Degelo. Nível do mar pode subir 2,5 metros mesmo cumprindo o Acordo de Paris

por RTP
No início deste ano, foram pela primeira vez registadas temperaturas superiores a 20 graus centígrados na Antártida. Ueslei Marcelino - Reuters

O nível do mar pode aumentar até 2,5 metros em todo o mundo devido ao degelo da Antártida, mesmo que as metas do Acordo de Paris sejam alcançadas, concluiu um estudo alemão. Os cientistas acreditam que grande parte do gelo irá derreter até ao início do próximo século e que o processo será irreversível.

Mesmo que as temperaturas voltassem a descer depois de subirem mais dois graus centígrados – o limite estabelecido no Acordo de Paris -, o gelo já não conseguiria voltar ao seu estado inicial, explica o estudo publicado na revista Nature. Isto porque, quando parte de um bloco derrete, a superfície do mesmo passa a estar a um nível mais baixo e, portanto, mais quente, dificultando novas formações de gelo.

“Quanto mais aprendemos sobre a Antártida, piores se tornam as previsões”, lamentou ao Guardian Anders Levermann, coautor do estudo desenvolvido pelo Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático, na Alemanha.

“Mesmo que cumpramos com o Acordo de Paris, vamos atingir um enorme aumento do nível do mar [devido ao degelo na Antártida], e um aumento catastrófico caso não cumpramos com o acordo”, alertou.

Apesar de o estado do manto de gelo da Antártida se manter relativamente estável há milhares de anos, o seu futuro poderá ser decidido nas próximas décadas. “Vamos ser conhecidos no futuro como as pessoas que afundaram a cidade de Nova Iorque”, frisou Levermann ao Guardian. No início deste ano, foram pela primeira vez registadas temperaturas superiores a 20 graus centígrados na Antártida.

Para Jonathan Bamber, professor de glaciologia na Universidade de Bristol, este estudo alemão “fornece provas convincentes de que até um aquecimento global moderado tem consequências incrivelmente sérias para a humanidade, e que essas consequências aumentam exponencialmente conforme aumenta a temperatura”.

“Até o aumento do nível do mar na Antártida resultante da subida de dois graus centígrados estabelecido pelo Acordo de Paris representa uma ameaça existencial para as nações. Estamos a falar do desaparecimento de nações do mapa, porque vão deixar de existir”, lamentou o especialista.

O manto de gelo da Antártida tem cerca de cinco quilómetros de espessura e guarda mais de metade de toda a água do mundo.
Gelo no Ártico também está sob ameaça
No início desta semana, também o Ártico deu sinais do impacto da crise climática, com o seu gelo a atingir o nível mínimo anual: o segundo valor mais baixo nas últimas quatro décadas.

Desta vez, o gelo foi medido em 3,74 quilómetros quadrados, sendo esta a segunda vez que essa extensão cai abaixo dos quatro quilómetros quadrados, de acordo com o norte-americano National Snow and Ice Data Center.

“É devastador ver outro verão no Ártico a terminar com tão pouco gelo”, afirmou ao Guardian a cientista Twila Moon. “Não só existe uma área de gelo muito pequena, como é também mais vulnerável no geral. O Ártico é agora um sítio diferente. Toda a esperança reside nos humanos, que têm de agir para travar esta alarmante perda de gelo”, apelou.
Tópicos
pub