Caso Stormy Daniels. Donald Trump acusado de 34 crimes de falsificação

por Graça Andrade Ramos - RTP
Uma imagem para a história. Donald Trump na sala de audiências do tribunal de Manhattan, Nova Iorque. Pela primeira vez um ex-presidente dos Estados Unidos foi presente a juiz Andrew Kelly - Reuters

O ex-presidente dos Estados Unidos conheceu esta tarde a acusação de que é alvo no caso do suborno de uma atriz pornográfica, Stormy Daniels, com quem terá passado uma noite em 2006. Donald Trump terá pago para que ela não divulgasse o caso durante a campanha presidencial de 2016.

O suborno em si não foi alvo de investigação mas sim a suspeita de fraude fiscal, por aquele ter sido justificado como despesa de campanha.

O ex-presidente soube esta tarde que está acusado de 34 crimes de falsificação de contas bancárias. Ele próprio se afirmou inocente quando questionado pelo juiz Juan Merchan, que lidera o processo.

De acordo com a imprensa norte-americana, Trump é acusado de ter pago o silêncio a duas mulheres em plena campanha presidencial de 2016 e de ter falsificado diversas declarações, incluindo de impostos, para ocultar esses factos. Ao contrário do que foi inicialmente divulgado, o ex-presidente não foi acusado de conspiração para ocultar estes crimes.

O processo inclui 16 páginas, apresentadas a Trump e à sua equipa de advogados. Trump deverá regressar ao tribunal dia quatro de dezembro, tendo o juiz decido não lhe impôr silêncio.

Antes de chegar ao tribunal o ex-presidente reagiu nas redes sociais. "É surreal. Não acredito que isto está a acontecer na América", escreveu.

Palavras ecoadas pelo seu advogado, Todd Blanche, logo após a audiência. "É um dia triste", afirmou, acrescentando que não foi surpreendido pelas acusações. O seu cliente, revelou, "está frustrado" e "transtornado".
Silêncio para já
Alguns observadores esperavam que Trump dissesse algumas palavras antes de entrar para a audiência e após sair, tendo sido providenciado um microfone, mas tal não sucedeu. Comentadores especularam que a equipa de advogados e a equipa de comunicação do antigo presidente não estejam de acordo, mas que Trump estará a seguir os conselhos jurídicos.

Fiel ao seu próprio estilo, Trump publicou um texto contra o juiz presidente, Juan Merchan, que foi entregue pelos procuradores durante a audiência. Nessa publicação, o agora acusado colocou em causa a imparcialidade de Merchan.

A audiência durou cerca de 30 minutos e Trump foi transportado logo depois para o Aeroporto de La Guardia, para regressar à Florida. No total a sua presença no tribunal de Manhattan durou duas horas.

O ex-chefe de Estado norte-americano só conheceu as acusações específicas de que é alvo nesta audiência, tendo entrado na sala para ser presente a juiz depois de lhe terem sido tiradas as impressões digitais para abertura processual.

Trump, de 76 anos, não terá sido fotografado, uma vez que os responsáveis pela sua campanha de recandidatura à nomeação pelo Partido Republicano, prometeram usar tais imagens no seu material publicitário.

A audiência preliminar desta tarde contou apenas com a presença inicial de cinco fotógrafos, não sendo autorizados quaisquer televisões ou dispositivos eletrónicos.
Acusado
Um grande júri do tribunal de Manhattan decidiu na semana passada acusar o ex-presidente, após uma investigação liderada pelo procurador Alvin Bragg, um democrata. Qualquer julgamento só deverá ter lugar dentro de provavelmente um ano.

Trump é o primeiro antigo presidente dos Estados Unidos a ser detido. Mesmo sendo acusado e até indiciado, continua a poder recandidatar-se ao mais alto cargo da nação. Afirma-se vítima de perseguição política.

Apesar dos receios, não se registaram conflitos entre a multidão de apoiantes e de detratores que se juntou além do perímetro de segurança formado por 35.000 polícias em torno do tribunal de Manhattan.

Uma conhecida apoiante de Trump, a representante Marjorie Taylor Greene, foi forçada a abandonar à pressa o local quando tentou usar um megafone para se dirigir à multidão, tendo sido abafada por um coro de apitos soprados por detratores do ex-presidente.

Também outro lealista de Trump, o representante George Santos, foi visto por breves momentos junto ao tribunal, antes de abandonar o local.
Joe Biden distancia-se
Donald Trump mantém popularidade e lidera a corrida sobre os outros pretendentes à nomeação republicana à presidência com uma maioria confortável.

De acordo com uma sondagem Reuters/Ipsos divulgada esta segunda-feira, cerca de 48 por cento dos republicanos afirmam que querem ter Trump como seu candidato, acima dos 44 por cento na semana passada. O principal concorrente do ex-presidente, o governador de Florida Ron DeSantis caiu nas preferências dos 30 para os 19 por cento.

Mesmo sem saber se lhe seriam aplicadas medidas de coação, Donald Trump marcou uma conferência de imprensa ainda esta terça-feira na Florida, pelas 18h00 locais.

O caso Stormy Daniels é apenas o primeiro de uma série de processos judiciais e investigações criminais que correm contra o ex-presidente norte-americano.

A Casa Branca afirmou esta terça-feira que este caso "não é o foco" do presidente Joe Biden, que venceu o ex-presidente nas últimas eleições, uma vitória contestada por Trump e por muitos do seus apoiantes.
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