Covid-19. Trabalhadores da Amazon e Instacart em greve por melhores condições de segurança

por RTP
Reuters

Trabalhadores de armazéns e de empresas de entregas e vendas nos EUA, como a Amazon e a Instacart, entraram em greve na segunda-feira. Protestam contra medidas de segurança inadequadas e uma remuneração insuficiente face aos riscos que enfrentam no dia-a-dia.

Em Staten Island, Nova Iorque, um grupo de funcionários da Amazon participou nos protestos de segunda-feira depois de vários trabalhadores do armazém terem testado positivo para a Covid-19. Ao longo dos Estados Unidos, vários trabalhadores em pelo menos sete armazéns da Amazon testaram positivo à doença.

Ao segurarem cartazes onde se lê “A nossa saúde é essencial”, “Tratem os funcionários como os vossos clientes”, os trabalhadores da gigante americana exigem reformas nos subsídios de doença e que as instalações sejam encerradas para uma limpeza profunda, com salários garantidos durante esse período.

A greve foi liderada do Christian Smalls, um funcionário que aconselhou a empresa a encerrar aquele local de trabalho durante um período de tempo, depois de uma colega ter testado positivo há duas semanas atrás.

“Ela esteve lá na semana passada. Não sabemos há quanto tempo é que ela estava infetada”, disse Smalls ao The New York Times, acrescentando que outros funcionários têm vindo a queixar-se de sintomas compatíveis com a doença, como febre, e continuam a trabalhar.

À Agência France Presse, a empresa respondeu que “estas acusações são simplesmente infundadas”. “Tomámos medidas extremas para garantir a segurança dos trabalhadores, realizando uma limpeza profunda três vezes mais do que o normal, adquirindo equipamentos de segurança e modificando os procedimentos para garantir a distância de segurança”, argumentou Timothy Carter, um porta-voz da Amazon.

Pouco tempo depois dos protestos, Smalls recebeu um e-mail da empresa a informar que tinha sido demitido por ter “violado as diretrizes de distanciamento social e colocado a segurança dos outros em risco” ao deslocar-se ao local de trabalho durante o seu período de quarentena remunerada.

No entanto, na rede social Twitter, o funcionário nega que estivesse de quarentena e contesta a empresa, apresentando vídeos a comprovar que se encontrava ainda a trabalhar durante a semana passada.

“Não acreditem nestas mentiras. Verifiquem a minha página. Eu estive lá a semana toda. A companhia violou as suas próprias diretrizes de segurança”, escreveu Christian Smalls na rede social.


“Isto parece-se com distanciamento social? Parece que eu estou numa quarentena paga de 14 dias? Isto é o meu telemóvel, eu estive lá todos os dias da semana passada”, disse ainda Smalls enquanto se vê um vídeo gravado onde diz ser a empresa.
“Estamos a recusar trabalhar para proteger os clientes”
Por sua vez, os trabalhadores da Instacart exigem material de proteção, como desinfetante, e um ordenado extra de cinco dólares como um pagamento de risco. Exigem ainda um alargamento do subsídio de doença – atualmente limitado a trabalhadores diagnosticados com Covid-19 – para incluir qualquer pessoa que possua um atestado médico.

“Não estamos a recusar trabalhar apenas para nos protegermos a nós próprios, estamos a recusar trabalhar para proteger os nossos clientes”, disse ao The New York Times Vanessa Bain, uma funcionária na Instacart em Silicon Valley, Califórnia.

Numa carta aberta, os funcionários da Instacart dizem ter instado a empresa a tomar as devidas medidas de proteção e segurança, mas foram ignorados. “Em vez disso, a Instacart transformou esta pandemia numa campanha de relações públicas, retratando-se como o herói das famílias que estão isoladas ou em quarentena”, lê-se na carta.

“A Instacart ainda não forneceu proteções essenciais aos compradores que poderiam impedi-los de se tornarem portadores, adoecerem ou pior. A promessa da Instacart de pagar aos compradores até 14 dias, se diagnosticados com a doença ou colocados em quarentena obrigatória, não só fica aquém, como também não está a ser respeitada”, acrescentam.

De acordo com The New York Times, a Instacart disse estar a tentar que fosse distribuído desinfetante para as mãos para os funcionários. Disse ainda que os trabalhadores terão direito a um bónus e a incentivos.

A nossa equipa tem um compromisso inabalável de dar prioridade à saúde e segurança de toda a comunidade Instacart”, disse Nilam Ganenthiran, presidente da distribuidora alimentar, em comunicado. “Avaliamos a crise da Covid-19 minuto a minuto para fornecer apoio em tempo real aos compradores e clientes”.

Embora os números da adesão à greve não sejam claros, os organizadores acreditam que centenas dos 200 mil trabalhadores da Instacart estavam a recusar apresentar-se ao trabalho. No entanto, na segunda-feira, a distribuidora de produtos alimentares desmentiu estes números e disse que foi inclusivamente registado um aumento de 40 por cento no número de pessoas a trabalhar no atendimento dos pedidos – as quais a empresa apelida de compradores – em comparação com os números da semana anterior. A Instacart disse ainda que foram vendidos mais produtos nas últimas 72 horas do que nunca.

Em relação à Amazon, os organizadores da greve em Nova Iorque dizem que várias dezenas de trabalhadores participaram no protesto. No entanto, a empresa diz que foram menos de 15 dos cerca de cinco mil funcionários daquele armazém.
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