Covid-19. Itália começa a testar vacina em seres humanos

por Cristina Sambado - RTP
Riccardo Antimiani - EPA

Itália começou esta segunda-feira a testar em 90 humanos uma vacina, criada e desenvolvida no país, contra o SARS-CoV-2, responsável pela doença Covid-19, revelou a empresa de biotecnológica ReiThera. Os testes vão realizar-se no Instituto Nacional de Doenças Infecciosas Lazzaro Spallanzani.

Chegou a Spallazani o primeiro voluntário para o teste da vacina. É uma emoção intensa. Hoje temos a sensação de estar no início desta batalha amarga e dura que os italianos estão a travar há algum tempo”, anunciou Francesco Vaia, diretor do instituto.

Vamos começar a fase um, que serve para verificar se o medicamento produz efeitos secundários ao voluntário e, sobretudo, se esta dose é imunogénica, ou seja, se é capaz de produzir anticorpos no organismo”, acrescentou.
Milhares de pessoas responderam ao pedido de voluntários, entre as quais mais de cinco mil só na última semana, mas apenas os 90 selecionados serão submetidos aos testes.
Francesco Vaia explicou que “os anticorpos devem ser neutralizantes, capazes de bloquear a reprodução da carga viral. Depois, os voluntários vão ser submetidos aos testes até ao Outono, serão observados durante 12 semanas”.

A primeira vacina foi administrada, por via intramuscular, cerca das 8h30 (7h30 em Lisboa), a uma mulher, escolhida entre os voluntários.

“A voluntária está a ser examinada de quatro em quatro horas e está bem, não parece ter efeitos secundários. Todos os valores estão a ser verificados e de seguida vai para casa onde vai ser monitorizada durante as próximas 12 semanas”, esclareceu.

Durante a “fase um”, cada voluntário vai receber uma dose da vacina e, posteriormente, será submetido a sete controlos, os dois primeiros apenas alguns dias após a vacina e o último ao fim de 24 semanas
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Muitos dos voluntários são médicos, um detalhe que tem despertado grande atenção por parte das autoridades italianas.
Se não apresentarem efeitos secundários adversos significativos, a vacina será, então, aplicada numa dose maior a um segundo grupo de voluntários entre 7 e 9 de setembro.

Se os resultados da “fase um” forem positivos a “fase dois” pode começar no Outono com um maior número de voluntários, tanto em Itália como noutros países onde a circulação do novo coronavírus é mais ativa. Investimento de oito milhões de euros
A vacina, criada, desenvolvida e patenteada em Itália, já superou as provas pré-clínicas realizadas tanto in vitro como em animais e os primeiros resultados evidenciaram uma forte resposta imunitária e um bom perfil de segurança, de acordo com as autoridades da região de Lazio, que tem Roma como capital, que financiou a investigação da vacina com cinco milhões de euros.

Já o Ministério da Universidade e Investigação atribuiu ao projeto três milhões de euros, e o ministro, Gaetano Manfredi, aplaudiu o início dos testes como exemplo de “uma Itália que trabalha em equipa para o bem de todos os cidadãos”.Os 90 voluntários escolhidos dividem-se em duas faixas etárias, uma entre os 18 e os 55 anos e outra entre os 65 e os 85 anos, cada uma das quais dividida em três subgrupos de 15 pessoas, às quais será aplicada uma dose diferente da vacina.

O presidente da região de Lazio, que esteve presente na administração da primeira vacina, acredita fortemente que a “vacina é para o bem comum”.

O medicamento será público e, no final da fase de experiências, vai estar à disposição de todos os que necessitarem. A região seguirá passo a passo o processo de testes para chegar à distribuição o mais rapidamente possível”, acrescentou Nicola Zingaretti.

Sobre o aumento de novos casos na região de Lazio (que no domingo registou números recordes de 184 casos), Zingaretti renovou o apelo ao sentido de responsabilidade.

A pandemia de Covid-19 já provocou pelo menos 805 mil mortos e infetou mais de 23 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.

c/Agências
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