Dados de ONG. Número de deslocados internos no mundo aproxima-se dos 60 milhões

por RTP
Desde 24 de fevereiro, dia do início da ofensiva russa contra a Ucrânia, o número de deslocados internos neste país cresceu para mais de oito milhões Gleb Garanich - Reuters

O número de pessoas internamente deslocadas à escala global ascendeu, em 2021, a 59,1 milhões, um patamar histórico. Cerca de metade destes deslocados intra-fronteiras - por causa de guerras ou desastres naturais - tinham menos de 18 anos. É o que mostra o estudo GRID 2022, agora publicado pelo Centro de Monitorização de Deslocados Internos e pelo Conselho Norueguês para os Refugiados.

O relatório do IDMC e do NRC aponta para o segundo maior crescimento anual de deslocados internos da última década. Isto depois de, em 2020, ter sido apurado um número sem precedentes, sobretudo devido a catástrofes naturais.

O número agora apurado - 59,1 milhões de deslocados - não inclui pessoas que procuram refúgio em países terceiros. A tendência, observam as organizações não-governamentais, é de sucessivos aumentos anuais.

"O ano de 2022 parece sombrio", antecipou em conferência de imprensa Alexandra Bilak, diretora do Centro de Monitorização de Deslocados Internos (IDMC, na sigla em inglês), numa referência às consequências humanitárias da invasão russa da Ucrânia.Desde 24 de fevereiro, dia do início da ofensiva russa contra a Ucrânia, o número de deslocados internos neste país cresceu para mais de oito milhões, de acordo com as Nações Unidas.


O quadro mundial "nunca foi tão mau", assinalou, por sua vez, o secretário-geral do Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC). Jan Egeland foi ao ponto de afirmar que "o mundo está a desmoronar-se".

"A situação atual é, na verdade, incrivelmente pior do que o nosso número recorde sugere. Precisamos que os líderes mundiais façam uma mudança titânica no seu pensamento sobre a prevenção e resolução de conflitos para acabar com esta espiral de sofrimento humano", sustentou o responsável.
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Em 2021, a África subsaariana foi a região com o maior número de deslocados internos. Mais de cinco milhões destas pessoas movimentaram-se na Etiópia, onde decorre, desde o final de 2020, um conflito armado, no Tigray - é mesmo o número mais pronunciado de sempre para um único país.

Também na República Democrática do Congo e no Afeganistão se verificaram números de deslocados sem precedentes. Em território afegão, a situação agravou-se com o regresso do regime taliban ao poder em Cabul, a par da seca extrema. Myanmar, a antiga Birmânia, foi outro dos países com números históricos, depois do golpe militar de fevereiro do ano passado.

Já Médio Oriente e Norte de África apresentam os números de deslocados internos mais baixos em dez anos.

A Síria tem ainda o maior número de deslocados internos gerado pela guerra, com 6,7 milhões no final de 2021. Seguem-se República Democrática do Congo, com 5,3 milhões, Colômbia, com 5,2 milhões e Afeganistão e Iémen, ambos com 4,3 milhões de deslocados.
O peso dos desastre ambientais
Os desastre naturais constituem ainda o principal motivo para deslocações internas: 23,7 milhões em 2021; até 94 por cento destas deslocações deveram-se catástrofes climáticas e meteorológicas, nomeadamente ciclones, inundações e secas.

China, Filipinas e Índia representam 70 por cento do número global de deslocados internos por causa de catástrofes naturais.

O secretário-geral do NRC sinaliza uma tendência crescente para o entrecruzar de guerras e desastres naturais É o que sucede em Moçambique, Somália, Sudão do Sul ou Myanmar.

c/ agências

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