Covid-19. Os últimos países do mundo sem casos de infeção

por Joana Raposo Santos - RTP
A maioria dos países sem casos de Covid-19 são insulares e ficam na Oceânia. Foto: Yuri Maltsev - Reuters

Até ao momento, 216 países e territórios reconhecidos pelas Nações Unidas registaram pelo menos um caso de Covid-19. Uma grande parte destes locais regista também vítimas mortais. No entanto, o novo coronavírus ainda não chegou a todos os países do mundo: 14 deles continuam a escapar à crise pandémica. Mas como?

Ilhas Marshall, Kiribati, Micronésia, Nauru, Palau, Samoa, Tonga, Tuvalu e Vanuatu (Oceânia), Coreia do Norte, Tajiquistão e Turquemenistão (Ásia), Comores e Lesoto (África). São estes os 14 países sem casos registados de Covid-19 até ao momento.

A maioria destes países tem alguns fatores em comum: são insulares, de pequena dimensão e pouco visitados por turistas. Alguns deles são mesmo dos países menos populosos do mundo.

Estas condições ajudam a perceber por que razão têm conseguido escapar à Covid-19. Por serem remotos e raramente visitados, não chegaram lá casos importados de infeção e, consequentemente, também não houve contágio local. Os países insulares da Oceânia onde o vírus não chegou já são isolados por natureza, pelo que o isolamento imposto por todo o mundo devido à pandemia não trouxe grandes alterações à vida local.

Os próprios habitantes destes países insulares também não costumam deslocar-se a outras regiões. Em primeiro lugar, porque a frágil economia não o permite, e em segundo, porque os métodos de deslocação não são os mais acessíveis.

Nauru, por exemplo, fica a mais de 300 quilómetros da região mais próxima: Kiribati, outro dos países insulares sem casos de infeção. O país tem um aeroporto e uma companhia aérea, mas esta só realiza voos dentro do continente. A cidade mais próxima de Nauru com voos diretos para outros países, sem que tenha de fazer escalas, é Brisbane, na Austrália, a mais de quatro mil quilómetros de distância.

Nauru é ainda dos sítios menos visitados de todo o mundo. Um operador turístico indicou à BBC que esta região insular recebe apenas 160 turistas por ano, em média.

Ainda assim, Nauru decidiu tomar medidas para prevenir o aparecimento de casos de Covid-19. Até porque num país com apenas um hospital, sem ventiladores e com poucos profissionais de saúde não se pode correr riscos. No início de março foi proibida a entrada de viajantes vindos da China, Coreia do Sul, Itália e Irão.

Dias depois, o país decidiu que todas as pessoas vindas da Austrália (incluindo habitantes de Nauru que se tenham deslocado em viagem) passariam a ter de cumprir 14 dias em quarentena em hotéis locais. Também os requerentes de asilo – a Austrália possui um centro de acolhimento de migrantes na ilha – passaram a ficar sujeitos a quarentena.
Países asiáticos podem estar a omitir casos de infeção
Entre os 14 países sem casos de Covid-19, três encontram-se na Ásia: Coreia do Norte, Tajiquistão e Turquemenistão.

A Coreia do Norte, com 25 milhões de habitantes, continua a negar a existência de qualquer caso de infeção, mas sem convencer especialistas e líderes mundiais que não acreditam nessa versão dos factos. O país faz fronteira com a China, onde a pandemia teve início, a Rússia e a Coreia do Sul, nações que lidaram com um elevado número de casos.

Já o Turquemenistão, país da Ásia central com quase seis milhões de pessoas, faz fronteira com o Cazaquistão, Uzbequistão, Afeganistão e Irão. Todos estes países fronteiriços têm milhares de casos confirmados, sendo o mais preocupante o Irão, com quase 94 mil.

Também neste caso, especialistas defendem que o Governo está a omitir a existência de casos de Covid-19. “As estatísticas oficiais do Turquemenistão não são fiáveis”, defendeu à BBC o especialista em higiene e medicina tropical Martin McKee.

“Na última década dizem não ter habitantes com VIH, um cenário que também não é plausível. Também sabemos que, nos anos 2000, ocultaram provas de vários surtos, incluindo o da peste”, argumentou.

As autoridades desse país asiático têm, porém, estado a trabalhar com agências das Nações Unidas para cumprirem com planos de combate ao vírus caso este venha a surgir. O Turquemenistão adotou ainda medidas atempadamente, entre as quais restrições à circulação, o encerramento da maioria das fronteiras terrestres e o cancelamento de alguns voos internacionais.

Quem chegue ao país e revele sintomas tem de ser submetido a testes de diagnóstico. Mercados e escritórios são regularmente desinfetados, mas o uso de máscara não é obrigatório e a população pode continuar a reunir-se para cerimónias como casamentos.

Outro dos países asiáticos que foi, até agora, alegadamente poupado pelo novo coronavírus é o Tajiquistão, localizado na Ásia central, onde habitam 9 milhões de pessoas. O Governo desse país diz realizar 4.100 testes por dia, mas continua a não registar casos de contágio.
Os dois países africanos sem casos de infeção
No continente africano há dois países sem casos registados. Um dele é Comores, país no leste de África, localizado em três das quatro ilhas do arquipélago de Comores, e possui 838 mil habitantes. As razões para a inexistência de Covid-19 deverão assemelhar-se às dos países da Oceânia.

O outro país africano sem casos é o Lesoto, localizado no sul de África, com dois milhões de habitantes. Ainda na terça-feira o Governo prolongou por mais 14 dias o encerramento do país, inicialmente imposto por três semanas.

“Durante este período, o Governo vai procurar equipamento especializado, tal como ventiladores, monitores e materiais de proteção para as instalações de saúde”, anunciou o primeiro-ministro Thomas Thabane à televisão pública do Lesoto.

Um dia antes, o ministro da Polícia desse país foi detido por alegadamente violar as normas de confinamento impostas. Uma das medidas aprovadas no Lesoto diz respeito à proibição da venda de álcool, e o ministro foi apanhado a comprar bebidas alcoólicas.
Qual será o último país a ser atingido pela Covid-19?
Andy Tatem, especialista em epidemiologia na Universidade de Southampton, defendeu em declarações à BBC que o novo coronavírus vai acabar por chegar a todos os países do mundo, pelo que os 14 que ainda se encontram a salvo não o estarão por muito tempo.

“[Os próximos países a serem atingidos] deverão ser os do Sul do Pacífico, as ilhas mais remotas”, afirmou. “Na nossa economia globalizada, não acredito que algum local consiga escapar a uma doença infeciosa como esta”.

O perito acredita que o isolamento imposto em países insulares, como foi o caso de Nauru, pode resultar, mas não durará para sempre. “A maioria desses países depende de algum tipo de importação do exterior, quer seja comida, bens ou turismo, ou da exportação dos seus próprios bens. É possível que consigam isolar-se completamente, mas isso será muito prejudicial e ver-se-ão forçados a reabrir eventualmente”.

O novo coronavírus já infetou mais de três milhões de pessoas em todo o mundo, das quais 218 mil são vítimas mortais. Dos 247 países e territórios reconhecidos pelas Nações Unidas, 216 foram atingidos pela pandemia e 177 registam mortes.
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