Demonstração de força da Coreia do Sul após míssil de Pyongyang

por Graça Andrade Ramos - RTP

Horas depois da Coreia do Norte lançar mais um míssil na direção do Japão, o exército da Coreia do Sul publicou imagens dos treinos com os seus recém-desenvolvidos mísseis balísticos, que podem atingir alvos entre 500 e 800 quilómetros.

De acordo com a Agência de Desenvolvimento de Defesa, ADD, as cabeças dos mísseis foram e melhoradas e os testes foram os últimos antes de serem colocados no terreno.

Os de 500 quilómetros de alcance, afirmou a ADD, formam o cerne do poderio militar sul-coreano e têm capacidade de atingir alvos em todo o território norte-coreano.

Também os de 800 quilómetros de capacidade estão operacionais.

Foto: Ministério da Defesa da Coreia do Sul

Um vídeo divulgado pelos militares sul-coreanos mostra mesmo bombardeiros a lançarem bombas anti-bunker num campo muito perto da fronteira com a Coreia do Norte.

"Iremos exterminar a liderança da Coreia do Norte com a nossa capacidade aérea", refere um piloto, durante o vídeo.



Esta demonstração de força pretende lembrar ao regime comunista de Pyongyang a capacidade do seu vizinho do sul e os riscos que corre se prosseguir com o lançamento de mísseis apesar de todos os avisos da comunidade internacional.

Contudo, Seul demonstou também vontade de diálogo.

"O Governo fará esforços diplomáticos para resolver o problema nuclear da Coreia do Norte de forma pacífica", afirmou o ministro da Unificação de Seul, Cho Myoung-gyon, durante uma intervenção num fórum sobre ajuda humanitária à Coreia do Norte.

Esta noite, Pyongyang realizou o 13º lançamento de míssil deste ano. O projétil, aparentemente um míssil Hwasong-12 de médio alcance, sobrevoou a ilha japonesa de Hokkaido e caiu no mar. 



O porta-voz das forças armadas da Coreia do Sul considera que o lançamento do míssil foi uma violação das resoluções do Conselho de Segurança da ONU.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas já anunciou uma reunião de emergência para a analisar este novo desafio às suas resoluções.
"Pressões e sanções" ineficazes
China e Rússia uniram-se na denúncia da estratégia adotada até agora pela ONU, afirmando que esta se está a revelar evidentemente ineficaz.

A mais recente resolução da ONU contra a Coreia do Norte falhou o objetivo, “porque a situação se transformou num impasse bilateral entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos”, acusou esta manhã o líder do Comité para as Relações Internacionais da Câmara Alta do Parlamento russo, Konstatin Kosachev.

“Infelizmente, Pyongyang demonstrou que as suas ameaças à base americana de Guam não são um bluff”, acrescentou.

À agência RIA Novosti, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Ryabkov, reconheceu que o Governo russo está “muito preocupado” com a evolução da crise.

”Vemos uma tendência para uma escalada e estamos muito preocupados com os seus desenvolvimentos genéricos”, citou a agência. Ryabkov apontou o dedo a Washington e a Seul, afirmando que os exercícios militares conjuntos que se desenrolaram a partir de 21 de agosto ajudaram “a provocar Pyongyang a realizar este novo lançamento”.Dezenas de milhares de tropas estão a participar no exercício de duas semanas “Guardião da Liberdade” que a Coreia do Norte vê como muito provocadores e um alegado ensaio de uma invasão.

A China – que decretou há dias a proibição de novos investimentos de empresas e particulares norte-coreanos na China, aplicando a resolução da ONU - apelou de novo à contenção de todas as partes envolvidas e falou de um “ponto de viragem” na crise.

Durante o briefing diário com os jornalistas, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Hua Chunying, referiu que este lançamento comprova que “as pressões e as sanções” contra Pyongyang “não podem fundamentalmente resolver o problema”, sem contudo avançar outra solução.
"Resposta forte" incluindo de cariz militar
Depos do lançamento o Presidente norte-americano, Donald Trump, e o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, falaram ao telefone e concordaram que este não é o momento de um diálogo pacífico com a Coreia do Norte.

“O seu ato ultrajante de disparar um míssil sobre o nosso país é uma ameaça grave, séria e sem precedentes e danifica em grande medida a segurança e a paz regionais”, afirmou o primeiro-ministro japonês. Shinzo Abe
disse aos jornalistas que os Estados Unidos estão a 100% com o Japão.O "projétil não identificado" foi disparado de Pyongyang na madrugada de terça-feira, cerca das 5h57 locais (21h57 de segunda-feira, em Lisboa), segundo o Estado-Maior das Forças Armadas da Coreia do Sul. O míssil voou 2,700 quilómetros e atingiu uma altitude de 550 quilómetros e deverá ser do mesmo tipo de engenho de médio alcance que a Coreia do norte lançou em maio.

Peritos japoneses referiram que o míssil caiu na água ao largo da ilha de Hokkaido, no extremo norte do país, sem causar estragos e admitiram que deveria ter capacidade de atingir território norte-americano.

Pelo contrário, o Pentágono garantiu que o míssil não representa qualquer perigo para a América do Norte.

Mas o Chefe de Estado-Maior dos EUA concordou com o seu homólogo japonês e considerou necessária uma “resposta forte”, incluindo “medidas militares”, reportou a agência de notícias sul coreana Yonhap.

Mainichi Shinbun reporta por seu lado que as forças armadas japonesas iniciaram treinos anti-míssil nas bases norte-americanas de Yokota e e de Iwakuni, a ocidente do seu territrório.

Londres reagiu através do seu ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Boris Johnson, que se afirmou "indignado" com o "imprudente" lançamento pela Coreia do Norte.

"Indignado pela provocação imprudente da Coreia do Norte. Condeno, nos mais fortes termos, o último lançamento ilegal por parte da RPDC [República Popular Democrática da Coreia, nome oficial do país]", escreveu Boris Johnson na sua conta na rede de mensagens instantâneas Twitter.

Já a Austrália, considera a atitude da Coreia do Norte perigosa e provocatória.

A reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU foi pedida pelo governo japonês, norte-americano e sul coreano.
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