Covid-19. Para quando uma vacina?

por Inês Moreira Santos - RTP
Reuters

São mais de 35 as empresas farmacêuticas e universidades na corrida para conseguir desenvolver uma vacina eficaz que previna a infeção pelo novo coronavírus e a propagação da doença. Não se sabe ainda quando estará disponível, mas algumas empresas candidatas vão começar em breve os ensaios clínicos em humanos.

Até agora, os tratamentos e as estratégias mais eficazes aplicadas em doentes com Covid-19 têm apenas ajudado a retardar a propagação do vírus, mas apenas uma vacina pode impedir que surjam novos casos de infeção.

Ainda em janeiro, a China conseguiu identificar a sequência do material genético do Sars-CoV-2, o vírus que provoca a doença Covid-19, e partilhou essa informação com investigadores de outros países para que acelerar os estudos e os processos de desenvolvimento de tratamentos para esta nova doença.

Das empresas que se juntaram à corrida, algumas já têm testado em animais, mas empresas como a Moderna Therapeutics, nos Estados Unidos, querem começar os ensaios clínicos em seres humanos o quanto antes. No entanto, os investigadores reconhecem que demorará até conseguir uma imunização viável a nível global.
Ensaios clínicos para testar reações adversas
A empresa norte-americana Moderna Therapeutics criou um "protótipo" da vacina para o Covid-19 apenas 42 dias depois de a China ter descoberto a sequência genética do coronavírus e espera-se que seja testado em humanos já em abril, avança a revista Time.

A vacina desta empresa foi desenvolvida "em tempo recorde" visto que é baseada num método genético relativamente novo que não requer o aumento de grandes quantidades de vírus.

A substância base desta vacina é o próprio mRNA (também chamado de RNA mensageiro) do vírus - o material genético que vem do DNA e que sintetisa as proteínas. Assim, a Moderna Therapeutics desenvolve o tratamento com o mRNA que codifica as proteínas de coronavírus certas e que são injetadas no organismo. As células imunes nos gânglios linfáticos podem processar esse mRNA e começar a produzir a proteína da maneira certa para que outras células imunes as reconheçam e as possam "destruir".

Stephen Hoge, presidente da Moderna Therapeutics, explicou à revista TIME que o "mRNA é como uma molécula de software em biologia".

"Portanto, a nossa vacina é como o programa de software para o corpo, que produz as proteínas [virais] que podem gerar uma resposta imune", acrescentou, esclarecendo que isso significa que esta vacina pode ser produzida em larga escala e rapidamente, economizando tempo se uma nova doença como o Covis-19 surgir.

A China, por seu lado, também estará prestes a realizar um primeiro ensaio clínico para testar uma possível vacina contra o novo coronavírus e, segundo o Global Times, há 108 voluntários - todos oriundos da cidade chinesa de Wuhan, onde o surto foi detetado pela primeira vez, em dezembro de 2019.

A Rússia anunciou também que começou a testar uma vacina em animais, mas os primeiros resultados só serão conhecidos em junho.

Estes primeiros testes em pessoas visam testar a segurança de determinada substância e que tipo de reações adversas pode provocar, mas as empresas farmacêuticas comprometeram-se a fornecer uma vacina contra a covid-19 "em qualquer parte do mundo", num tempo estimado entre 12 e 18 meses, no mínimo.
Vacina pode prevenir infeção de outros coronavírus?
A verdade é que há alguma pressa para o desenvolvimento e a distribuição de uma vacina contra o novo coronavírus, e não é só porque a doença se está a propagar muito depressa por todo o mundo.

Geralmente as gripes são consideradas, pela Organização Mundial de Saúde, o maior risco de pandemia e nada fazia prever que uma doença causada por um novo coronavírus pudesse ameaçar a população mundial.

Por isso, os investigadores estão a tentar criar protótipos para outros coronavírus e eventuais surtos, para além do vírus que atualmente está a provocar Covid-19.

Os coronavírus já causaram outras duas epidemias relativamente recentes: a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) na China em 2002/2004; e a Síndrome Respiratória no Médio Oriente (Mers), detetada pela priemeira vez na Arábia Saudita em 2012.

Em ambos os casos, as vacinas só começaram a ser desenvolvidas quando os surtos foram contidos.

A empresa norte-americana Novavax, por exemplo, está a tentar utilizar essas vacinas para o Sars-CoV-2 - uma vez que o novo coronavírus compartilha entre 80 a 90 por cento de seu material genético com o vírus que causou o Sars - e garante, segundo o Guardian, que tem vários candidatos para poder começar os testes em humanos já nas próximas semanas.

Recorde-se que todas as vacinas funcionam de acordo com o mesmo princípio básico: inserem parte ou todo o agente patogénico no sistema imunitário humano, numa pequena doses, de forma a que o corpo produza anticorpos contra esse patógeno.

A imunidade é, portanto, alcançada usando formas vivas e enfraquecidas do vírus, ou com parte ou todo o vírus, uma vez que esta é inativo por calor ou produtos químicos.

Mas estas estratégias têm desvantagens, considerando que a forma viva pode continuar ativa e a evoluir no hospedeiro - normalmente pessoas saudáveis - acabando por recuperar parte de sua virulência e deixando o recetor doente.

Os ensaios clínicos em humanos decorrer em três fases distintas. Numa primeira fase testam-se em pessoas saudáveis. Na segunda já é com um grupo maior e com pessoas de regiões onde a doença se tenha propagado. Finalmente, a terceira e última fase é com milhares de pessoas de uma área afetada pela doença.

A questão é que cada uma destas fases demora cerca de seis a oito meses. E as vacinas devem ser rigorosamente testadas para garantir que, para além de prevenirem as doenças, não causam outros efeitos colaterais perigosos.

Ou seja, no mínimo, só após um ano e meio de testes é que, normalmente, é possível ter e implementar uma vacina.
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