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"Causou grande dano". Igreja Luterana da Noruega pede desculpas à comunidade gay
A Igreja Luterana da Noruega pediu desculpas aos homossexuais, na quinta-feira, pelos danos que causou. O bispo presidente norueguês, Olav Fykse Tveit, considera "justo" que a Igreja assuma as suas responsabilidades pela "discriminação" e o "assédio" infligido que "nunca deveriam ter acontecido". De acordo com uma sondagem para a Igreja da Noruega, 65 por cento dos noruegueses consideram que "é hora" de a Igreja pedir desculpa à comunidade LGBTQ+.
"A igreja na Noruega causou vergonha, grande dano e dor às pessoas
LGBTQ+", afirmou o bispo presidente, Olav Fykse Tveit, na quinta-feira, num dos espaços LGBTQ+ mais proeminentes de Oslo. "Isso nunca deveria ter acontecido e é por isso que peço desculpas
hoje".
No seu discurso Olav Fykse Tveit recordou que, em 2022, "os bispos da Igreja da Noruega reconheceram que a instituição
que dirigimos infligiu sofrimento e feridas às pessoas homossexuais" e reconheceu que a "discriminação, o tratamento desigual e o assédio" levaram algumas pessoas a perder a fé. "É justo que assumamos as nossas responsabilidades como
Igreja e apresentemos as nossas desculpas", sublinhou.
À semelhança de muitas religiões em todo o mundo, a Igreja Luterana Evangélica marginalizou as pessoas LGBTQ+, recusando-se a permitir que se tornassem pastores ou se casassem na igreja. Na década de 1950, os bispos da Igreja da Noruega consideraram os homossexuais "um perigo social de proporções mundiais" e os seus atos "perversos e desprezíveis".
Com o tempo a Igreja da Noruega, a maior comunidade religiosa do país com 3,4 milhões de membros, adotou uma abordagem mais liberal, acompanhando lentamente a sociedade norueguesa que se tornou a segunda no mundo a permitir uniões entre pessoas do mesmo sexo, em 1993, e o primeiro país escandinavo a permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Em 2007, a Igreja da Noruega começou a aceitar
pastores homossexuais e, desde 2017, os casais do mesmo sexo podem
casar-se na igreja. Em 2023, Olav Fykse Tveit participou na Marcha do
Orgulho, uma estreia para a igreja.
O pedido de desculpas bispo presidente ocorreu no London Pub, um bar da comunidade gay de Oslo, que foi alvo do tiroteio de 2022 que fez dois mortos e deixou nove gravemente feridas durante as celebrações da Marcha do Orgulho de Oslo.
O autor do ataque, Zaniar Matapour, um norueguês de origem iraniana que jurou lealdade ao Estado Islmâmico, foi condenado a pelo menos 30 de anos de prisão pelos homicídios.
Um pedido de desculpa que chegou "tarde demais"
Stephen Adom, líder da Associação para a Diversidade de Género e Sexualidade na Noruega, considerou que o pedido de desculpas foi "forte e importante", mas chegou "tarde demais para aqueles entre nós que morreram de SIDA com o coração cheio de angústia porque a igreja considerava a epidemia um castigo de Deus".
"Observamos uma onda cristã conservadora e populista de direita a espalhar-se por todos os países. Nos Estados Unidos, na Hungria, mas também na Noruega, torna-se cada vez mais aceitável, entre os líderes religiosos e políticos, denegrir a diversidade humana de identidades e corpos", lamentou.
A líder de uma rede de lésbicas cristãs na Noruega e pastora homossexual, Hanne Marie
Pedersen-Eriksen, citado pelo Guardian descreveu o pedido de desculpas como "uma reparação importante" e um momento que "finalmente marcou o fim de
um capítulo sombrio na história da igreja".
Segundo uma sondagem realizada pelo instituto Opinion para a Igreja da Noruega, 65 por cento dos noruegueses consideram que "é hora" de a Igreja pedir desculpa aos homossexuais. Nos últimos anos, outras igrejas em Inglaterra, na Irlanda e no Canadá apresentaram pedidos de desculpas semelhantes.
c/ AFP