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Covid-19. Cientista chinês mantém viva a tese de fuga de laboratório em Wuhan

por RTP
Unidade de Cuidados Intensivos no Hospital em Wuhan, em 2020 Reuters

George Gao trabalhou para o Governo de Pequim e foi um dos principais cientistas chineses a investigar as origens do SARS-CoV-2 e da doença decorrente deste, a covid-19. Se a administração chinesa sempre rejeitou a possibilidade de o coronavírus ter saído do laboratório de Wuhan, o professor chinês não descarta, ainda hoje, esse cenário.

George Gao desempenhou um papel fundamental na resposta à doença provocada pelo SARS-CoV-2 e foi chefe do Centro de Controlo de Doenças da China durante a pandemia. Virologista e imunologista reconhecido a nível mundial, é agora vice-presidente da Fundação Nacional de Ciências Naturais da China, depois de se ter reformado do CDC em 2022.

Foi convidado pela BBC a participar numa entrevista para o podcast da Radio 4 Fever: The Hunt for Covid's Origin.

Procurar a origem do novo coronavírus é o mote da conversa de 30 minutos com o professor Gao, no episódio quatro intitulado Batshit, disponível a partir desta terça-feira.

Muitos cientistas defendem que o coronavírus que causa a covid-19 veio da natureza - provavelmente transmitido de morcegos para outros animais e depois a humanos, num mercado em Wuhan. Mas a tese alternativa - de a doença ter-se difundido a partir uma fuga laboratorial – nunca caiu no esquecimento.

"Sempre que se suspeita de alguma coisa, isso é ciência. Não se deve descartar nada", argumenta o investigador.

Na entrevista, o professor Gao confirma que foi desenvolvida, sob os auspícios do Governo, uma investigação formal no Instituto de Virologia de Wuhan: Pequim "organizou algo", mas “não envolveu o seu próprio departamento, o CDC”.Esta é a primeira vez que é admitida a existência de uma investigação oficial.

Gao clarifica que outro ramo do Governo realizou uma busca formal no WIV, um dos principais laboratórios nacionais da China, conhecido por ter passado anos a investigar o coronavírus: "Sim, o laboratório foi verificado duas vezes pelos especialistas da área".

O professor Gao sublinha, todavia, que não viu o resultado, apenas "ouviu" que o laboratório recebeu um “atestado de saúde”.

"Acho que a conclusão deles é que o laboratório segue todos os protocolos. Os especialistas não encontraram [nenhuma] irregularidade".
De onde veio a covid-19?
Cientistas de todo o mundo continuam a trabalhar para dar resposta à questão da origem do SARS-CoV-2. E continuam divididos entre a propagação natural a partir de fezes de morcego ou a fuga de laboratório.

Embora a China tenha demonstrado falta de transparência, parte dos investigadores estima que há agora informações suficientes, como os dados sobre os primeiros casos e a amostragem ambiental naquele mercado.O mercado de marisco de Huanan vendia também mamíferos selvagens. Este recinto esteve ligado a muitos dos primeiros casos da doença, o que implica que houve contaminação entre pessoas que lá trabalhavam e compradores.

Ian Lipkin, professor de epidemiologia na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, não acredita que o vírus tenha sido deliberadamente propagado. Porém, defende que os “cenários que envolvem laboratórios ou investigações não podem ser excluídos”.

Lipkin propõe uma teoria própria, que aponta para outro laboratório de Wuhan - administrado pelo Centro de Controle de Doenças de Wuhan, localizado a apenas algumas centenas de metros do Mercado de Marisco.

Esse laboratório recolhia e estudava amostras de sangue e fezes de morcegos selvagens.

Explica que tais procedimentos eram, por vezes, realizados sem o uso de equipamento de proteção adequado – “um claro risco de infeção”.

“As pessoas que trabalham lá podem ter sido infetadas enquanto estavam na gruta com os morcegos”, argumenta Lipkin. O vírus poderia “ter-se originado fora do mercado e ter sido amplificado no mercado”, sublinha.

O Governo chinês tem promovido uma terceira teoria: o vírus não veio do laboratório ou do mercado, mas pode “ter sido trazido para o país em embalagens de alimentos congelados”.

A administração de Pequim diz excluir tanto o laboratório quanto o mercado, apoiando-se na falta de dados definitivos.

O professor Gao também defende que faltam provas. Sem descartar qualquer das teorias. "Realmente não sabemos de onde veio o vírus. A questão ainda está em aberto", conclui.
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