Covid-19. Trabalhadores migrantes pulverizados com desinfetante na Índia

por Inês Moreira dos Santos - RTP
EPA

Um grupo de trabalhadores migrantes foi "desinfetado" por pulverização, na cidade de Bareilly, no Estado indiano de Uttar Pradesh. O incidente ocorreu na segunda-feira e está a gerar polémica.

Milhares de trabalhadores migrantes e famílias têm retornado a casa e às terras de origem, depois de ter sido decretado pelo Governo indiano, na quinta-feira passada, um regime de confinamento total por 21 dias - como medida de prevenção de propagação do Covid-19 - e de milhares de pessoas terem ficado, em consequência, sem emprego.

Embora muitos serviços tenham deixado de funcionar e muitos dos transportes tenham sido reduzidos e cancelados na Índia, nos últimos dias, algumas pessoas têm conseguido chegar a casa.

Na segunda-feira, um grupo de migrantes que retornava a Bareilly, no norte da Índia, foi recebido com um "banho" forçado de desinfetante. Num vídeo, divulgado pela imprensa local e que se tornou viral nas redes sociais, vêem-se três pessoas com equipamentos de proteção, pulverizando a solução desinfetante - usada para desinfetar superficies, autocarros e ruas - diretamente num grupo de trabalhadores indianos.



As autoridades de saúde locais terão pedido aos profissionais responsáveis pela limpeza e saneamento que desinfetassem autocarros e outros transportes, de forma a impedir a propagação do novo coronavírus, numa altura em que muitos indianos regressam a casa.

De acordo com o chefe dos bombeiros de Bareilly, Chandra Mohan Sharma, o produto químico usado foi hipoclorito de sódio. Muitas pessoas do grupo, principalmente crianças, queixaram-se de sensação de queimadura no corpo e de olhos irritados e "vermelhos".


"Os desinfetantes têm produtos químicos. E não devem ser usados ​​em seres humanos, não devem entrar em contato com os olhos. Este vídeo está sendo investigado", garantiu à imprensa local o responsável pelos bombeiros da região.
Pulverização por "excesso de zelo"
Nitish Kumar, a principal autoridade do governo em Bareilly, confirmou que os profissionais de saúde pública receberam ordens para desinfetar autocarros, mas que num excesso de "zelo" podem ter usado o mesmo produto para desinfetar os trabalhadores migrantes que regressavam à cidade.

"Pode ter acontecido devido ao seu zelo excessivo", lamenta.

"Pedi que fossem tomadas medidas contra os responsáveis ​​por isto", disse Kumar no Twitter, garantindo também que o vídeo que circula está a ser investigado e as pessoas que foram alvo da pulverização estão a ser tratadas.

Lav Agarwal, o ministro indiano da Saúde e Bem-Estar da Família, disse que as autoridades locais envolvidas no incidente foram já "repreendidas", acrescentando que a pulverização de trabalhadores migrantes não é uma política "necessária" no país.

"Esta é uma ação excessivamente zelosa realizada por alguns funcionários no terreno, por ignorância ou medo", disse.

Desde a última quinta-feira, a Índia está sob um regime de 21 dias de confinamento total decretado pelo primeiro-ministro, Narendra Modi, para tentar conter a propagação do vírus no país. Além do isolamento imposto, o governo pediu que se fechassem fronteiras entre regiões, de forma a evitar que as regiões mais rurais e pobres da Índia fossem afetadas pelo novo coronavírus.

Até ao momento, a Índia regista 1.200 casos confirmados do novo coronavírus em todo o país e 32 mortes.

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