vítimas mortais da gripe A no ano passado no Brasil.


“Não temos que entrar em pânico. Isso nós vamos viver”, declarou, acrescentando que o Brasil não pode ser comparado com os países europeus mais afetados pelo novo coronavírus. “Sabe quantos habitantes temos por quilómetro quadrado na Itália? São 200 habitantes por quilómetro quadrado, na Alemanha são 230, no Brasil 24. Há uma diferença enorme entre esses países”, frisou.

Jair Bolsonaro esclareceu, porém, que o Governo brasileiro tem comprado equipamentos hospitalares e realizado videoconferências com presidentes da Câmara e ministros, nomeadamente o da Saúde - que na semana passada alertou para a possibilidade de o sistema de saúde no Brasil poder colapsar até ao final de abril.
“Não estou preocupado com a minha popularidade”
Quanto aos chamados “panelaços” (protestos em que pessoas batem tachos às janelas) que nas últimas seis noites têm acontecido em várias cidades brasileiras devido à atitude de Bolsonaro face à pandemia, o presidente disse não estar “preocupado”.

“Não estou preocupado com a minha popularidade”, garantiu. “Esses panelaços foram incentivados pela TV Globo (…) entre outros órgãos da imprensa. É uma campanha deslavada, é uma campanha descomunal, absurda contra o chefe de Estado”.

Os “panelaços” intensificaram-se depois de, na semana passada, o presidente ter saído da sua residência após ter sido aconselhado a permanecer em quarentena domiciliária por ter estado em contacto com ministros que estavam contagiados.
Governadores são “exterminadores de emprego”, diz Bolsonaro
Jair Bolsonaro aproveitou ainda a entrevista à Record TV para lançar críticas aos governadores brasileiros que estão a impor quarentenas aos cidadãos de várias cidades como precaução, numa altura em que os casos de Covid-19 no país continuam a aumentar.

“Mais importante que a economia é a nossa vida, mas nós não podemos extrapolar na dose”, considerou, acrescentando que com o desemprego a aumentar “a catástrofe será maior”.

Para o chefe de Estado, os governadores que o têm criticado por não levar a sério o novo coronavírus e que estão a alargar as medidas de contenção são “verdadeiros exterminadores de emprego”, algo que representa uma “crise bem pior do que a do coronavírus”.

“Senhores governadores, sejam responsáveis e espero que mais à frente não queiram me culpar pela quantidade de milhões e milhões de desempregados”, apelou. O Brasil soma já 1.620 casos de Covid-19, dos quais apenas duas pessoas recuperaram, e 25 mortes.

De acordo com o jornal brasileiro Folha de São Paulo, numa entrevista esta segunda-feira, Bolsonaro desvalorizou uma sondagem segundo a qual outros governadores e o Ministério da Saúde tiveram melhor avaliação por parte dos cidadãos no que diz respeito à forma como têm lidado com a crise do novo coronavírus.

De acordo com essa sondagem, realizada pelo instituto Datafolha, a gestão da pandemia por Bolsonaro foi aprovada por 35 por cento dos inquiridos, enquanto outros governadores viram uma aprovação de 54 por cento. O Ministério brasileiro da Saúde obteve 55 por cento.

Na semana passada, Bolsonaro defendeu que existia uma “histeria” em torno da Covid-19 e que as medidas tomadas por alguns governadores para travar o surto iriam “prejudicar e muito” a economia brasileira.
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