Erdogan promete manter ofensiva contra curdos "até à vitória final"

por Carlos Santos Neves - RTP
Desde as primeiras vagas de bombardeamentos, morreram pelo menos 128 combatentes curdos e 69 civis Sedat Suna - EPA

No momento em que as tropas do regime sírio de Bashar al-Assad marcham para a fronteira setentrional com a Turquia, em apoio às forças curdas, o Presidente turco reitera que a ofensiva desencadeada na semana passada contra esta minoria étnica é para manter “até à vitória final”. Ancara veio também esta segunda-feira acusar os curdos de terem libertado ex-combatentes do autoproclamado Estado Islâmico para “semear o caos” na região.

“Estamos determinados a continuar com a operação até ao fim, sem dar atenção a ameaças. Vamos, absolutamente, acabar o trabalho que começámos. A nossa batalha vai continuar até à vitória final”, clamou o Presidente turco durante um discurso em Baku.A União Europeia condenou esta segunda-feira a ofensiva turca contra os curdos na Síria e voltou a apelar a um imediato cessar das operações militares.


Lançada na passada quarta-feira, a ofensiva militar turca no nordeste da Síria tem por objetivo declarado estabelecer uma denominada “zona de segurança” – com um alcance de 32 quilómetros em solo sírio – que separe a linha de fronteira da Turquia dos territórios das YPG (Unidades de Proteção Popular). Uma milícia curda que Ancara classifica como organização terrorista.

Até agora, as tropas da Turquia terão já ocupado uma faixa com uma extensão de cerca de 120 quilómetros, desde a localidade fronteiriça de Tel Abyad até Ras al-Ain, a ocidente.

Em visita ao Azerbaijão, Recep Tayyip Erdogan apontou ainda baterias à União Europeia e à Liga Árabe, repudiando as críticas à operação em curso contra os curdos na Síria. O Presidente turco defendeu mesmo a atribuição de fundos internacionais que permitam consolidar a “zona de segurança” projetada pelos seus estrategas militares.

Também esta segunda-feira o ministro turco da Defesa, Hulusi Akar, acusou os combatentes das YPG de terem esvaziado uma cadeia onde sem encontravam detidos ex-combatentes do Estado Islâmico – o único complexo, segundo o governante, até ao momento alcançado pelas forças de Ancara. Os prisioneiros teriam sido transferidos.

A coberto do anonimato, um responsável turco citado pela France Presse foi ao ponto de acusar as forças curdas na Síria de terem libertado propositadamente elementos conotados com o Daesh, em Tel Abyad, para assim “semear o caos” no nordeste da Síria.
Tropas de Assad rumam a nordeste

Sem o apoio de quaisquer meios militares dos Estados Unidos, removidos pela Administração Trump na antecâmara da ofensiva turca, os curdos voltaram-se para o regime sírio de Bashar al-Assad. O acordo de assistência militar foi anunciado no domingo.

Esta segunda-feira, as tropas de Damasco começaram a posicionar-se na região da fronteira com a Turquia, numa tentativa de travar a progressão das forças regulares do país vizinho e de combatentes sírios que as secundam.

Luís Baila - RTP

Em Ras al-Ain, onde a ofensiva turca tem sido contrariada pelas Forças Democráticas Sírias, aliança entre curdos e árabes, as tropas do regime do Presidente Assad foram saudadas pela população local.

O Observatório Sírio dos Direitos Humanos, organização com sede na Europa, afirma que algumas unidades do exército sírio estão a seis quilómetros da fronteira turca.

“Se tivermos de escolher entre o compromisso e o genocídio, escolheremos o nosso povo”, vincou Mazloum Abdi, comandante das Forças Democráticas Sírias, num depoimento publicado pela revista Foreign Policy. É a justificação para a aproximação curda a Damasco e a Moscovo.

Desde as primeiras vagas de bombardeamentos, morreram pelo menos 128 combatentes curdos e 69 civis. Morreram ainda 94 combatentes pró-Turquia. Os números são igualmente do Observatório Sírio dos Direitos Humanos. De acordo com as Nações Unidas, há 130 mil pessoas deslocadas.

Ancara confirmou, por seu turno, as mortes de quatro soldados turcos em território sírio e de 18 civis, que terão sido vitimados por rockets curdos lançados sobre localidades fronteiriças.

c/ agências
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