Desacordo sobre Irão causou saída de conselheiro de Segurança de Trump

por Inês Moreira Santos - RTP
Peter Nicholls - Reuters

Donald Trump demitiu, na passada terça-feira, o seu conselheiro de Segurança Nacional. Desentendimentos quanto ao Irão, ao Afeganistão, à Coreia do Norte e a outros desafios globais podem ter sido causa para a demissão de John Bolton. Os EUA consideram aliviar sanções ao Irão e voltar às negociações, mas nem todos estão de acordo.

O presidente dos Estados Unidos tem considerado a hipótese de diminuir as sanções ao Irão e, segundo a Bloomberg, John Bolton não terá concordado, acabando, assim, por ser demitido da Administração Trump.

Donald Trump, com o apoio do secretário do Tesouro Steven Mnuchin, pretende uma flexibilização das sanções contra o Irão de forma a garantir uma reunião com o presidente iraniano, Hassan Rouhani, avança a Bloomberg. Numa reunião na Sala Oval esta segunda-feira, John Bolton terá argumentado contra essa medida e, no dia seguinte, terá sido dispensado.

A verdade é que Bolton sempre defendeu a campanha de "pressão máxima" sobre o Irão, nomeadamente a saída dos EUA do Acordo Nuclear de 2015 com o Irão e a imposição de sanções. Além disso, John Bolton pedia, nos últimos tempos, que se destruísse o programa nuclear iraniano e se atacasse "preventivamente" Teerão.

Segundo consta, Bolton já tinha pressionado Trump relativamente a outras questões de política externa, como uma abordagem mais dura à Coreia do Norte, à Rússia e até ao Afeganistão.

Porém, tanto Trump como Bolton apresentaram relatos diferentes quanto à demissão do conselheiro de Segurança. O presidente diz que pediu a demissão do conselheiro de Segurança por ter discordado "fortemente" das suas sugestões. John Bolton, por sua vez, diz que apresentou a demissão ainda na noite da reunião.
EUA estão mais brandos com o Irão?

A imprensa internacional avança que Donald Trump tem intenções de reunir com Hassan Rouhani aquando da visita do líder iraniano à ONU neste mês de setembro. O Irão disse, entretanto, que a “pressão máxima” dos EUA falhou e garante que até terminar o “terrorismo económico” não há forma de os dois países negociarem.

A demissão de John Bolton, no início desta semana, estará relacionada com desacordos quanto ao alívio das sanções ao Irão para facilitar as negociações.

Os preparativos na Casa Branca para Trump se reunir com Rouhani em Nova Iorque, à margem da Aseembleia Geral da ONU, já começaram, segundo a Bloomberg. Mas não é certo que o Irão aceite negociar com os EUA enquanto estão em vigor as sanções americanas.

Após a saída de Bolton, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, mostrou-se otimista quando questionado sobre a possibilidade de reabrir as negociações com o Irão.

"Claro", respondeu Pompeo. "O presidente deixou bem claro que está preparado para se reunir sem pré-condições", garantiu segundo a Aljazeera.

Numa conferência de imprensa, Donald Trump não confirmou que pretendia reunir com o presidente iraniano, mas disse que os EUA podiam reconsiderar as sanções ao Irão.

"Vamos ver o que acontece", disse Trump, acrescentando que não deseja uma "mudança de regime" no Irão.

Charles Kupchan, membro sénior do Conselho de Relações Internacionais, disse que a saída de Bolton reduz, pelo menos, a possibilidade de haver uma escalada militar.

"É muito difícil dizer se vai haver uma reunião, dada a questão de saber se é politicamente aceitável para ambos os líderes", disse Kupchan. "Mas a probabilidade de uma reunião aumentou porque um dos seus principais opositores está agora fora".

Não se sabe ao certo, por isso, se haverá reunião entre os dois líderes nem se os EUA têm intenção de ser mais brandos na campanha "pressão máxima" contra o Irão.

Steven Mnuchin disse, em entrevista à Reuters, que os Estados Unidos ainda estão a fazer campanha de "pressão máxima" contra o Irão e que ainda não há um plano para Trump se reunir com o presidente iraniano Hassan Rouhani, embora tenha reiterado que Trump está aberto a reunir com Rouhani sem pré-condições.
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