Em resposta a Pequim. Taiwan garante que nunca irá desistir da sua soberania

por RTP
Carlos Garcia Rawlins - Reuters

Taiwan contestou a promessa do líder chinês, Xi Jinping, de obter controlo sobre a ilha, que Pequim considera uma província sua, e garantiu que nunca vai desistir da sua soberania ou comprometer a liberdade e a democracia. Na abertura do Congresso do Partido Comunista Chinês, no domingo, Xi Jinping voltou a admitir o uso de força contra Taiwan.

Em resposta às declarações do líder chinês, no domingo, o Conselho para os Assuntos do Continente de Taiwan - o principal órgão do governo taiwanês responsável por questões relacionadas com a China – afirmou que a política de Pequim para Taiwan resulta de uma avaliação errada e não oferece novas ideias.

"A República da China é um Estado soberano e Taiwan nunca fez parte da República Popular da China", defendeu o órgão, em comunicado.

Na mesma nota é sublinhado que o povo de Taiwan "nunca vai aceitar" o chamado Consenso de 1992 ou a fórmula “um país, dois sistemas”, que é usada nas regiões de Macau e Hong Kong, que gozam de alguma autonomia. O Consenso de 1992 refere-se a um suposto entendimento tácito entre o antigo governo do Kuomintang de Taiwan e o Partido Comunista Chinês, de que ambos os lados do Estreito de Taiwan reconhecem que existe “uma só China”, com cada lado a manter a sua própria interpretação.

"A decisão sobre o futuro de Taiwan cabe aos seus 23 milhões de habitantes", refere o comunicado. "Avisamos as autoridades do PCC para que abandonem atos de coerção e agressão", acrescentou.

No domingo, Xi Jinping afirmou que “a resolução da questão de Taiwan cabe a nós, chineses” e voltou a admitir o uso da força na região, reiterando a sua determinação em contestar a independência da Ilha Formosa.

“Insistimos na procura de uma reunificação pacífica com a maior sinceridade e os maiores esforços. Contudo, não nos comprometemos a rejeitar o uso da força e reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”, alertou o líder chinês.

“Isto refere-se à interferência de forças externas e a um pequeno número de separatistas que defendem a independência de Taiwan e às suas atividades separatistas, e não à generalidade dos compatriotas de Taiwan”, acrescentou Xi Jinping, em tom de ataque velado aos EUA pelo apoio a Taiwan.

As tensões entre Pequim e Taipé intensificaram-se nos últimos meses, em grande parte devido à visita polémica da presidente da Câmara dos Representantes do Congresso dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha, em agosto. Desde essa altura, Pequim lançou os maiores exercícios militares de sempre em torno da ilha, que incluíram o lançamento de mísseis e um cerco de facto ao território.
“Contra a mentalidade da Guerra Fria”
No seu discurso da abertura do Congresso do Partido Comunista Chinês, que abre caminho para um terceiro mandato de Xi Jinping, o líder chinês prometeu conduzir a China através de graves desafios em direção ao rejuvenescimento nacional.

Xi Jinping adotou um tom confiante, destacando a força crescente da China e a crescente influência na sua primeira década no poder. No entanto, também salientou os riscos e desafios que o país enfrenta e descreveu os últimos cinco anos desde o último congresso do partido como “extremamente incomuns e anormais”.

"Devemos fortalecer o nosso sentido de dificuldade, estar preparados para o perigo em tempos de paz, prepararmo-nos para um dia chuvoso e estar prontos para resistir a grandes testes de ventos fortes e ondas altas", disse Xi Jinping.

O líder chinês dedicou poucos minutos do seu discurso à covid-19 – um tema que gerou grande contestação interna, em parte devido à política “covid zero”. Xi Jinping anunciou a preservação desta política, que tornou a China uma exceção global, já que o mundo tenta agora coexistir com o vírus, que surgiu na China nos finais de 2019.

"Aderimos à supremacia do povo e à supremacia da vida, aderimos à dinâmica zero covid e alcançamos grandes resultados positivos na prevenção e controlo geral da epidemia e no desenvolvimento económico e social", disse Xi Jinping, frustrando as esperanças de inúmeros cidadãos chineses e investidores de que Pequim poderia começar a sair em breve da política que causou contestação generalizada e danos económicos. Xi Jinping prometeu ainda aumentar a força militar do país. “Vamos reforçar a governação militar em todos os aspetos, vamos consolidar as medidas de defesa nacional, bem como as reformas militares”, anunciou.

De fora do discurso da abertura do Congresso do Partido Comunista Chinês ficou a invasão da Ucrânia, que Pequim se recusa a criticar.

O líder chinês mostrou, no entanto, ter ideias bem concretas sobre a política externa. “A China está firmemente contra todo o tipo de hegemonia, poder político, mentalidade da Guerra Fria, interferência nos assuntos internos de outro país e contra a duplicidade de padrões. A China nunca procurará a hegemonia nem enveredará pelo expansionismo”.

Xi Jinping deverá ser reconduzido para um terceiro mandato presidencial, o que será histórico. Até agora, os líderes do Partido Comunista Chinês passavam o testemunho ao fim de dois mandatos. As alterações constitucionais de 2018 abrem portas à perpetuação de Xi Jinping no poder, possivelmente por tempo indeterminado.

c/ agências
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