Covid-19. Cinco vacinas em ensaio clínico

por RTP
Dado Ruvic - Reuters

Na corrida ao desenvolvimento da vacina contra a Covid-19 contam-se, neste momento, 115 candidatas. Destas, 78 estão ativas e cinco em fase de ensaios clínicos, divulgou a revista científica Nature, na quinta-feira.

A sequência genética do SARS-CoV-2 , o coronavírus que causa a Covid-19, foi publicada a 11 de janeiro de 2020 e, desde essa altura, começou uma intensa atividade a nível global para desenvolver uma vacina contra a doença.

Atualizados a 8 de abril, os dados revelam que há 115 vacinas candidatas, das quais 37 não foram confirmadas como estando em situação ativa por falta de informação disponível.

Das 78 vacinas candidatas ativas, 73 encontram-se em fase exploratória ou pré-clínica e as restantes cinco estão já em ensaios clínicos, isto é, a ser testadas em seres humanos.

Os dados são da Coligação para a Inovação na Preparação contra Epidemias (CEPI, na sigla em inglês), criada em 2017 para incentivar e acelerar o desenvolvimento de vacinas contra doenças infecciosas emergentes e torná-las acessíveis às pessoas durante os surtos.

A primeira vacina candidata contra a Covid-19 começou os "testes clínicos em humanos, com uma rapidez sem precedentes, a 16 de março de 2020", nos Estados Unidos, lembram os investigadores no artigo científico.

A CEPI salienta que o "esforço global" na investigação e no desenvolvimento de uma vacina para a Covid-19 não tem paralelo "em termos de escala e velocidade".
Investigação e desenvolvimento de vacinas
As vacinas candidatas "mais avançadas passaram recentemente para o desenvolvimento clínico, incluindo a mRNA-1273 da Moderna, a Ad5-nCoV da CanSino Biologicals, a INO-4800 da Inovio, a LV-SMENP-DC e a aAPC específicas de patógenos do Shenzhen Geno-Immune Medical Institute".

Mas há ainda outros projetos candidatos que planeiam iniciar os testes em humanos ainda em 2020.

A obter-se uma vacina no início de 2021, segundo as previsões das autoridades sanitárias norte-americanas, tal significa uma alteração significativa no padrão tradicional de desenvolvimento de uma vacina, que pode demorar em média mais de 10 anos a ser produzida, assinala a CEPI.

A verdade é que até a primeira vacina contra o vírus do Ébola levou cinco anos a ser criada.

Uma característica "marcante do cenário de desenvolvimento de vacinas para a Covid-19 é a variedade de plataformas de tecnologia que estão a ser avaliadas, incluindo o ácido nucleico (DNA e RNA), a partícula semelhante ao vírus, péptidos, o vetor viral (replicante e não replicante), a proteína recombinante, as abordagens do vírus vivo atenuado e do vírus inativado", esclarece a publicação.

A maioria das vacinas candidatas - sobre as quais existe informação disponível - pretende induzir a formação no organismo de anticorpos (glicoproteínas) neutralizadores da proteína-chave do coronavírus, a chamada proteína da espícula, que permite que o SARS-CoV-2 entre nas células humanas ao ligar-se a uma enzima (substância proteica), a ACE2.

No entanto, "não está claro como as diferentes formas e/ ou variantes da proteína usadas em diferentes candidatos se relacionam entre si ou com a epidemiologia genómica da doença". Nesse sentido, a experiencia com o desenvolvimento de vacinas permite conhecer os potenciais efeitos dos diferente antigénios, o que se torna relevante para o avanço das investigações na cura da doença.

Para avaliar a eficácia da potencial vacina, "modelos animais específicos para a Covid-9 estão a ser desenvolvidos, incluindo ratos geneticamente modificados que expressem a enzima humana ACE2, hamsters, furões e primatas não humanos".
Cooperação e coordenação internacional
Das vacinas candidatas, 56 (ou seja, 72 por cento) estão a ser desenvolvidas pela indústria farmacêutica e setor privado e as restantes 22 pelas universidades, organizações sem fins lucrativos e setor público.

Apesar do envolvimento de grandes multinacionais farmacêuticas, como a Janssen, a Sanofi, a Pfizer e a GlaxoSmithKine, muitos dos principais promotores de vacinas contra a doença respiratória aguda são de dimensão mais pequena e/ou inexperientes na produção a larga escala de uma vacina.

Por essa razão, "será importante garantir a coordenação da capacidade de fabricação e fornecimento de vacinas e capacidade de atender à demanda".

A maioria das vacinas candidatas em ativo está a ser desenvolvida na América do Norte (36), seguindo-se na China, Austrália e Europa (14 em cada).

Neste contexto, a CEPI defende uma "cooperação e coordenação internacional forte" entre promotores, reguladores, decisores, financiadores, autoridades de saúde e governos para que uma vacina promissora possa ser fabricada em "quantidades suficientes" e ser "fornecida equitativamente a todas as áreas afetadas" pela pandemia, em particular as regiões mais pobres.

Recentemente, a CEPI pediu financiamento para "apoiar os esforços globais de desenvolvimento de vacinas para a Covid-19, guiados por três imperativos: velocidade, fabricação e implantação em escala e acesso global".

"Instamos a comunidade global de vacinas a mobilizar coletivamente o apoio técnico e financeiro necessário para enfrentar com êxito a pandemia da Covid-19, através de um programa global de vacinação, e fornecendo uma base sólida para combater futuras pandemias".

A Coligação para a Inovação na Preparação contra Epidemias foi fundada em Davos, na Suíça, pelos governos da Noruega e Índia, Fundação Bill e Melinda Gates, pela organização britânica Wellcome Trust e pelo Fórum Económico Mundial.

Além das entidades fundadoras, a CEPI é financiada pela Comissão Europeia e pelos governos do Reino Unido, Alemanha, Japão, Canadá, Etiópia, Austrália, Bélgica, Dinamarca e Finlândia.
Tópicos
pub