Covid-19. Cientista chinês alerta que não usar máscara é um "grande erro"

por RTP
Depois da origem do vírus, a China tem agora casos importados Reuters

Isolamento social é crucial, a melhor forma de cortar o contágio. Não usar máscara parece ser o erro que Europa e Estados Unidos estão a cometer. São as palavras de George Gao, cientista chinês e diretor-geral do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da China, em entrevista a Le Monde. Com estudos já publicados sobre a infeção que dá origem ao Covid-19, George Gao explicou que ninguém esperava que um coronavírus pudesse tornar-se numa pandemia.

Numa entrevista rara a meios de comunicação europeus, George Gao falou com Le Monde sobre os métodos chineses de contenção do novo coronavírus e os erros que estão a ser cometido na Europa e nos Estados Unidos.

Gao explicou que o isolamento social é crucial na luta pelo vírus que se tornou pandemia e já atingiu mais de meio milhão de pessoas a nível mundial. Na China foram implementados cinco passos para conter a disseminação do vírus. Passando primeiro por uma estratégia “não farmacológica”, em que tem de se ter a certeza de que os cidadãos estão em isolamento. Logo depois, é necessário colocar quem está infetado em quarentena, terminando com as aglomerações de pessoas e restringindo a liberdade de movimento.

Estes são passos que George Gao acredita que o mundo deve aprender com a China, mas sublinhando que terá sempre de haver vontade política para determinar estas medidas.

De acordo com o cientista chinês, a falta de uso de máscaras pode ser o grande erro cometido pelos países europeus e pelos Estados Unidos. George Gao acredita que a máscara é necessária para estancar a passagem de gotículas de pessoas para pessoa e que isso deve ser algo obrigatório para conter o vírus.º

Na China, apesar de já não existirem casos de transmissão local pelo novo coronavírus, o país continua a manter soluções para parar a disseminação da doença. George Gao explicou que todas as pessoas que tentem entrar nos mais variados locais terão a temperatura medida, e aqueles que apresentarem sintomas, como a febre, serão proibidos de entrar e mandados para quarentena.

Questionado sobre o tempo de vida do vírus, o cientista afirmou que é algo ainda pouco conhecido e que a questão da humidade pode não ser importante. Gao disse que este é um vírus que pode ficar durante muitas horas em várias superfícies e que um ambiente mais húmido poderá não ser suficiente para o eliminar.

Sobre a origem do vírus, o cientista explicou que o mesmo pode não ter tido origem no mercado de Huanan, já que pelo menos quatro dos cinco testes realizados nas primeiras pessoas infetadas não tinham qualquer ligação ao mercado. Sobre se o vírus terá surgido em Novembro, George Gao declarou que não existem evidências que apontem para tal.

Apenas a 20 de janeiro, as autoridades chinesas anunciaram que o vírus se propagava de pessoa para pessoa. Questionado sobre a data, George Gao explicou que os cientistas ainda não tinham dados epidemiológicos suficientes, apesar de o genoma do vírus ter sido sequenciado logo no princípio do mês.

O diretor-geral do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças na China disse que os casos que se têm registado no país são importados, tendo alertado que muita gente infetada está a chegar à China. Apesar disso, Gao garante que está a haver um trabalho exaustivo para serem criados medicamentos e vacinas contra o vírus.

Sobre a medicação contra o Covid-19, Gao anunciou que os primeiros resultados de testes clínicos com Remdesivir vão ser conhecidos já em abril. Este é um medicamento utilizado para combater a MERS e o ébola.

Questionado sobre a utilização da expressão “vírus da China” por parte de Donald Trump, George Gao acredita não ser uma boa ideia generalizar esta ideia, já que diz que este não é um vírus inimigo de ninguém em particular. “Ele é nosso inimigo”, concluiu.
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