Comité Olímpico Internacional pede desculpa por usar imagens da propaganda Nazi

por RTP
Issei Kato/Reuters

O Comité Olímpico Internacional (COI) publicou um vídeo dos Jogos Olímpicos de 1936, na Alemanha, para promover as Olimpíadas. Acusada de usar propaganda nazi, a organização já pediu desculpa pela publicação e justificou que o objetivo era "passar uma mensagem de união e solidariedade".

Se não estivéssemos ainda a enfrentar a pandemia da Covid-19, estariam a decorrer, por estes dias, os Jogos Olímpicos 2020, em Tóquio. Mas, mesmo com as competições adiadas, o Comité Olímpico Internacional tem tentado promover o evento e, de forma a marcar os dias para que estavam agendadas provas olímpicas, tem divulgado imagens de outras edições.

No passado dia 23 de julho, o COI publicou pequenas parte do vídeo "Olympia" com imagens de propaganda nazi, realizado por Leni Riefenstahl para os Jogos Olímpicos de 1936, na Alemanha - apenas três anos depois de Hitler ter subido ao poder e a Alemanha estar sob o regime Nazi.

Divulgado na página oficial dos Jogos Olímpicos no Twitter, no vídeo via-se o início dos Jogos de 1936, a entrada das equipas e a tradicional passagem "de mão em mão" da tocha. Na publicação, com a hashtag "Stronger together" lia-se ainda: "Berlim experimentou a primeira passagem da tocha antes de a Chama Olímpica ser acesa. Mal podemos esperar pelo próximo".

Contudo, a publicação não foi vista com bons olhos por muitos, começando a onda de críticas.

Através da mesma rede social, o Museu de Auschwitz escreveu: "Durante duas semanas, a ditadura nazi escondeu o seu caráter racista e militarista. Usou os jogos para impressionar os espectadores com o retrato de uma Alemanha pacífica e tolerante. Mais tarde, a Alemanha acelerou o expansionismo e a perseguição a judeus e outros 'inimigos do estado'".



Também em resposta à publicação dos Jogos Olímpicos, num outro tweet lia-se: "Isso mostra uma total falta de respeito por todos os judeus alemães oprimidos na época!".

Entre as críticas mais ferozes, houve quem dissesse que "é sempre controverso usar imagens de um filme de propaganda nazista ('Olympia' de Riefenstahl) para expressar #Strongertogether".

De facto, a inclusão de imagens do filme de Riefenstahl suscita dúvidas quanto à intenção de "limpar" a imagem marcada pela história de uma Alemanha Nazi.

Mesmo após a Segunda Guerra Mundial, o Comité Olímpico integrou alguns alemães ex-simpatizantes do Partido Nazi e muitas das organizações desportivas do país eram lideradas por antigos nazis. Três dos mais importantes membros das comissões desportivas e olímpicas foram Carl Diem, Guido von Mengden e Karl Ritter von Halt - todos ocuparam posições de poder na administração desportiva durante o regime Nazi.
Comité Olímpico apaga publicação

Um dia depois da polémica publicação, o Comité Olímpico Internacional (COI) pediu desculpa e apagou o conteúdo do Twitter. A organização explicou ainda que a publicação em causa, divulgada com mais outros 29 vídeos curtos a evocar diferentes edições os Jogos Olímpicos, tinha como objetivo "passar uma mensagem de união e solidariedade".


Segundo a imprensa internacional, o COI só conseguiu divulgar imagens do filme de Riefenstahl devido à cedência de direitos por parte do antigo chanceler social-democrata, Gerhard Schröder. Schröder terá vendido os direitos do filme ao COI, em 2002, como parte do esforço do seu executivo de realizar os Jogos Olímpicos em Leipzig.

Recorde-se que o Comité Olímpico é, atualmente, liderado pelo alemão Thomas Bach, membro do Partido Democrata Livre neoliberal.

No entanto, Bach, que possui passaporte diplomático alemão, tem estado no centro de vários escândalos de corrupção desde que assumiu a presidência do COI, em 2013.

Sendo o presidente do Comité Olímpico Internacional, Bach é agora acusado de ser o responsável pelo uso de imagens do vídeo de Riefenstahl na promoção dos Jogos Olímpicos.
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