Conflito israelo-palestiniano. Estratégia de Netanyahu passa por "contornar" os palestinianos

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Amir Cohen - Reuters

Em entrevista à CNN, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse que as pessoas podem ficar “presas” nas negociações de paz com os palestinianos e optou, por isso, por uma abordagem diferente que passa por “contornar” os palestinianos. Netanyahu diz que quando o conflito árabe-israelita chegar ao fim “voltaremos aos palestinianos e alcançaremos uma paz viável”.

Na terça-feira, em entrevista exclusiva à CNN, Benjamin Netanyahu disse que optou por uma estratégia diferente com os palestinianos de forma a não ficar “preso” nas negociações de paz.

Eu contornei-os [os palestinianos], fui diretamente aos Estados árabes e forjei um novo conceito de paz”, disse Netanyahu, referindo-se aos Acordos de Abraão, mediados por Washington, que levaram à normalização das relações diplomáticas entre o Estado judaico e os Emirados Árabes Unidos, o Bahrein e Marrocos.

“Forjei quatro acordos de paz históricos, que é o dobro do número de acordos de paz que os meus antecessores conseguiram em 70 anos”, salientou o presidente israelita.

“Quando efetivamente o conflito árabe-israelita chegar ao fim, acho que voltaremos aos palestinianos e obteremos uma paz viável”, acrescentou.


Questionado sobre as cedências que Israel está disposto a fazer em relação aos palestinianos, Netanyahu respondeu: “Bem, certamente estou disposto a que eles tenham todos os poderes de que precisam para se governar. Mas nenhum dos poderes que possam ameaçar-nos, e isso significa que Israel deve ter a responsabilidade primordial de segurança”.

Nos últimos dias tem-se assistido a uma nova escalada de violência entre Israel e Palestina. Na quinta-feira, dez pessoas morreram numa rusga do exército israelita no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada, aquele que foi o dia mais mortífero para os palestinianos nas últimas décadas.

Na sexta-feira e no sábado, sete pessoas foram mortas e duas ficaram feridas em ataques em Jerusalém Oriental, a parte palestiniana da Cidade Santa ocupada por Israel e anexada, com um dos ataques a ocorrer perto de uma sinagoga. Israel disse que este foi um dos piores ataques terroristas nos últimos anos.

Esta segunda-feira, as forças militares israelitas mataram a tiro um jovem palestiniano de 26 anos na cidade de Hebron, na Cisjordânia ocupada, elevando para 35 o número de palestinianos mortos por israelitas desde o início do ano.

Em resposta aos atentados em Jerusalém Oriental, o presidente israelita anunciou medidas destinadas a sancionar os familiares dos autores dos atentados.
EUA pedem medidas para “restaurar a calma”
Perante o aumento de violência, o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, visitou Jerusalém e Ramallah durante uma visita de três dias ao Médio Oriente, que terminou esta terça-feira.

Blinken apelou a ambas as partes a “tomarem medidas urgentes para conter a violência”. "Todas as partes devem tomar medidas para evitar uma nova escalada de violência e restaurar a calma", disse Blinken numa conferência de imprensa em Jerusalém, expressando a sua tristeza pela morte de palestinianos “inocentes”.

“O que vemos agora do lado palestino é um horizonte de esperança que se está a estreitar, não um horizonte em expansão e isso também acreditamos que deve mudar”, disse o chefe da diplomacia norte-americana após um encontro com o presidente palestiniano Mahmoud Abbas, em Ramallah.

EUA e Israel estão em lados opostos no que diz respeito aos assentamentos israelitas na Cisjordânia, ocupada por Israel. A Administração Biden defende uma solução de dois Estados para o conflito e Blinken advertiu, na terça-feira, contra qualquer ação que prejudique esta solução, citando “a expansão dos assentamentos israelitas, a legalização de assentamentos selvagens, demolições e despejos".

Por sua vez, Netanyahu prometeu esta semana que Israel “fortaleceria” os assentamentos em resposta aos ataques em Jerusalém.

Confrontado, durante a entrevista, sobre as preocupações dos EUA de que a expansão dos assentamentos israelitas em terras palestinianas poderia prejudicar as perspetivas de paz, Netanyahu respondeu: “Bem, eu discordo totalmente”. Cerca de 475 mil israelitas residem em assentamentos judaicos - ilegais sob a lei internacional - na Cisjordânia, onde vivem cerca de 2,9 milhões de palestinianos.

Abbas considerou o governo israelita "responsável pelo que está a acontecer hoje, por causa das suas práticas que minam a solução de dois Estados e violam os acordos assinados", enquanto as negociações de paz para a solução do conflito israelo-palestino estão paralisadas desde 2014.

Após a sua visita diplomática ao Médio Oriente, Blinken diz ter ouvido “ideias construtivas sobre medidas concretas que podem ser tomadas em ambos os lados para reduzir a tensão, promover maior cooperação e aumentar a segurança”.

“Não temos ilusões de que as tensões possam ser aliviadas da noite para o dia, mas estamos prontos para apoiar os esforços”, disse o secretário de Estado dos EUA.

c/ agências
pub