Coreia do Norte quer Mike Pompeo fora das negociações sobre desnuclearização

por Andreia Martins - RTP
Mike Pompeo deslocou-se por quatro vezes a Pyongyang durante o ano de 2018, a última em outubro Reuters

Pyongyang pediu esta quinta-feira a Washington para afastar o secretário de Estado norte-americano das conversações sobre armas nucleares, exigindo um interlocutor “mais atento e maduro”. Os Estados Unidos respondem que “continuam prontos” para dialogar com a Coreia do Norte, mas não esclarecem para já se vão retirar este dossier ao responsável máximo pela diplomacia dos Estados Unidos.

Quase dois meses depois da cimeira do Vietname, em que os líderes da Coreia do Norte e Estados Unidos não conseguiram chegar a um acordo de desnuclearização, Pyongyang pede o afastamento de um dos principais responsáveis pelas negociações do lado norte-americano, o secretário de Estado Mike Pompeo. 

"Receio que, se o senhor Pompeo continuar a participar nas conversações, a atmosfera seja má e as discussões fiquem novamente bloqueadas”, disse esta quinta-feira Kwon Jong Gun, diretor-geral do departamento de assuntos norte-americanos.   

O responsável do Ministério dos Negócios Estrangeiros referiu ainda que, no caso de “um eventual regresso ao diálogo com os Estados Unidos”, o principal negociador “não seja o senhor Pompeo, mas antes uma pessoa mais atenta e madura”.  

A cimeira de Hanói foi a segunda desde a aproximação entre Kim Jong-un e Donald Trump em 2018. O primeiro encontro entre os dois líderes aconteceu em junho do ano passado, em Singapura.  
Com as conversações em pleno impasse diplomático, Washington não comentou diretamente as declarações sobre o secretário de Estado norte-americano, mas referiu apenas que continua disponível para o diálogo.  

"Os Estados Unidos continuam prontos para dialogar com a Coreia do Norte no quadro de negociações construtivas", afirmou um porta-voz do Departamento de Estado norte-americano na primeira reação às exigências norte-americanas.

Esta não é a primeira vez que responsáveis norte-coreanos criticam diretamente Mike Pompeo. O secretário de Estado norte-americano foi apontado como culpado pelo fim abrupto da última cimeira no Vietname e, em julho de 2018, Pyongyang condenou o comportamento de “gangster” do responsável pela diplomacia norte-americana nas conversações para a desnuclearização da península coreana.

Pompeo não foi o único alvo entre os interlocutores que Kim Jong-un levou até à mesa de negociações. Depois da cimeira de Hanói, em fevereiro, Pyongyang tinha feito críticas a John Bolton, considerando que o conselheiro para a segurança nacional da Casa Branca “criou uma atmosfera de hostilidade e desconfiança”.  
 
Desde o início do processo diplomático no ano passado, os responsáveis norte-coreanos têm preferido lidar diretamente com Donald Trump sempre que possível, até porque o Presidente norte-americano tratou Kim Jong-un como “amigo” em várias ocasiões no último ano.  
Coreia do Norte testa nova arma

A troca de palavras entre os responsáveis dos dois países acontece no mesmo dia em que a Coreia do Norte anunciou que foi testada uma nova arma tática guiada com “uma ogiva poderosa”, segundo informou a agência estatal norte-coreana KCNA.  

Foi o segundo lançamento deste tipo desde que se iniciou, há um ano, o processo de negociações sobre o programa nuclear e de mísseis.  

Kim Jong-un, que supervisionou o lançamento ocorrido esta quinta-feira, descreveu o sistema de desenvolvimento como um acontecimento relevante “para aumentar o poder de combate” do Exército norte-coreano. 

Laura Bicker, correspondente da BBC em Seul, assinala que o lançamento efetuado esta quinta-feira foi “discreto para os padrões norte-coreanos”, uma vez que não se tratou de um míssil de longo alcance nem de um teste nuclear.

“Kim Jong-un está a manter a promessa de não acionar estas armas, mas está a desenvolver armamento novo. Talvez este não seja um desafio direto a Donald Trump. Mas pode ter como intenção provocar alguma reflexão na Casa Branca e servir como aviso ao que se pode seguir se não for alcançado um acordo em breve”, refere a correspondente. 

Bicker acrescenta ainda que esta é a forma de Pyongyang mostrar que continua a desenvolver novas armas apesar das sanções económicas que Washington continua a impor ao país, mas também de garantir internamente ao povo o poderio militar na defesa da Coreia do Norte contra um país que continua a ser visto como o inimigo comum. 
Cimeira entre Putin e Kim 

Com o novo contexto de relações entre os dois países, incluindo o fiasco da cimeira de fevereiro, o impasse nas negociações, a troca de palavras entre os diplomatas e um novo lançamento, soube-se também esta quinta-feira que irá decorrer, no final de abril, uma cimeira entre Vladimir Putin e Kim Jong-un. 

De acordo com as imprensas russa, sul-coreana e japonesa, o encontro poderá acontecer na próxima semana em Vladivostok, uma cidade russa próxima do território norte-coreano.

O encontro entre os dois líderes poderá ser uma tentativa por parte de Vladimir Putin para “assumir algum controlo sobre a situação na Península Coreana”. “Os eventos recentes expulsaram quase toda a gente [das negociações], excetuando a Coreia do Norte e os Estados Unidos”, refere Andreï Lankov, investigador da Universidade de Kookmin de Seul, citado pela agência France Presse.
 
Nos últimos anos, mesmo nos períodos de maior tensão diplomática, a Rússia tem procurado uma relação amigável com a Coreia do Norte, assumindo uma postura equivalente à de Pequim quanto às negociações sobre a desnuclearização. 

Em concreto, Moscovo pretende que o processo se baseie numa lógica faseada, definida pelas duas potências envolvidas.
 
Esta será uma cimeira inédita entre os dirigentes russo e norte-coreano. Em maio de 2015, Moscovo já tinha convidado Kim Jong-un a participar nas celebrações dos 70 anos da vitória dos Aliados na II Guerra Mundial, tendo o líder norte-coreano optado por não se deslocar à capital russa. 

O último encontro entre líderes dos dois países ocorreu na Sibéria, em 2011, pouco tempo antes da morte de Kim Jong il. Na altura, a cimeira reuniu o então líder supremo norte-coreano e Dmitri Medvedev, atual primeiro-ministro russo, que era na altura Presidente da Rússia.

Kim Jong il, pai de Kim Jong-un, morreu pouco tempo depois deste encontro em que garantiu à Rússia que a Coreia do Norte estaria pronta para interromper os testes nucleares. 

(com agências internacionais)
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