Comey acelerou a investigação a Trump e Trump despediu-o

por RTP
Jonathan Bachman - Reuters

O despedimento do director do FBI James Comey apanhou Washington completamente de surpresa a meio da semana. A decisão do Presidente de imediato trouxe à memória o escândalo Watergate, que custou a Richard Nixon o lugar na Casa Branca. Como Trump, também Nixon despedira um procurador que, no caso, investigava o seu papel nas escutas plantadas na sede dos democratas.

Quando foi informado pelo próprio Presidente da sua intenção de demitir o chefe do FBI, o líder dos democratas no Senado Chuck Schumer terá, segundo as suas próprias palavras, advertido Donald Trump de que estava prestes a cometer um enorme erro.

Em contrapartida, Schumer exigiu que fosse nomeado um procurador especial, independente, para conduzir o inquérito que está a ser levado a cabo pelo FBI sobre possíveis contactos entre elementos da campanha de Trump e o Kremlin.

Diz o líder democrata que, sem essa nomeação, “os americanos terão todo o direito de supor que a decisão de despedir o director Comey é uma tentativa de parar” esse processo. Para já, a Casa Branca não mostra recetividade para responder a esse pedido.

“Isto é pouco menos que nixoniano”, acrescentou o também democrata Patrick Leahy, lembrando o episódio em que Richard Nixon demitiu em 1973 o procurador especial Archibald Cox, que conduzia o inquérito ao escândalo Watergate.
Flynn intimado a entregar documentos

Entretanto, o Senado americano intimou o ex-conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn a entregar todos os documentos que o ligam aos russos. Essa ligação fora a causa para o seu afastamento da equipa de Trump.

Questionado sobre contactos com Moscovo, Flynn garantira sob juramento que tal não acontecera, mas saber-se-ia mais tarde que em dezembro manteve contactos telefónicos com o embaixador russo Sergei Kislyak.

A comissão do Senado que investiga a alegada interferência do Kremlin nas eleições de 8 de novembro passado pedem-lhe agora os registos de email e telefonemas relativos a esses contactos.
Watergate 2
Vários analistas apontam a decisão de Donald Trump como uma abertura a um processo de impeachment. Bill Clinton também despediu um chefe do FBI durante a sua Presidência, mas então por razões de natureza diferente: William Sessions estava envolvido em irregularidades financeiras.

As razões apontadas por Trump para despedir Comey não são tão convincentes como este caso de 1993.

A Casa Branca já avançou com várias razões para apontar a saída a James Comey. Numa primeira versão, Trump afirmou que o diretor do FBI não era suficientemente competente para dirigir o Bureau. Essa convicção fora confirmada por um parecer do procurador-geral Jeff Sessions, relativamente à forma errada como Comey conduzira o inquérito ao servidor privado de emails de Hillary Clinton.

Depois, uma porta-voz da Casa Branca veio falar de um comportamento terrível de Comey, sem adiantar qualquer detalhe a essa nova versão.

Um facto novo neste escândalo – que tem todas as propriedades para crescer e ameaçar a Administração – é adiantado pelo New York Times: nas últimas semanas James Comey pediu mais meios e mais pessoas para aprofundar a investigação às alegadas ligações da campanha de Trump ao Kremlin, o que já foi desmentido pela Casa Branca.

Sabe-se também que, apesar de Trump garantir ter sido informado três vezes pelo próprio Comey que não era objeto de qualquer investigação, o agora ex-diretor do FBI afirmou publicamente que as suas equipas estavam a investigar elementos da campanha de Trump.

Em outubro de 1973, num dia que ficou assinalado como o “Massacre de Sábado à Noite”, o procurador especial Archibald Cox foi despedido por Nixon quando liderava a investigação do Watergate. Atrás dele, por solidariedade, seguiram o procurador-geral e o vice-procurador-geral.

É impossível não ligar estas duas imagens, os cenários em que Comey e Cox são retirados de cena a meio de uma investigação que visa a própria Presidência. “Senhor presidente, com todo o respeito que lhe devo, digo-lhe que está a cometer um erro enorme”, avisou Chuck Schumer, quando recebeu o anúncio da boca de Donald Trump.

A reação, o Presidente guardou-a para mais tarde, naturalmente num tweet.

 
“O choramingas do Chuck Schumer declarou recentemente já não tenho confiança nele (James Comey) e agora finge-se tão indignado”.
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