Covid-19. Ensaio no Reino Unido estuda "mistura" de vacinas

por Andreia Martins - RTP
Lee Smith - Reuters

Um ensaio no Reino Unido vai testar se a administração de diferentes vacinas na primeira e segunda dose pode ser eficaz na prevenção da transmissão da Covid-19. Mas para já, tanto no Reino Unido como em Portugal, a indicação das autoridades de saúde é de que a vacinação não deve ser combinada.

O objetivo deste ensaio é não só estudar a possibilidade de uma maior flexibilização na vacinação, ao ajudar num caso de potencial interrupção inesperada de entregas, mas também verificar se há alguma “mistura” que possa dar uma proteção reforçada.

Este estudo recebeu o investimento de sete milhões de libras (quase oito milhões de euros) por parte do Governo britânico e deverá envolver mais de 800 voluntários com mais de 50 anos em Inglaterra.

Alguns dos voluntários vão receber a vacina Oxford/AstraZeneca, seguida da vacina Pfizer/BioNTech, enquanto outros voluntários farão o processo inverso, sempre com quatro ou 12 semanas de intervalo.

É possível que novas vacinas sejam adicionadas a este estudo à medida que forem aprovadas pelos reguladores, adianta a BBC. Outro dos objetivos deste estudo é também perceber qual o impacto da imunização perante novas variantes da Covid-19.
E em Portugal?

No Reino Unido, a orientação formal do Comité para a Vacinação e Imunização (JCVI) estabelece até ao momento que a vacinação não deve ser combinada. Quem já recebeu a vacina Pfizer/BioNTech ou Oxford/AstraZeneca deve receber a mesma imunização na segunda dose.

Admite, no entanto, em circunstâncias muito raras, que uma vacina diferente possa ser utilizada: quando apenas uma imunização estiver disponível ou no caso de não se saber que vacina foi dada na primeira dose.

Em Portugal não se prevê, para já, a “mistura” de diferentes doses no esquema de vacinação. Na norma publicada pela Direção Geral da Saúde no final de janeiro, prevê-se que a primeira e a segunda dose sejam da mesma marca.

“Para as vacinas com um esquema vacinal de duas doses deve proceder-se ao agendamento da segunda dose, após a administração da primeira dose. O agendamento para a segunda dose deve garantir que a vacina utilizada é da mesma marca”, lê-se no documento.

Até ao momento a Agência Europeia do Medicamento aprovou as vacinas da Pfizer/BioNTech, Moderna e AstraZeneca, pelo que são as imunizações que já estão ou que estarão garantidamente disponíveis em Portugal. Todas elas são vacinas multidose.
Potenciais vantagens
Do ponto de vista científico, existem boas razões para acreditar que esta nova abordagem de mistura possa ser benéfica. Na luta contra o Ébola, por exemplo, há programas de imunização que preveem diferentes vacinas de forma a conferir maior proteção.

Nadhim Zahawi, ministro responsável pelo processo de vacinação no Reino Unido, sublinha que a mistura de doses é comum noutras vacinas, nomeadamente nas imunizações contra a hepatite, poliomielite, sarampo ou rubéola.

No entanto, o responsável do Governo britânico para a vacinação assegura que não haverá mudanças na abordagem que é atualmente seguida no Reino Unido pelo menos até ao verão.

O ensaio “Com-Cov”, acolhido pelo National Immunisation Schedule Evaluation Consortium, será liderado pelo professor Matthew Snape, da Universidade de Oxford e tem a duração prevista de 13 meses, sendo que algumas conclusões poderão ser alcançadas até junho.

Em declarações à BBC, o responsável sublinhou que já foram realizados estudos em animais que mostraram “uma melhor resposta de anticorpos” quando existe um esquema misto de vacinação.

“Vai ser interessante perceber se os diferentes métodos de vacinação podem levar realmente a uma resposta imunológica melhorada, ou pelo menos a uma resposta tão boa quanto a imunização com doses da mesma marca”, adiantou.
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