Covid-19: podemos ser infetados duas vezes?

por Inês Moreira Santos - RTP
Filippo Venezia - EPA

Há relatos de pessoas que, depois de se curarem da Covid-19, são novamente infetadas. Mas há investigadores que consideram improvável haver risco de reinfeção pelo novo coronavírus. Fica a dúvida: podemos ou não ser infetados mais que uma vez?

Em fevereiro uma mulher no Japão, que tinha estado doente com Covid-19 e que recuperou, ficou infetada uma segunda vez.

A japonesa de 40 anos fez os testes no fim de janeiro - os quais deram positivo - e, após recuperar e os testes darem negativo, teve alta hospitalar. Uns dias depois, já em fevereiro, a mesma mulher começou a ter sintomas, como dores de garganta e dores no peito, e realizou novamente os testes de diagnóstico para o novo coronavírus, que confirmaram a infeção, pela segunda vez.

Segundo o Guardian, também na China houve relatos de pessoas que foram infetadas uma segunda vez pelo novo coronavírus.

Depois destes casos surgiu a dúvida e o receio de se poder ser infetado duas vezes, mesmo depois de já estar recuperado.
Pessoas infetadas tornam-se imunes?
Embora a maioria das pessoas consiga desenvolver imunidade para a maioria dos vírus depois de serem infetadas uma vez, ainda não é claro se o mesmo acontece com SARS-CoV-2, o vírus que causa a Covid-19.

O problema é que o número de pessoas que tiveram positivo, pela segunda vez, nos exames à Covid-19, é pequeno e insuficiente para se poder tirar conclusões. Além disso, não se tem a certeza se esses casos envolveram uma nova infeção ou uma recaída da primeira infeção.

Um estudo realizado recentemente na China, onde eram analisados macacos infetados com o novo coronavírus e que desenvolveram anticorpos contra o vírus, descobriu que, ao serem expostos pela segunda vez, os macacos estavam imunes e não eram de novo infetados.

"Considerando os testes serológico, exames radiológicos e patológicos, os macacos com reexposição não apresentaram reincidência de Covid-19", lê-se no estudo.

Os imunologistas consideram, no entanto, que são necessárias mais investigações.

Não se sabe se a imunidade a este novo vírus dura toda a vida, e segundo os dados conhecidos sobre outros coronavírus, os anticorpos apenas dão imunidade temporária, geralmente durando cerca de três meses.

Este estudo mostra que os "macacos infetados com SARS-CoV-2, o vírus que causa o COVID-19, estão protegidos contra os sintomas quando infetados pela segunda vez um mês depois", explica John Taylor, professor sênior de virologia do Universidade de Auckland.

"Para além de não haver sintomas após a segunda exposição, os investigadores não conseguiram detetar nenhum vírus nos animais reinfetados".

A questão é que ainda não há dados suficientes para provar que o organismo humano cria imunidade, nem pelo contrário, que fica suscetivel a um reinfeção.
Coronavírus desafia imunologia

Quando há infeção viral, o corpo do paciente desenvolve anticorpos muito específicos para o vírus que o infetou. O doente recupera da infeção e deixa de sentir sintoma quando já tem anticorpos suficientes para a combater.

Depois de recuperado da infeção, esses anticorpos não desaparecem do organismo e, portanto, tornam o paciente imune a esse vírus. Assim, quando a pessoa é exposta novamente ao mesmo patógeno, o sistema imunitário responde imediatamente, evitando uma nova infeção.

A imunidade a determinado agente patogénico pode durar a vida toda. Mas não a todos, como é o caso de outros coronavírus que provocam a conhecida "gripe".

A verdade é que pouco se sabe ainda sobre este novo coronavírus, mas os especialistas acreditam que há duas formas de combater a pandemia: o desenvolvimento de uma vacina eficaz ou a população desenvolver uma "imunidade natural" quando é contaminada.

A capacidade de o ser humano se tornar imune à Covid-19, após a primeira infeção, é um tema que ainda terá algum debate e, por agora, continuará a suscitar dúvidas.
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