Charlie Hebdo. Principal suspeito admite ataque armado na antiga redação

por Joana Raposo Santos - RTP
O principal suspeito chegou a França há três anos como "menor não acompanhado" de nacionalidade paquistanesa. Charles Platiau - Reuters

O principal suspeito do ataque armado à entrada do edifício onde antes se encontrava a redação do jornal satírico Charlie Hebdo, na sexta-feira, confessou o crime durante o qual dois jornalistas foram esfaqueados. Trata-se de um homem paquistanês de 18 anos que chegou a Paris em 2017 enquanto menor não acompanhado.

O principal suspeito confessou que o alvo do ataque era o jornal satírico Charlie Hebdo. A informação foi avançada por uma fonte da France Info e já confirmada pela RTP.

Apesar de o local da atual redação ser secreto, o jovem paquistanês de 18 anos escolheu este sítio por ser simbólico e por terem sido republicados os desenhos que satirizavam o profeta Maomé. Prossegue agora o interrogatório ao autor.

Um segundo suspeito detido na sexta-feira numa estação de metro por suspeitas de ligação ao crime foi, entretanto, libertado. Depois de verificados todos os indícios e ouvidas várias pessoas, os investigadores concluíram que o argelino de 33 anos tinha sido apenas testemunha do ataque.

O principal suspeito chegou a França há três anos, enquanto menor não acompanhado, e foi na altura entregue à Segurança Social. Viveu numa residência do Estado até agosto, quando atingiu a maioridade.

Durante o interrogatório, o jovem terá demonstrado raiva devido à republicação dos cartoons pelo Charlie Hebdo, de acordo com a fonte consultada pela RTP.

Outras fontes ligadas à investigação informaram que este principal suspeito, que afirma ter nascido no Paquistão, "assumiu a responsabilidade pelo seu ato, colocando-o no contexto da republicação de caricaturas [do profeta Maomé pelo jornal], algo que não conseguia suportar".
"Foi claramente um ato de terrorismo"
Quase seis anos depois do ataque que deixou 12 pessoas mortas na redação do Charlie Hedbo, o edifício onde antes se situava a redação, nos arredores de Paris, foi novamente palco de um alegado atentado.

As vítimas – um homem e uma mulher –, que não estão em perigo de vida, são dois jornalistas da produtora televisiva Premieres Lignes, que ocupou os antigos escritórios do Charlie Hebdo em 2015, após o ataque em janeiro. Nessa altura, a equipa do Hebdo esvaziou os escritórios e trabalha agora a partir de uma localização secreta.

Desta vez, o principal suspeito - que agora admitiu o crime - é um homem de 18 anos de origem paquistanesa que foi detido perto do local do atentado. Seis outras pessoas com ligação a esse jovem foram também detidas para serem interrogadas. Os esfaqueamentos  ocorreram depois de o jornal Charlie Hebdo ter republicado cartoons com o profeta Maomé.

“Foi claramente um ato de terrorismo islamista”, considerou o ministro francês do Interior, Gérald Darmanin, que apontou ainda falhas às forças de segurança. O responsável do Governo acredita que a polícia subestimou o nível de ameaça naquela zona, numa altura em que decorria o julgamento dos atentados de 2015.

O prefeito da polícia justificou a decisão de não reforçar a segurança junto à antiga redação com o facto de não existirem indícios de qualquer ameaça concreta em torno do edifício.

Entretanto, a Procuradoria Nacional Anti-Terrorista de França (PNAT) abriu uma investigação, apontando a localização do ataque e a altura em que ocorreu como fatores-chave na suspeita de ato terrorista.
Aumento de segurança junto a sinagogas
Em entrevista à estação France 2 na noite de sexta-feira, o ministro francês do Interior descreveu os esfaqueamentos como “um novo ataque sangrento contra o nosso país, contra os jornalistas”.

“Foi na rua onde costumava ficar a redação do Charlie Hebdo. É desta forma que os terroristas islâmicos operam”, declarou, acrescentando que ordenou o reforço da presença de forças de segurança junto a sinagogas este fim de semana para o Yom Kippur, o dia mais sagrado do calendário judaico.

Ainda segundo Gérald Darmanin, o principal suspeito, de 18 anos, chegou a França há três anos como “menor não acompanhado” de nacionalidade paquistanesa e, apesar de já ter sido detido anteriormente por transportar consigo uma arma branca, não era reconhecido como apoiante do autoproclamado Estado Islâmico.

Continuam a decorrer os julgamentos das 14 pessoas acusadas de ajudarem dois jihadistas durante o ataque de 2015, que fez 12 vítimas mortais. Para marcar o arranque dos julgamentos, a redação do Charlie Hebdo republicou os cartoons que terão originado o episódio fatal há cinco anos, o que terá merecido uma renovada ameaça do grupo extremista Al-Qaeda.

A diretora de recursos humanos do jornal satírico disse esta semana ter saído da própria casa depois de receber ameaças de morte.
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