Mundo
Guerra na Ucrânia
Donald Trump propõe-se entregar a Putin o Donbass e a Crimeia
Steve Witkoff e Jared Kushner vão deslocar-se a Moscovo enquanto representantes de Donald Trump, para entregar o plano de paz que reconhece as conquistas russas em territórios ucranianos.
De acordo com uma notícia avançada pelo britânico The Telegraph, a proposta de paz de Donald Trump deverá ser entregue formalmente no Kremlin nos próximos dias. Putin há muito que pressiona para o reconhecimento legal dos territórios ucranianos que a Rússia ocupou à força. Entre eles estão a península da Crimeia, no sul do país, anexada em 2014, e a região de Donbass, no leste, que Moscovo ocupa na sua maior parte atualmente.
O plano inicial de Trump previa, entre 28 pontos, a entrega da maioria dos territórios conquistados pela Rússia nos últimos anos.
Foi, contudo, modificado para 19 pontos, mais favoráveis aos ucranianos, após protestos da União Europeia e de Kiev, que acusaram Washington de capitular perante Moscovo.
Devido sobretudo aos esforços europeus, o plano norte-americano passou a admitir um maior número de efetivos militares ucranianos e modificou a abrangência dos termos de amnistia inicialmente previstos.
As questões de cedência territorial e da adesão da Ucrânia à NATO deveriam ser negociadas depois entre Washington e Kiev.
A iniciativa da Administração Trump, que parece assumir como certa a entrega dos territórios ocupados à Rússia, poderá por isso desconcertar os ucranianos, que afirmaram aceitar na generalidade o plano de paz revisto e se preparam para continuar a negociar.
"Portões do inferno"
Esta sexta-feira, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, anunciou que terão lugar em breve reuniões entre autoridades ucranianas e americanas sobre propostas para pôr fim à guerra com a Rússia.
Num discurso vídeo à nação, durante o qual confirmou a demissão do seu chefe de gabinete, acusado de corrução, Zelensky afirmou que altos funcionários ucranianos em representação das Forças Armadas, do Ministério das Relações Exteriores e da inteligência, participarão das conversações sobre como encerrar o conflito, que se aproxima da marca de quatro anos.
Reagindo à notícia avançada pelo Telegraph, Maria Drutska, uma antiga diplomata ucraniana, sublinhou os perigos da violação da legislação internacional sobre a proteção da soberania estatal.
Numa publicação na rede X, Drutska escreveu, "se isto for verdade, se os EUA estiverem dispostos a permitir que fronteiras sejam redesenhadas à força e que os agressores sejam recompensados, então os portões do inferno estão prestes a abrir-se. Esta poderá ser a decisão mais desestabilizadora e geradora de conflito do século XXI. Um verdadeiro Black Friday."
Numa publicação na rede X, Drutska escreveu, "se isto for verdade, se os EUA estiverem dispostos a permitir que fronteiras sejam redesenhadas à força e que os agressores sejam recompensados, então os portões do inferno estão prestes a abrir-se. Esta poderá ser a decisão mais desestabilizadora e geradora de conflito do século XXI. Um verdadeiro Black Friday."
Para os europeus, a apresentação formal do plano a Moscovo, é um péssimo sinal. Uma fonte próxima do processo sublinhou ao Telegraph que “é cada vez mais claro que os americanos não se importam com a posição europeia". "
"Dizem que os europeus podem fazer o que quiserem”, acrescentou.
Só Rússia e EUA
O Kremlin confirmou por seu lado que, até à chegada da delegação norte-americana a Moscovo, prevista para a próxima semana, a Rússia deverá ter mais informações sobre os pontos acordados no plano de paz proposto, informou a agência de notícias Interfax.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, acrescentou que Moscovo está a trabalhar com a premissa de que está a negociar o plano exclusivamente com os Estados Unidos.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, acrescentou que Moscovo está a trabalhar com a premissa de que está a negociar o plano exclusivamente com os Estados Unidos.
O presidente Vladimir Putin reiterou quinta-feira as suas principais exigências para o fim da guerra na Ucrânia, afirmando que a Rússia só deporá as armas se as tropas de Kiev se retirarem do território reivindicado por Moscovo.
Para Kiev, que descartou abdicar das partes do Donbass que ainda controla, recompensar a Rússia pela sua agressão é inaceitável.
Após o discurso de Putin, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que a Rússia "despreza" os esforços "para pôr realmente fim à guerra".
Para Kiev, que descartou abdicar das partes do Donbass que ainda controla, recompensar a Rússia pela sua agressão é inaceitável.
Após o discurso de Putin, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que a Rússia "despreza" os esforços "para pôr realmente fim à guerra".
Entrevista exclusiva
Em exclusivo à RTP, um conselheiro de Zelensky e negociador de paz, garantiu que a Ucrânia está pronta a aceitar o plano de 19 pontos entretanto negociado.
Mas Mikhailo Podolyak acrescentou que a Rússia também tem que dar sinais de que quer acabar com a guerra.
Reflexões transmitidas em entrevista exclusiva aos enviados especiais da RTP a Kiev, Paulo Jerónimo e José Pinto Dias.
Reflexões transmitidas em entrevista exclusiva aos enviados especiais da RTP a Kiev, Paulo Jerónimo e José Pinto Dias.