Covid-19. Boris Jonhson apela britânicos ao "bom senso" e ao "auto-sacrifício"

por Graça Andrade Ramos - RTP
O primeiro-ministro Boris Johnson, à saída do nº10 de Downing Street, a 30 de setembro de 2020 Reuters

O Reino Unido reportou esta quarta-feira 7.108 novos casos de infeção por SARS-CoV-2, no segundo dia consecutivo acima da barreira dos sete mil casos. O executivo britânico recusa contudo para já, regressar ao confinamento de há seis meses.

Ao lado do Diretor da Saúde para a Inglaterra, o Professor Chris Whitty, e do seu conselheiro científico, Sir Patrick Vallance, o primeiro-ministro Boris Johnson, apelou em vez disso os britânicos a cumprirem as regras já impostas desde 22 de agosto.

"O que não estamos a fazer neste momento é a regressar à situação que tínhamos em março", sublinhou, para afastar a possibilidade imediata de novo confinamento nacional. "Não quero fazer isso, regressar à quarentena nacional onde as linhas de orientação são fiquem em casa", afirmou Boris Johnson, na sua 100ª conferência de imprensa sobre a pandemia. Em vez disso, apelou as pessoas a "seguirem as indicações e deprimirem o vírus".

Apesar disso, o executivo não irá "hesitar" em impor mais medidas se for necessário, avisou o primeiro-ministro, referindo que o país está num "momento crítico".

"Sei de algumas pessoas que pensam que devíamos desistir e deixar o vírus seguir o seu caminho apesar da tremenda perda de vidas que isso poderia provocar", referiu o líder do executivo britânico. "Tenho de dizer que discordo profundamente disso. E não creio que seja isso que o povo britânico quer".

"Temos de nos manter unidos e confiantes" foi a mensagem mais forte transmitida pelo líder do executivo britânico.
Paciência, bom-senso e sacrifício
Boris Johnson usou os novos números recorde de infeção com SARS-CoV-2 que têm vindo a registar-se no país, para defender a sua política de luta contra a pandemia. Provam, disse, como as medidas impostas pelo Governo são "essenciais". "Gostaria que o impacto das novas medidas já se estivesse a verificar mas irá levar tempo a mostrar resultados" disse.

"Iremos ultrapassar isto se cumprirmos as regras", sublinhou Boris Johnson, após prometer aos estudantes, que iniciaram um ano "diferente do que alguma vez imaginaram", que poderão ir a casa no Natal, se assim o entenderem.Terça-feira, os 7.143 nos casos registados num único dia bateram todos os recordes. O país tem estado a processar 200 mil testes por dia, o dobro do verificado na primeira vaga. Também os óbitos verificados no espaço de 28 dias após o diagnóstico de Covid-19, 71, tanto na terça como na quarta-feira, foram os mais elevados desde julho.

Boris Johnson afirmou também que, "sob muitos aspetos" o Reino Unido está agora melhor do que em Março, no início da pandemia.

"O povo britânico não quer atirar a toalha ao chão", mas lutar unido contra o vírus, acrescentou, para apelar logo depois à "paciência coletiva, ao bom senso e à aceitação de auto-sacrifício pela segurança dos outros".

O uso de máscaras é obrigatório, e quem não a usar será multado, "e as multas são elevadas", lembrou líder do executivo a título de exemplo do que é necessário.

"Quaisquer novas medidas serão muito mais caras do que aquelas que atualmente estão em vigor", alertou ainda. "Mas, se nos esforçarmos agora então damo-nos a melhor hipótese de as evitar".

Desde esta quarta-feira, as medidas anunciadas por Downing Street sobre a pandemia, serão  apresentadas ao Parlamento e, sempre que possível, submetidas a votação, prometeu o ministro da Saúde do Reino Unido, Matt Hancock.

A garantia procurou evitar uma revolta dos deputados conservadores que têm criticado, ao lado dos seus pares da oposição, a imposição governamental de medidas sem qualquer consulta à Câmara dos Comuns.
NHS a responder
Boris Johnson passou depois a palavra a Chris Whitty, que garantiu a atual capacidade de resposta do Serviço Nnacional de Saúde britânico, o NHS, apesar do aumento de hospitalizações devido à Covid-19. O NHS, afirmou, está também a funcionar em resposta " a outros tipos de cuidados".
O Reino Unido tem reservas de máscaras, visores, fatos e outros artigos de proteção, suficientes para quatro meses. Já o número de ventiladores no país triplicou para 31.500. A nova aplicação para traçar oprogresso do vírus já foi descarregada por 14 milhões de pessoas. Revelações de Boris Johnson.

O responsável pela Saúde de Inglaterra reconheceu contudo que o número de pessoas que se apresentam nos hospitais com o vírus "está a progredir no sentido errado".

O atual padrão de contágio é também "bastante diferente" do da primeira vaga, acrescentou.

À medida que aumentam os números de contágio, tem-se registado uma "grande concentração de casos" nalgumas zonas do país, as Midlands e o nordeste e noroeste de Inglaterra.

Os números têm estado a crescer "muito rapidamente" entre os adolescentes mais velhos e jovens adultos acima dos 21 anos, embora a taxa de infeção se mantenha "praticamente inalterada" entre as crianças em idade escolar, acrescentou Whitty.
Sem controlo
Sir Patrick Vallance afirmou por seu lado que a ciência poderá dar respostas mas que terão de ser os ministros a decidir as políticas.

É "muito claro" que as taxas de infeção e de óbitos "continuam a subir" e que "não temos isto sob controlo", referiu o conselheiros científico do Governo britânico. As decisões a tomar são "claramente muito difíceis" e "nenhuma está isenta de risco", acrescentou.

Não há lugar para "condescendência" neste momento uma vez que a situação está a "evoluir no mau sentido".

"Este vírus espalha-se devido a contcatos próximos em certos ambientes. Temos todos de garantir que reduzimos o número de contactos que temos", sublinhou Vallance.

"Vai ser absolutamente essencial" que as pessoas se isolem se tiverem sintomas, afirmou.
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