Covid-19. Aumento do número de casos obriga países a dar passos atrás

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Athit Perawongmetha - Reuters

A pandemia continua a expandir-se por todo o mundo e alguns países foram obrigados a voltar a implementar medidas de restrição. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o vírus está longe de ser dado como contido e "continua a acelerar".

Tal como em Portugal, vários países estão a detetar novos surtos de infeção por Covid-19 que obrigam ao regresso de medidas de restrição.

Na vizinha Espanha, por exemplo, esta terça-feira observa-se o primeiro passo atrás. O estado de emergência foi dado como terminado e todo o país encontrava-se na fase 3 de desconfinamento. No entanto, no município de Huelva, recua-se para a fase 2 depois de terem sido detetados 14 casos positivos naquela região. E o governo já veio avisar que o estado de emergência pode voltar se os surtos piorarem.

Na Alemanha, foi anunciada a implementação de restrições locais após a deteção de um surto relacionado a uma fábrica de carne no Estado da Renânia do Norte-Vestefália. Mais de 1.300 funcionários testaram positivo à Covid-19 e o confinamento nesta região irá vigorar até, pelo menos, 30 de junho.

As medidas de distanciamento social entraram novamente em vigor e os bares, museus, cinemas e ginásios voltaram a fechar as portas. Será ainda enviado um reforço policial para as zonas mais afetadas do país de forma a garantir o cumprimento das medidas implementadas.

O país receia o surgimento de uma segunda vaga depois de a taxa de contágio ter aumentado substancialmente de 1,79 para 2,88.

Este é o primeiro retorno na estratégia de contenção do novo coronavírus desde que a Alemanha começou o desconfinamento em maio.

Também na China, o epicentro do novo coronavírus, voltam a ser adotadas restrições após deteção de um novo surto “extremamente grave” em Pequim, a 11 de junho, num dos maiores mercados da região. Nas últimas 24 horas, a China registou 22 novos casos de infeção, 13 dos quais na capital. O número de casos ativos fixou-se, assim, em 359, entre os quais 13 estão em estado grave.

Pequim aumentou o nível de emergência e adotou medidas localizadas e parciais, abrangendo apenas as áreas da cidade consideradas de risco. As escolas voltaram a encerrar e algumas regiões de Pequim foram cercadas, com postos de segurança instalados em residências.

O Governo está, por isso, a considerar a implementação de restrições para controlar estes surtos localizados, quando o R (taxa de contágio) é bastante elevada: 2,76. Ou seja, uma pessoa doente pode infetar praticamente três pessoas, em média.
Por sua vez, na Coreia do Sul foi confirmada uma segunda vaga de infeções que já atingiu a área metropolitana de Seul. As autoridades já alertaram a população para uma luta prolongada contra a Covid-19, que deve continuar durante o verão.

A Nova Zelândia, depois de ter anunciado que o vírus tinha sido eliminado, voltou a detetar novos casos na semana passada. O Governo neozelandês já anunciou que voltariam a ser implementadas medidas de restrição nas fronteiras, enquanto se espera um aumento do número de emigrantes que regressam ao país.
“Pandemia continua a acelerar”
No domingo foram registados 183 mil novos casos de infeção em 24 horas, o maior aumento diário desde o início da pandemia. Dos nove milhões de casos que agora se registam em todo o mundo, o último milhão ocorreu apenas nos últimos oito dias.

Estes números levaram o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, a recordar que “a pandemia continuar a acelerar” e que o vírus está longe de ser dado como contido.

Tedros apelidou esta fase em que muitos países estão a desconfinar de “perigosa” e apelou a que se continue alerta.

A falta de liderança mundial e unidade para combater o coronavírus representa uma ameaça maior do que a própria pandemia”, anunciou o diretor-geral da OMS na segunda-feira. Sem mencionar os Estados Unidos - que congelaram o apoio à instituição - ou mesmo a China, Tedros lamentou que “a politização da pandemia a tenha exacerbado”.
Aumento do número de jovens infetados
À semelhança do que tem vindo a ser observado em Portugal, nos EUA, principalmente a sul do país, os últimos casos observados são maioritariamente jovens. As autoridades norte-americanos têm vindo a denunciar um incumprimento das medidas de restrição por parte da camada mais jovem da população, o que tem levado a um aumento de casos nesta faixa etária.

O principal especialista em doenças infeciosas no país, Anthony Fauci, considera que o recente aumento de casos entre os jovens “não é surpreendente” e alertou que apesar de terem menor probabilidade de desenvolverem uma doença grave, têm a mesma capacidade de transmissão a pessoas mais velhas e mais vulneráveis.

“Eles são infetados primeiro, depois voltam para casa e infetam as pessoas mais velhas. Os mais idosos sofrem as complicações e depois vão para os hospitais”, afirmou Fauci.

Diferentes Estados norte-americanos levantaram grande parte das medidas de contenção. Nova Iorque, de longe a cidade mais afetada, deu mais um passo nessa direção na segunda-feira, com a reabertura ao público de negócios considerados não essenciais.

Ao mesmo tempo, vários Estados do sul e oeste do país estão a registar um aumento no número de casos. Entre eles, a Florida superou os 100 mil casos, três mil destes diagnosticados apenas na segunda-feira. Especialistas alertam que o Estado pode revelar-se o novo epicentro da Covid-19 nos EUA.

O governador de Florida, Ron DeSantis, explica que os casos observados estão a “mudar numa direção radical” para a população com idade entre os 20 e os 30 anos.

Os EUA são o país mais afetado pela pandemia a nível mundial. Nas últimas 24 horas, os EUA registaram mais 425 mortes por Covid-19, ultrapassando os 120 mil óbitos desde o início da pandemia. O último balanço aponta para mais de 2,31 milhões de infetados.
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