Covid-19. Espanha é o segundo país a ultrapassar a China em número de mortos

por Graça Andrade Ramos - RTP
Um membro da Unidade Especial Militar prepara-se para desinfectar uma área reservada para pessoas com deficiências físicas afetadas pela covid-19, dia 25 de março de 2020 Reuters

Depois da Itália, a Espanha. Em apenas 24h, morreram mais 738 pessoas devido à covid-19, informaram as autoridades espanholas. Foi o maior número de vítimas mortais até agora registado num único dia no país vizinho. O total de óbitos cifra-se agora em 3 434, ultrapassando as fatalidades registadas na China, onde se iniciou a pandemia.

Às 17h00 de quarta-feira (hora de Lisboa), Itália liderava a tabela do número de vítimas mortais a nível mundial (6 820), seguida de Espanha (3 434), da China continental (3 270), do Irão (2 077) e de França (1 100).

Espanha começou a viver o pesadelo transalpino nos últimos dias, com a escalada de casos de infeção e de mortes a ganhar ímpeto.

A área em torno de Madrid, a capital, agrega 53.15 por cento das vitimas da epidemia no país, contabilizando 290 mortes entre terça e quarta-feira e 1 825 vítimas no total.

O país cumpre esta quarta-feira o 11º de um isolamento de 15 dias, que deverá, com toda a probabilidade, ser prolongado outras duas semanas.

Escolas, bares, restaurantes e a maioria das lojas estão encerradas e a população confinada às suas casas. A economia praticamente parou.

Mas o número de casos não cessa de aumentar. Em 24 horas, o balanço de pessoas infetadas aumentou 7 937, para 47 610. E os hospitais não têm mãos medir com a catadupa de casos mais complicados.

Estado processado
O exército espanhol pediu à NATO que envie ventiladores, equipamento de proteção e testes, revelou esta quarta-feira o chefe do Estado maior das Forças Armadas, Miguel Villaroya. A ajuda irá socorrer a população civil, acrescentou.

O Governo encomendou por seu lado máscaras, luvas, testes e ventiladores, num investimento de 432 milhões de euros, os quais deverão ser entregues ao longo das próximas oito semanas.

O ministro da Saúde, Salvador Illa, garante que a primeira carga deverá chegar dentro de dias, numa altura em que o pessoal médico, que conta com milhares de infetados, começou a processar o Estado, por falta de equipamento básico de proteção.Os dados mais recentes apontam para uma taxa de infeção do pessoal médico em torno dos 10 por cento na China, nove por cento em Itália e 13 por cento em Espanha.

Na capital espanhola, uma das áreas mais atingidas pela pandemia, as autoridades iniciaram testes em massa para os funcionários públicos.

Também em Madrid, a policia montou guarda em torno do palácio de gelo transformado em morgue improvisada e que assiste a um constante vai-vem de ambulâncias e de carros funerários.

No aeroporto de Malaga, no sul, porta para a Costa del Sol, milhares de turistas aguardam voos para regressar a casa, enquanto dormem no chão ou nas salas de espera.

Lares em todo o país registam uma avalanche de casos de infeção e as grandes avenidas de Madrid e de Barcelona estão desertas, tal como cidades e vilas em todo o território, enquanto carros de bombeiros e tratores pulverizam as ruas com desinfetante, numa tentativa de as limpar do vírus.

O drama da população mais idosa é transversal na Europa.


Itália na expetativa
Em Itália, sinais de que o pior poderá estar a passar surgiram desta vez na Lombardia, a região mais atingida pelo coronavírus.

Nas últimas 24h morreram ali mais 296 pessoas, menos 106 do que terça-feira. Houve ainda mais 1 643 casos de infeção detetados, aumentando o total para 32 346 casos.

A nível nacional, Itália registava 6 820 óbitos, o número de mortos mais elevado do mundo.

Mas a Organização Mundial de Saúde espera que país atinja o pico esta semana.

De acordo com a ANSA, a agência italiana de notícias, o vice-diretor da organização da ONU, Ranieri Guerra, afirmou à Radio Capital que "o abrandamento na progressão é um fator extremamente positivo e em algumas regiões acredito que estamos próximos do ponto de inversão da curva, por isso, o pico deverá ser alcançado esta semana e depois começar a descer".

Apesar dos alertas e das quarentenas, ainda há quem esteja em viagem de turismo e não ganhe para o susto. É o caso de um navio de cruzeiros, o Costa Victoria, que tentou aportar no porto de Civitavecchia a norte de Roma, depois de desembarcar em Creta, na Grécia, uma passageira argentina de 63 anos e com sintomas de covid-19.

Os 726 passageiros restantes estão confinados às cabines desde segunda-feira. "Há muitas pessoas a bordo com febre" confirmou um deles,  o holandês Hans Rijkelijkhuizen. Ele próprio tem tosse e febre e recebeu comprimidos de paracetamol do médico de bordo.
Quem se segue?

Em quinto no número de mortes a nível mundial, a França pode ser o próximo país europeu a afundar sob o peso de novos contágios e de mortes por covid-19, tendo começado já a transferir doentes para a Alemanha, que possui maior número de camas em unidades de cuidados intensivos.

O país contava até à tarde de quarta-feira com 22 304 casos confirmados, longe para já dos 47 610 contabilizados em Espanha e dos 69 176 de Itália. E mais longe ainda dos 81 093 registados na China.

Recém saído da União Europeia e seguindo ainda uma estratégia de afastamento face a Bruxelas, o Reino Unido contabiliza por seu lado 427 mortes e 8 227 casos de infeção, um número que deverá aumentar exponencialmente nos próximos dias, devido às fracas medidas de combate inicialmente adotadas por Londres.

Com 2 077  mortes e 27 017 casos, o Irão mantém-se ainda sob um cenário de alto risco.

Já os Estados Unidos, com mais de 800 óbitos e de 60 mil casos de infeção, foram alertados terça-feira pela Organização Mundial de Saúde, para a alta probabilidade de se virem a tornar o próximo epicentro da pandemia, após a Europa.
Mais alertas
A nível global, a pandemia infetou mais de 400 mil pessoas das quais cerca de 100 mil recuperaram. Quase 20 mil pessoas morreram, e um quarto da população mundial está sob quarentena, em cerca de 70 países e territórios.

A autoridade europeia em epidemias alertou esta quarta-feira que, a menos que reajam rapidamente, todos os sistemas de saúde dos países europeus terão falta de camas de cuidados intensivos em meados de abril.

A maioria dos países da União Europeia já impôs normas de isolamento total.

O Centro Europeu para o Controlo de Doenças alertou ainda que, de acordo com o sugerido por estudos recentes, o vírus sars-CoV-2 não perde força em condições de temperatura e humidade elevadas, reduzindo a esperança de que o verão poderia ajudar a controlar a pandemia.
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