Brexit. Boris Johnson diz a Tusk não querer extensão do prazo

por Graça Andrade Ramos - RTP
Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, à saída do nº10 de Downing Street, dia 23 de outubro de 2019 Reuters

Num momento em que os líderes europeus tentam decidir se darão ou não mais tempo ao Reino Unido para votar o Acordo para o Brexit, negociado a semana passada, o próprio primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, veio dizer que não está interessado numa nova extensão do prazo.

De acordo com o porta-voz de Johnson, o primeiro-ministro britânico acredita ainda que será capaz de fazer passar na Câmara dos Comuns o texto do acordo até ao fim do mês.

"Essa foi a mensagem transmitida ao [presidente do Conselho Europeu] Donald Tusk, esta manhã", explicou o porta-voz. "É muito claro que o público quer isto resolvido ... Quer o Brexit concluído...", acrescentou.

"Para nós é claro que gostaríamos de ter o Brexit resolvido a 31 de outubro", data prevista para o Brexit, concluiu o porta-voz.

O primeiro-ministro britânico garantiu igualmente à chanceler alemã, Angela Merkel, durante um telefonema esta tarde, que uma nova extensão do prazo não vai ser necessária.

Boris Johnson sempre defendeu a saída no final deste mês, com ou sem acordo, apesar de os deputados britânicos terem aprovado uma lei que proíbe um divórcio à bruta.

O mais recente texto, concluído quinta-feira 17 de outubro entre o Reino Unido e os negociadores europeus, foi aprovado no mesmo dia pelos líderes da UE, mas tem ainda de obter a aprovação dos deputados britânicos.

Se, terça-feira, a proposta de lei sobre o acordo foi aprovada, para discussão, o mapa de três dias, requerido pelo Governo britânico para debater a necessária legislação para implementar o acordo, foi rejeitado.

A oposição exige mais tempo para estudar as disposições acordadas com Bruxelas.

A extensão do Brexit parece assim inevitável, apesar da confiança de Boris Johnson.
Extensão ok, mas...
Donald Tusk pediu aos líderes europeus para não se oporem a um pedido nesse sentido por parte do Reino Unido, e o Presidente do Parlamento Europeu ecoou o pedido.

Proporei um procedimento escrito", precisou David Sassoli na publicação na sua conta na rede social Twitter.

A França já admitiu conceder mais alguns dias e a Alemanha também não irá opor-se ao prolongamento do prazo.

"Não posso antecipar o resultado das consultas", afirmou em conferência de imprensa o porta-voz da chanceler Angela Merkel, Steffen Seibert.

"Mas posso dizer em nome do Governo federal, que a Alemanha não irá bloquear uma extensão", acrescentou.

Garantido o acordo dos dois pesos pesados da Europa à extensão, fica por saber o período e condições sob as quais poderá ser concedida.

Em cima da mesa está uma possível extensão de três meses, ou mais cedo, caso os britânicos consigam estabelecer a necessária legislação mais rapidamente.

Uma hipótese que deverá esbarrar na oposição francesa, com Paris disposta a conceder apenas "mais alguns dias" ao prazo já estabelecido.

"Até janeiro, como algumas pessoas dizem, não é possível", reagiu Pieyre-Alexandre Anglade, deputado do Parlamento francês que rege os assuntos europeus para o partido do Presidente Emmanuel Macron.

A França já se opôs às duas extensões concedidas ao Reino Unido pelos 27 este ano. De ambas as vezes, Paris acabou por recuar nas suas exigências. Qualquer extensão necessita do acordo unânime dos líderes europeus.
Reunião sexta-feira
O primeiro-ministro da República da Irlanda, Leo Varadkar, afirmou esta quarta-feira que, se os líderes não conseguirem um acordo quanto à extensão através de contactos com Donald Tusk, será provavelmente necessário reunirem-se segunda-feira, ou até já sexta-feira.

"Se houver consenso, poderemos fazer isto através de um processo escrito. Se não houver, então teremos de combinar um encontro do Conselho Europeu, possivelmente na próxima segunda-feira, talvez até mesmo na sexta-feira, para debater a atribuição ou não de uma extensão, por quanto tempo e sob que condições", afirmou Varadkar ao Parlamento irlandês.

"Certamente, o Governo da Irlanda sempre disse que quer evitar o risco de um não acordo e essa é aposição que iremos assumir. Os deputados irão lembrar-se de que a extensão concedida à [ex] primeira-ministra [Theresa] May, foi aquilo que chamamos uma extensão flexível", disse ainda Varadkar.

"Espero que o Parlamento [britânico] proceda agora com relativa rapidez para concluir este acordo de saída", rematou.

"As minhas malas estão sempre feitas para ir a Bruxelas, e estão-no de novo", garantiu.
Eleições antecipadas
A serem concedidos os três meses, o primeiro-ministro Boris Johnson já disse que, se for forçado a pedir essa extensão, irá empurrar o Reino Unido para novas eleições, as quais poderão realizar-se até ao Natal, numa tentativa de conseguir um Parlamento que aprove o acordo para o Brexit.

A análise do correspondente da Antena 1 em Londres, Bruno Manteigas.

A realização de um novo escrutínio terá de ser aprovada pelo principal partido da oposição britânica, o Partido Trabalhista de Jeremy Corbyn.

Este já disse que estará disposto a apoiar novas eleições se a UE conceder uma nova extensão do prazo para o Brexit.
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