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Clima. Crise global ameaça produção alimentar

por RTP
A redução do consumo de carne é uma das medidas sugeridas pela ONU para combater esta crise Afolabi Sotunde - Reuters

Os recursos alimentares do planeta estão a ser explorados a “níveis sem precedentes”. A denúncia é deixada num relatório das Nações Unidas divulgado esta quinta-feira e no qual é explicado que essa escassez, em conjunto com a crise climática, está a afetar a capacidade da Terra de sustentar a humanidade como a conhecemos, colocando em risco a sobrevivência.

Mais de 100 especialistas de 52 países concluíram que cerca de 500 milhões de pessoas vivem atualmente em locais que se estão a transformar em desertos, com o solo a desaparecer entre dez a 100 vezes mais rápido do que a velocidade a que se forma.

O aquecimento global está a fazer aumentar as secas, os fogos e a erosão do solo, recurso natural não renovável que afeta diretamente a produção alimentar, numa altura em que mais de dez por cento da população mundial se encontra subnutrida.

O perigo da escassez de alimentos é ainda maior caso esta aconteça em vários continentes em simultâneo. Cynthia Rosenzweig, uma das autoras do estudo, considera que “o risco de desaparecimento de zonas de produção” de alimentos básicos, como cereais, está a aumentar exponencialmente mas alerta que “há muitas medidas que podemos tomar de imediato”.

O relatório da ONU deixa claro que a humanidade enfrenta uma escolha entre um ciclo vicioso com consequências potencialmente desastrosas ou a adoção de medidas que as travem. “Essas medidas estão disponíveis. Mas algumas dessas soluções implicam atenção, apoio financeiro e ambientes recetivos”, explicou Rosenzweig.
O que pode ser feito?
A contínua destruição de florestas, a exploração de gado bovino que leva à emissão de gases de estufa e outras práticas intensivas comuns no meio agrícola são alguns dos fatores a combater urgentemente.

A tomada de ações que permitam regenerar solos e florestas, armazenar carbono e reduzir o consumo de carne e o desperdício alimentar são essenciais e podem ajudar a combater, não só o fim dos recursos alimentares, como a crise climática.

Medidas desse tipo poderão ainda ajudar à melhoria da saúde humana, à redução da pobreza e à travagem das perdas de vida selvagem que atualmente se registam pelo globo.Alguns investigadores consideram que a escassez de comida deve afetar mais as regiões pobres do mundo do que as ricas, o que poderá fazer aumentar o fluxo migratório.

A ONU sugere o fim da queima de combustíveis fósseis, a reforma dos subsídios agrícolas, o apoio a pequenos agricultores e o cultivo de culturas mais resistentes. Muitas destas alternativas demorariam, porém, décadas até terem impacto, e precisariam do aval de governos e empresas de todo o mundo.

Relatórios anteriores chegaram a sugerir a imposição de impostos sobre a carne, de modo a evitar o seu consumo, e de subsídios para a produção de fruta e legumes.

Atualmente, a criação animais para consumo ocupa a maioria do terreno agrícola, pelo que a sua redução libertaria milhões de quilómetros quadrados para a produção de vegetais ou para reflorestação, ajudando simultaneamente à redução dos gases emitidos pelo gado.
Mudanças devem passar por Portugal
A associação ambientalista ZERO considera que “chegou a hora da mudança na alimentação, na agricultura e na floresta”.

Em comunicado sobre o relatório da ONU, a associação sublinha que “as exigências que estamos a colocar sobre a superfície terrestre são enormes, insustentáveis e, a menos que mudemos rapidamente de rumo, não conseguiremos evitar a crise climática”.

“O solo e os usos que dele fazemos é uma fonte significativa de gases com efeito de estufa (GEE), representando cerca de 24% do total de emissões humanas - semelhante às emissões produzidas por toda a eletricidade e calor que usamos”, explica a ZERO.

Por essa razão, torna-se necessário “travar a deflorestação e plantar mais árvores”, “efetuar uma melhor gestão agrícola” e “mudar as dietas” para reduzir as emissões de gases de efeito de estufa.

De acordo com a ZERO, “a União Europeia precisa urgentemente de aumentar sua meta climática para 2030” e Portugal “tem de ser coerente e cumprir o sentido do Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 na área da agricultura, florestas e uso do solo, bem como na modificação dos hábitos alimentares dos portugueses”.
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