Mundo
Califado do Iraque e do Levante contra as "porcarias" do Ocidente
Com uma proclamação áudio difundida pela Internet, os jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) proclamaram no início do Ramadão o estabelecimento de um novo califado. Designaram o seu líder, Abu Bakr al-Bagdadi, como "novo Califa", cuja primeira mensagem foi um desafio e um apelo à rejeição do Ocidente. "Muçulmanos rejeitem e democracia, a laicidade, o nacionalismo e as outras porcarias do Ocidente. Regressem à vossa religião", disse al-Bagdadi.
O novo Califa afirmou que o território do Califado se estende "de Aleppo (no norte da Síria) até Diyala (leste do Iraque). Para reforçar a proclamação, o próprio EIIL passou a designar-se "Estado Islâmico".
O re-estabelecimento do Califado, uma estrutura regional e política desaparecida com o desmantelamento do Império Otomano, era um sonho antigo de Osama Bin Laden.
Um califa é sucessor do profeta Maomé como "emir dos crentes", podendo chamar todos os muçulmanos à guerra santa.
A ameaça é levada muito a sério no Ocidente, preocupado com o elevado número de jihadistas nascidos na Europa incluídos nas fileiras do EIIL e com um ressurgir da ameaça terrorista.


Os xiitas, o ramo rival dos sunitas no Islão, deverão reagir com firmeza contra o novo Califado, especialmente o Irão.
De Aleppo a Diyala
O território sírio incluído no Califado, administrado a partir de Raqqa, é já dominado em grande parte por grupos extremistas islâmicos, envolvidos na guerra civil da Síria desde há três anos.
No Iraque, o movimento conta com o apoio de várias tribos, de grupos salafitas e de ex-oficias dos tempos de Sadam Hussein. O domínio do EIIL estendeu-se por isso, desde janeiro, na província de al-Anbar, no oeste.

Desde nove de junho de 2014 novas áreas foram conquistadas numa ofensiva armada que apanhou de surpresa as forças de Bagdade. Abrangeu Mossul, a segunda maior cidade iraquiana, uma grande parte da província de Ninive (norte) e setores das províncias de Diyala (leste) Salaedine e Kirkuk (oeste) no Curdistão iraquiano.Ofensiva iraquiana
Com o apoio norte-americano e russo, Bagdade lançou domingo uma ofensiva na província de Salaedine, sobretudo para retomar Tikrit, e na qual participam milhares de soldados, apoiados por tanques e aviões. Controla ainda a auto-estrada que liga ao sul do país.
A Rússia entregou a Bagdade os primeiros cinco aparelhos de uma encomenda de vários aviões de combate Surkhoi os quais, de acordo com o ministério iraquiano da Defesa, deverão entrar em combate já nos próximos dias.
Os Estados Unidos enviaram 10 especialistas militares e drones para sobrevoarem Bagdade.
A comunidade internacional, incluindo países árabes moderados como a Jordânia, não reagiu de imediato à proclamação do Califado. Mas Damasco, Bagdade e, sobretudo, Teerão, capital do Irão xiita, deverão reagir em força, com ou sem apoio ocidental.
Apesar da proclamação, o EIIL está longe de garantir a posse dos territórios do Califado.
Enfrenta para já duas ofensivas, uma iraquiana, pelo sul e outra síria, estando a registar-se combates aguerridos junto à fronteira com o Iraque.
Perante a ofensiva iraquiana lançada este domingo, a guerra declarada deverá tornar-se um facto nos próximos dias.
Amer Kouzai, conselheiro de Maliki, afirmou à agência France Presse que atualmente existe "nitidamente mais perigo" para o Iraque do que durante a guerra entre os muçulmanos xiitas e sunitas de 2006/2007 que fez milhares de mortos.
Pelo menos um milhão de pessoas está em fuga dos territórios dominados pelo EIIL.
Nos próprios campos de refugiados e deslocados há confrontos por comida e água.
O início do Ramadão foi especialmente difícil num campo a 60 quilómetros de Irbil, capital do Curdistão iraquiano, com a polícia a ter de afastar milhares de pessoas que disputavam alimentos, apesar do mês ser dedicado ao jejum durante as horas de luz.


Ameaça de Jihad
A comunidade internacional acusa nomeadamente o primeiro ministro iraquiano Nouri al-Maliki, um xiita, de ser em parte responsável pela crise ao ter-se recusado a incluir os partidos sunitas no Governo iraquiano. Depois de recusar a ideia de um Governo de unidade nacional, Maliki terá cedido finalmente à ideia. O Parlamento iraquiano reúne-se terça-feira para iniciar o processo. Mas poderá ser demasiado tarde.De início o EIIL chamava-se Estado Islâmico no Iraque e era um ramo da al Qaida no Iraque. Após o seu envolvimento na guerra síria a partir de 2013 e perante a recusa de fusão do ramo sírio da al-Qaida, o grupo contestou abertamente a autoridade do líder da al-Qaida, Ayman al-Zawahiri. Estabeleceu a sua base principal na cidade de Raqqa, na Síria.
"O Estado Islâmico está já perfeitamente operacional no Iraque e na Síria. Está ainda presente - mas de forma escondida - no sul da Turquia, parece ter estabelecido uma presença no Líbano e tem apoiantes na Jordânia, em Gaza, no Sinai, na Indonésia, na Arábia Saudita e noutros lados" afirma o analista Charles Listar citado pela agência France Presse.
"Pode bem ser o nascimento de uma nova era do jihadismo transnacional" afirma Listar, acrescentando que o papel da al Qaida como líder da causa jihadista mundial poderá ser assumido pelo novo Califado.
Al-Bagdadi, afirma Lister, poderá a partir de agora ordenar operações para além das fonteiras sírias e iraquianas, "talvez na Jordânia ou na Arábia Saudita". "E podemos esperar um aumento da violência no Iraque já a partir de hoje".
O re-estabelecimento do Califado, uma estrutura regional e política desaparecida com o desmantelamento do Império Otomano, era um sonho antigo de Osama Bin Laden.
Um califa é sucessor do profeta Maomé como "emir dos crentes", podendo chamar todos os muçulmanos à guerra santa.
A ameaça é levada muito a sério no Ocidente, preocupado com o elevado número de jihadistas nascidos na Europa incluídos nas fileiras do EIIL e com um ressurgir da ameaça terrorista.
Os xiitas, o ramo rival dos sunitas no Islão, deverão reagir com firmeza contra o novo Califado, especialmente o Irão.
De Aleppo a Diyala
O território sírio incluído no Califado, administrado a partir de Raqqa, é já dominado em grande parte por grupos extremistas islâmicos, envolvidos na guerra civil da Síria desde há três anos.
No Iraque, o movimento conta com o apoio de várias tribos, de grupos salafitas e de ex-oficias dos tempos de Sadam Hussein. O domínio do EIIL estendeu-se por isso, desde janeiro, na província de al-Anbar, no oeste.
Desde nove de junho de 2014 novas áreas foram conquistadas numa ofensiva armada que apanhou de surpresa as forças de Bagdade. Abrangeu Mossul, a segunda maior cidade iraquiana, uma grande parte da província de Ninive (norte) e setores das províncias de Diyala (leste) Salaedine e Kirkuk (oeste) no Curdistão iraquiano.Ofensiva iraquiana
Com o apoio norte-americano e russo, Bagdade lançou domingo uma ofensiva na província de Salaedine, sobretudo para retomar Tikrit, e na qual participam milhares de soldados, apoiados por tanques e aviões. Controla ainda a auto-estrada que liga ao sul do país.
A Rússia entregou a Bagdade os primeiros cinco aparelhos de uma encomenda de vários aviões de combate Surkhoi os quais, de acordo com o ministério iraquiano da Defesa, deverão entrar em combate já nos próximos dias.
Os Estados Unidos enviaram 10 especialistas militares e drones para sobrevoarem Bagdade.
A comunidade internacional, incluindo países árabes moderados como a Jordânia, não reagiu de imediato à proclamação do Califado. Mas Damasco, Bagdade e, sobretudo, Teerão, capital do Irão xiita, deverão reagir em força, com ou sem apoio ocidental.
Apesar da proclamação, o EIIL está longe de garantir a posse dos territórios do Califado.
Enfrenta para já duas ofensivas, uma iraquiana, pelo sul e outra síria, estando a registar-se combates aguerridos junto à fronteira com o Iraque.
Perante a ofensiva iraquiana lançada este domingo, a guerra declarada deverá tornar-se um facto nos próximos dias.
Amer Kouzai, conselheiro de Maliki, afirmou à agência France Presse que atualmente existe "nitidamente mais perigo" para o Iraque do que durante a guerra entre os muçulmanos xiitas e sunitas de 2006/2007 que fez milhares de mortos.
Pelo menos um milhão de pessoas está em fuga dos territórios dominados pelo EIIL.
Nos próprios campos de refugiados e deslocados há confrontos por comida e água.
O início do Ramadão foi especialmente difícil num campo a 60 quilómetros de Irbil, capital do Curdistão iraquiano, com a polícia a ter de afastar milhares de pessoas que disputavam alimentos, apesar do mês ser dedicado ao jejum durante as horas de luz.
Ameaça de Jihad
A comunidade internacional acusa nomeadamente o primeiro ministro iraquiano Nouri al-Maliki, um xiita, de ser em parte responsável pela crise ao ter-se recusado a incluir os partidos sunitas no Governo iraquiano. Depois de recusar a ideia de um Governo de unidade nacional, Maliki terá cedido finalmente à ideia. O Parlamento iraquiano reúne-se terça-feira para iniciar o processo. Mas poderá ser demasiado tarde.De início o EIIL chamava-se Estado Islâmico no Iraque e era um ramo da al Qaida no Iraque. Após o seu envolvimento na guerra síria a partir de 2013 e perante a recusa de fusão do ramo sírio da al-Qaida, o grupo contestou abertamente a autoridade do líder da al-Qaida, Ayman al-Zawahiri. Estabeleceu a sua base principal na cidade de Raqqa, na Síria.
"O Estado Islâmico está já perfeitamente operacional no Iraque e na Síria. Está ainda presente - mas de forma escondida - no sul da Turquia, parece ter estabelecido uma presença no Líbano e tem apoiantes na Jordânia, em Gaza, no Sinai, na Indonésia, na Arábia Saudita e noutros lados" afirma o analista Charles Listar citado pela agência France Presse.
"Pode bem ser o nascimento de uma nova era do jihadismo transnacional" afirma Listar, acrescentando que o papel da al Qaida como líder da causa jihadista mundial poderá ser assumido pelo novo Califado.
Al-Bagdadi, afirma Lister, poderá a partir de agora ordenar operações para além das fonteiras sírias e iraquianas, "talvez na Jordânia ou na Arábia Saudita". "E podemos esperar um aumento da violência no Iraque já a partir de hoje".