Covid-19. Justiça do Brasil quer garimpeiros fora das terras indígenas

por Mário Aleixo - RTP
A atividade dos garimpeiros está a ameaçar os indígenas de Yanomami Youtube

A Justiça brasileira determinou que o governo retire garimpeiros (exploradores de metais preciosos) das terras indígenas Yanomami como forma de combate à pandemia da covid-19 na região.

A decisão foi proferida pelo desembargador Jirair Meguerian, numa ação civil pública, e atendeu a um pedido do Ministério Público Federal, visando a adoção imediata de um plano de emergência para conter o avanço da doença nas terras do povo Yanomani que, segundo o órgão, enfrenta uma "situação dramática".

Segundo a decisão, de cariz provisório, o executivo brasileiro tem 15 dias para apresentar e implementar o plano de ações, garantindo a sua execução durante todo o período em que durar a pandemia de covid-19.

O projeto deve ser elaborado em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), todos vinculados ao Governo Federal, liderado pelo Presidente, Jair Bolsonaro.

"A maior terra indígena do país tem registo da presença de índios isolados e é assolada, historicamente, pela atuação de garimpeiros ilegais. Mesmo no meio da pandemia, as atividades de mineradores continuaram a expandir-se, e o MPF, imprensa e associações indígenas têm alertado para o que pode ser mais uma `tragédia anunciada`", indicou o Ministério Público em comunicado.

Entre as solicitações do plano de ações pretendido pela Justiça, está a monitorização territorial das terras Yanomami com o intuito de combater ilícitos ambientais, além da retirada de garimpeiros da região, "que têm sido o principal vetor de disseminação" da covid-19 entre os povos originários.

Segundo o desembargador, as medidas adotadas pelo Governo até ao momento têm sido insuficientes.

O que consta do plano

Na prática, o projeto a ser apresentado pelo executivo deve contemplar equipas fixas para combate dos ilícitos em pontos estratégicos onde há garimpo, um efetivo adequado para ações de repressão e investigações, disponibilização alimentos, serviços e materiais médicos e hospitalares, e garantia de imediata retirada de todos os garimpeiros não indígenas.

Foram também exigidos relatórios a cada 15 dias para comprovar que a determinação judicial está a ser cumprida, assim como a implementação de medidas que não agravem o risco de contaminação na região, sendo que as próprias equipas de atuação devem adotar as ações sanitárias.

Uma das principais preocupações das autoridades é a vulnerabilidade das populações indígenas face a doenças respiratórias, o que aumenta o risco de agravamento em caso de contágio pelo novo coronavírus.
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