Covid-19. Para controlar contágio. Hong Kong abate "humanamente" dois mil animais

por RTP
Jerome Favre/ EPA

As autoridades de Hong Kong anunciaram a medida draconiana de abater dois mil pequenos animais após o rastreamento a um surto de infeções em humanos ter conduzido a uma loja no movimentado bairro de Causeway Bay. A funcionária de 23 anos estava infetada e 11 hamsters também testaram positivo.

Dois carregamentos de hamsters, chegados da Holanda a 22 de dezembro e a 7 de janeiro, alegadamente infetados com coronavírus, podem estar na origem do surto da variante Delta recentemente detetado em Hong Kong, confirmou o departamento de Agricultura, Pescas e Conservação.
 
Centenas de animais foram testados, incluindo coelhos, chinchilas e outros roedores, mas só os hamsters testaram positivo. Várias lojas de animais de estimação em toda a cidade foram fechadas e desinfetadas.

De acordo com o diretor do departamento, os pequenos mamíferos têm de ser abatidos, uma vez que é impossível pô-los de quarentena e observar cada um. As pessoas que compraram hamsters desde o dia 7 de Dezembro devem entregar os animais às autoridades para abate e cumprir quarentena obrigatória.

Já os clientes que compraram hamsters a partir de 22 de Dezembro terão de ser testados, devendo ficar em isolamento até receberem um resultado negativo. Se os seus hamsters tiverem coronavírus, terão de ficar em quarentena. “Se for dono de um hamster, deve manter o seu animal em casa, não o leve para a rua”, sublinhou Leung Siu-fai em conferência de imprensa.

“Consideramos que os riscos destes lotes são relativamente altos e, portanto, tomámos a decisão com base nas necessidades de saúde pública”, explicou Leung Siu-fai.

“Pedimos a todos os donos de animais de estimação que observem uma higiene rigorosa ao manusear os seus animais de estimação e gaiolas. Não os beijem nem os abandonem nas ruas”, acrescentou.

A cidade também interrompeu a venda e a importação de hamsters. Foi criada uma linha telefónica especialmente para esclarecer os donos de animais de estimação, enquanto 150 clientes iniciaram quarentena.

A ministra da Saúde referiu que as autoridades estão a agir por prevenção, apesar de não existirem provas de que os animais domésticos podem infetar os humanos. Contudo, as autoridades de Hong Kong também não excluem a possibilidade de a funcionária ter sido infetada pelos hamsters.

Transmissão homem-animal-homem

A Associação para a Prevenção da Crueldade contra os Animais apela a que se repense com urgência esta decisão, dizendo-se “chocada e preocupada com o anúncio recente do governo sobre o destino de dois mil pequenos animais, que não teve em conta o bem-estar animal nem o vínculo homem-animal”.

Já o diretor da escola de medicina veterinária da City University de Hong Kong disse que os casos de transmissão humano-para-animal-para-humano “são raros mas acontecem”, dando como exemplo o abate de milhares de martas na Dinamarca em 2020.

“Os hamsters são muito suscetíveis ao SARS-CoV-2 e podem produzir uma enorme quantidade de vírus”, comentou Nikolaus Osterrieder. Esta “é obviamente uma medida drástica, mas é uma consequência das regras de Covid-zero”, acrescentou.
De acordo com o Centro norte-americano para Controlo e Prevenção de Doenças, os animais não têm um papel significativo na transmissão do coronavírus. Contudo, os humanos podem transmitir o vírus aos seus animais.

Por todo o mundo, foram registados casos de infeção em cães e gatos. Na Dinamarca, em finais de 2020, toda a população de martas foi abatida para controlar as mutações de Covid-19. Em Setembro, três gatos que testaram positivos foram abatidos na cidade chinesa de Harbin, o que suscitou fortes críticas nas redes sociais.

Por seu lado, a Rússia registou a primeira vacina para animais, na sequência de testes feitos em cães, gatos, raposas e martas.

Surto de Ómicron em Hong Kong

Depois de três meses sem qualquer transmissão local, Hong Kong já registou dezenas de novos casos em 2022, a maior parte da variante Ómicron.

Este surto foi rastreado até membros da triupulação da Cathay Pacific, que jantaram em bares e restaurantes por toda a cidade antes do seu teste ter revelado serem portadores de coronavírus.

Dois tripulantes de cabine foram detidos por terem saído de casa durante a quarentena, tendo sido confirmado mais tarde que estavam infetados com Covid-19. O empregador não identificado, mas os trabalhadores terão chegado dos Estados Unidos a 24 e a 25 de Dezembro, tendo “conduzido atividades desnecessárias”.

Previamente, a Cathay Pacific tinha anunciado o despedimento de dois funcionários por infringirem os protocolos sanitários.

Foram libertados sob fiança e serão ouvidos em tribunal em 9 de Fevereiro. Se condenados, arriscam uma detenção de seis meses e uma multa de cerca de 500 euros.
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