Como é que as medidas de contenção e o isolamento voluntário salvam vidas? Veja este gráfico

por Alexandre Brito - RTP
Reuters

É certo que o novo coronavírus já se espalhou pelo mundo. Nesta altura há mais de uma centena de países com casos confirmados. Desde o início do surto que a Organização Mundial de Saúde tem defendido a necessidade de os vários países aplicarem medidas de contenção, de forma a evitarem que o número de casos aumente de forma exponencial. Na prática, o que a OMS esta a tentar fazer é impedir que o número de pessoas com problemas graves relacionados com a doença acabem nos hospitais, colocando em stress, ou até mesmo em rutura, os sistemas de saúde. As medidas de contenção e o isolamento voluntário podem salvar vidas. O objetivo é achatar a curva de casos de forma a que os hospitais consigam manter a capacidade de resposta.

As informações, até esta altura, ainda não são totalmente claras, mas há várias projeções que indicam que entre 20 a 60 por cento das pessoas nos países infetados podem contrair o novo coronavírus. Em alguns casos a percentagem pode até ser maior. 

No entanto, desse total, 80 por cento terá apenas leves problemas. 

O que tanto a OMS como especialistas em saúde pública dizem é que as medidas de contenção e o auto-isolamento podem e estão já a salvar milhares de vidas. Isto porque estão a fazer com que a velocidade de propagação do vírus seja menor.

Aquilo que especialistas mais temem - e que aconteceu na China e em Itália - é que os sistemas de saúde dos vários países fiquem sobrecarregados por um aumento repentino de casos de pessoas com sintomas graves relacionados com o novo coronavírus. Ou seja, se o número de casos aumentar de forma rápida, mais pessoas terão que ser hospitalizadas. E isso pode fazer com que os hospitais não tenham capacidade de resposta.

Neste cenário, mais pessoas podem morrer porque faltarão camas e ventiladores para as assistir. 

Tanto a OMS como vários epidemiologistas de todo o mundo defendem que as medidas de contenção e, caso necessário, o isolamento voluntário, ajudam a impedir que o vírus se espalhe rapidamente.

É o que qualificam como "achatar a curva".
Olhando para este gráfico é possível ver o que se está a tentar fazer. A meio, no tracejado, está a capacidade de resposta de um sistema de saúde. A curva mais alta representa o aumento de casos numa situação em que não foram aplicadas medidas de contenção. Rapidamente, porque a curva é muito mais acentuada, os hospitais deixam de ter capacidade de resposta. 

A curva mais baixa representa o aumento de casos numa situação em que foram aplicadas medidas de contenção. Como se percebe, o aumento é mais lento, evitando-se desta forma que os hospitais fiquem sobrecarregados. Neste cenário, os casos existentes podem durar mais tempo, mas salva-se mais vidas. Mesmo que sejamos jovens e tenhamos saúde é nossa obrigação aplicar as medidas de contenção pedidas de forma a evitarmos que o vírus se espalhe mais rapidamente

Este gráfico - que foi inicialmente criado pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA - está a ser partilhado no Twitter por vários especialistas de forma a que as pessoas percebam o que está a ser feito e a importância de se cumprir as indicações das autoridades.

"Mesmo que não seja possível reduzir o número total de casos, atrasar a taxa de propagação de uma epidemia pode ser crucial", escreveu no Twitter Carl Bergstrom, da Universidade de Washington.

Se mais pessoas cumprirem as orientações das autoridades, seguindo as medidas de contenção, "vamos atrasar a propagação desta doença", disse ao Vox Emily Landon, uma especialista em doenças infecto-contagiosas do Hospital de Chicago. "Isso significa que a minha mãe e a sua mãe vão ter uma cama no hospital caso necessitem".

Por esta razão, diz ainda Landon, mesmo que sejamos jovens e tenhamos saúde, é nossa obrigação aplicar as medidas de contenção pedidas de forma a evitarmos que o vírus se espalhe mais rapidamente. Desta forma, será possível manter a progressão numa espécia de câmara lenta. "Quanto mais pessoas novas e com saúde ficarem doentes ao mesmo tempo, mais pessoas vão ficar doentes, e maior pressão será colocada nos sistemas de saúde", afirmou Emily Landon.


Numa situação em que os hospitais ficam sobrecarregados - e sem capacidade de resposta - o que pode acontecer é que os médicos terão que prioritizar casos. O que aconteceu - tendo em conta os relatos de alguns médicos - em Itália e na China.

 Ao fazerem isto, ao não terem capacidade de resposta, mais pessoas vão morrer. Daí a importância de achatarmos a curva.
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