Coreia do Norte anuncia planos de ataque à ilha de Guam

por Graça Andrade Ramos - RTP
Uma manifestação de apoio do povo norte coreano ao regime em Pyongyang, dia 09 de agosto de 2017, horas depois do Presidente dos EUA, Donald Trump, avisar o país com "fogo e fúria" nunca vistos em caso de ataque aos Estados Unidos. KCNA - Reuters

O exército norte-coreano está a completar os planos de ataque a Guam e deverá tê-los prontos em meados de agosto, anunciou o general Kim Rak Gyom, comandante da Força estratégica do Exército do Povo Coreano, através da Agência de Notícias estatal norte coreana, KCNA.

Está previsto o lançamento de quatro mísseis de médio alcance por cima do Japão, para "voarem 17 minutos e 45 segundos numa distância de 3.356,7 quilómetros, que irão cair a 30 ou 40 quilómetros de Guam", uma ilha mais de 3,000 quilómetros a sudeste da Coreia do Norte onde vivem 163 mil pessoas.

Os Estados Unidos têm ali uma base da Marinha que inclui uma frota de submarinos e um grupo da Guarda Costeira, além de uma base aérea que inclui bombardeiros de longo alcance e caças. A ilha está também equipada com o escudo anti-mísseis THAAD.O ministro da Defesa do Japão afirmou que o país pode legalmente intercetar mísseis norte-coreanos que sobrevoem o seu território. Tóquio já advertiu que "nunca irá tolerar as provocações" e irá abater qualquer míssil que ameace o seu território, mas diversos analistas acreditam que o país não tem para já a tecnologia capaz de o fazer.

"Os foguetes Hwasong-12 serão lançados pelo KPA (exército norte coreano) e atravessarão os céus sobre as prefeituras japonesas de Shimane, Hiroshima e Koichi", revelou o general à KCNA, acrescentando que o exército irá aguardar apenas ordens do Presidente da Coreia do Norte, Kim Jong Un.

Será "um sinal crucial de advertência aos Estados Unidos", acrescenta a agência.

O anúncio dos planos detalhados de Pyongyang levou a Coreia do Sul a convocar uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da Nações Unidas.

Marcada para esta quinta-feira às 15h00 (17h00 em Lisboa), vai ser liderada pelo Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, e pelo seu assessor de segurança, Chung Eui-yong, de acordo com um comunicado divulgado pelo gabinete da presidência. 


"Disparates" de Trump
A tensão na zona não cessa de aumentar desde que Pyongyang realizou dois testes nucleares o ano passado e, já em julho deste ano, dois testes com mísseis balísticos intercontinentais capazes de atingir os EUA.

Esta quarta-feira, surgiram relatórios de que o regime norte-coreano poderá ser em breve capaz de armar os seus mísseis com ogivas nucleares.

Donald Trump já afirmou que não vai deixar o regime norte-coreano desenvolver um míssil capaz de atingir os Estados Unidos.

Terça-feira à noite o Presidente dos EUA surpreendeu a comunidade internacional ao prometer "fogo e fúria" nunca vistos em caso de ataque. Publicou depois um tweet na sua página oficial, dizendo que o arsenal norte americano é "mais potente do que nunca".

O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Jim Mattis, emitiu por seu lado um aviso severo a Pyongyang, para não cometer quaisquer atos que levem ao "fim do regime e à destruição do seu povo".

Alertas que terão provocado gargalhadas em Pyongyang.

O general Kim Rak Gyom disse mesmo à KNCA que os avisos do Presidente norte-americano são "uma data de disparates".

"Parece que o diálogo não é possível com um tal homem que perdeu a razão e só a força bruta funciona com ele", referiu, acusando Trump de "não ser capaz de entender a gravidade da situação".
China prudente
Washington diz que está pronto a usar da máxima força mas que prefere a via diplomática. Sábado, o Conselho de Segurança impôs uma nova vaga de sanções a Pyongyang.Os Estados Unidos e a Coreia do Sul estão ainda tecnicamente em guerra com a Coreia do Norte, já que o conflito foi suspenso com 1950 com um acordo de tréguas, não um acordo de paz.

Já os analistas sublinham o caracter raro das comunicações norte-coreanas, sobretudo num regime que preza apanhar de surpresa a comunidade internacional.

Para o professor Yang Moo-Jin, da Universidade de Estudos Norte Coreanos de Séul, "o Norte parece estar a dizer que aquilo que vai fazer se irá realizar conforme ao direito internacional".

Em declarações à agência France Presse, Moo-Jin admite que "não se pode excluir por isso que o Norte avance com este projeto".

Já da China, aliado tradicional da Coreia do Norte, vêm palavras de prudência e apelos à contenção de ambas as partes para baixar a tensão.

O influente jornal estatal chinês, o Global Times, recomenda aos Estados Unidos que se preocupem em acabar com o isolamento da Coreia do Norte.

Num editorial publicado na sua edição online, o jornal lembra que "a Coreia do Norte tem estado quase completamente isolada do resto do mundo. Sob tais circunstâncias extremas, Pyongyang irá avaliar todas as opções de que dispõe".

"Washington deveria estimular o desejo de Pyongyang de se ligar ao mundo exterior e regressar à comunidade internacional", sugere.
Ataque à defesa
O Governador de Guam, Eddie Calvo, está confiante face às ameaças da Coreia do Norte.

"Eles gostam de ser imprevisíveis, irão estourar um míssil quando ninguém estiver pronto e já o fizeram várias vezes", afirmou em entrevista à agência Reuters. "Estão agora a telegrafar o seu murro, o que quer significa que não querem quaisquer mal-entendidos. Penso que é uma posição de medo", acrescentou.

Existe a possibilidade de um ou mais mísseis falharem o alvo ou irem mais longe do que o pretendido e cairem em águas territoriais dos Estados Unidos, em torno da ilha, o que poderia "elevar as ameaças a níveis sem precedentes", refere por seu lado Lee Choon-geun, analista sénior do Instituto estatal sul coreano para a Política de Ciência e de Tecnologia.

"Os Estados Unidos irão considerar isso um ataque aparente se cair nas suas águas territoriais e, dado os riscos envolvidos, irão provavelmente abate-los antes que caiam em qualquer lado próximo de Guam e o seu mar territorial", afirmou.

A Sétima Esquadra dos EUA tem atualmente na região seis navios Aegis de defesa anti-mísseis balísticos, capazes de intercetar mísseis norte-coreanos, e o Japão tem outros quatro. Guam possui ainda o sistema anti-mísseis de altitude THAAD (terminal High Altitude Area Defense), semelhante ao instalado recentemente na Coreia do Sul.
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