Boris Johnson. "Graves consequências" para a democracia se não houver Brexit

por Graça Andrade Ramos - RTP
Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, durante o seu discurso final na Convenção Anual do Partido Conservador, a 2 de outubro de 2019 Reuters

Entre críticas aos trabalhistas e a todos os que querem anular o Brexit, Boris Johnson deixou na Convenção Anual do Partido Conservador, em Manchester, garantias de que este irá dar-se, "aconteça o que acontecer".

O primeiro-ministro britânico fez avisos quanto às consequências "graves" de não ser cumprida a vontade expressa no referendo de 2016.

"Receio que, depois de três anos e meio, as pessoas começem a sentir que estão a ser tomadas por idiotas. Comecem a suspeitar que há forças neste país que simplesmente não querem que o Brexit se dê", acusou Johnson.

"E, se por acaso estiverem certas nesta suspeita, então acredito que haverá consequências graves para a confiança na democracia", considerou.

"Aquilo que as pessoas querem, o que os da saída [da UE] querem, os que querem ficar [na UE] querem, o que o mundo inteiro quer - é encerrar o assunto de forma calma e sensata e seguir em frente", afirmou.

"E é por isso que vamos deixar a União Europeia a 31 de outubro, suceda o que suceder".

"Conferência, vamos fazer o Brexit", desafiou.
Um esboço de ideias
"Hoje, em Bruxelas, iremos colocar sobre a mesa aquilo que acredito serem propostas construtivas e razoáveis. Que oferecem um compromisso a ambas as partes", prometeu Johnson.
Já durante a manhã, várias reações europeias expressaram a recusa das ideias veiculadas na imprensa quanto às propostas que Johnson se prepara para apresentar.

"Sob nenhuma circunstância iremos ter controlos perto no ou perto da fronteira da Irlanda do Norte. Iremos respeitar o processo de paz e o Acordo de Sexta-feira Santa", garantiu ainda.

Ideias concretas não foram referidas. Apenas promessas de que os orgãos executivos da província irlandesa serão respeitados, ao contrário do que alguns rumores previram, durante o verão.

"Através de um processo de consentimento democrático renovável pelo executivo e pela Assembleia da Irlanda do Norte, iremos mais longe e proteger os atuais acordos de regulação para os agricultores e outros negócios em ambos os lados da fronteira", garantiu o primeiro-ministro.

"Ao mesmo tempo, iremos permitir ao Reino Unido - inteiro como um todo - deixar a UE, com o controlo da nossa política comercial desde o início. E para proteger a união. E sim, esse é um compromisso do Reino Unido", garantiu Johnson.
 
O empecilho
Face a Bruxelas, Boris Johnson assumiu uma postura algo trocista, ao referir como "uma questão técnica" o problema do backstop - exigido pela União Europeia para garantir o controlo da troca de mercadorias e rejeitado liminarmente pelo Parlamento britânico.

O primeiro-ministro britânico expressou o desejo de que os "nossos amigos" europeus aceitem um compromisso.

"Porque, se não conseguirmos chegar a acordo, devido ao que é essencialmente uma discussão técnica sobre futuros controlos aduaneiros quando essa tecnologia está em constante evolução, então não tenhamos dúvidas de que a alternativa é não existir acordo", afirmou.

"Esse não é o resultado que pretendemos. Não é de maneira nenhuma aquilo que procuramos. Mas deixem-me dizer nesta conferência, é um resultado para o qual estamos preparados".

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, já alertou para as "consequências catastróficas" se não houver acordo para o Brexit.
Oportunidades do Brexit
"Realizemos o Brexit a 31 de outubro", convidou Johnson, defendendo depois a sua dama ao lembrar "as oportunidades que o Brexit irá trazer, não só para recuperar o controlo do nosso dinheiro e das nossas fronteiras e das nossas leis."

Para, entre vários exemplos, o Reino Unido "regulamentar de forma diferente e melhor", e "assumirmos o nosso lugar como um defensor global do comércio livre, orgulhoso e independente", referiu ainda.

"Adiar é tão inútil e caro. Vamos faze-lo [o Brexit] porque precisamos de construir a nossa nova parceira positiva com a União Europeia", sublinhou Johnson, afirmando logo depois que os conservadores e os britânicos são pró-europeus.

"Nunca é demais sublinhar que este não é um partido antieuropeu e este não é um país antieuropeu. Nós amamos a Europa. Somos europeus. Pelo menos, "eu amo a Europa""
, referiu, provocando um aplauso hesitante da plateia.
Capitalistas
No seu discurso perante os participantes na Convenção dos conservadores, mas igualmente a todos os britânicos, Boris Johnson prometeu ainda fazer "crescer a economia britânica".

O que será feito "através do aumento da produtividade em todo o Reino Unido", propos, repetindo algumas ideias de discursos anteriores e fazendo a apologia do capitalismo.

O objetivo, afirmou Johnson, será alcançado "não com socialismo, não com planos loucos e perigosos tomados de empréstimo de uma revolução bolivariana venezuelana, mas com a criação de uma plataforma económica para um mercado capitalista livre e dinâmico".

"Sim ouviram bem, capitalismo
- e qual foi a última vez que ouviram um líder conservador falar em capitalismo. Somos o partido do SNS precisamente porque somos o partido do capitalismo," referiu o líder do Partido Conservador.

A renovação do Serviço Nacional de Saúde britânico, investimentos nos serviços de educação e para a juventude, zero tolerância para com gangs de tráfico de droga e para com a violência ou de internet mais rápida, foram outras garantias e promessas deixadas por Boris Johnson.
pub