Estados Unidos. Juíza determina fiança para pais de adolescente suspeitos de homicídio involuntário

por RTP
A audiência dos pais de Ethan Crumbley decorreu por videoconferência e é o culminar de 24 horas de movimentações que incluem a alegação de envolvimento nos crimes do filho Reuters

Os pais do adolescente acusado da morte de quatro colegas da escola secundária foram presentes ao juiz na tarde de sábado. Alegaram inocência perante as acusações de homicídio involuntário, apesar de terem levantado quatro mil dólares numa máquina multibanco horas antes de serem procurados pela polícia. A juíza estabeleceu uma caução de 500 mil dólares para que possam sair da cadeia, tendo ainda de usar um dispositivo GPS.

A acusação sublinha que que os pais compraram a arma como presente de Natal para o filho de 15 anos e que ignoraram os sinais de alerta, incluindo na terça-feira, quando o rapaz disparou na escola secundária de Oxford, a 60 quilómetros a norte de Detroit, nos Estados Unidos, matando quatro colegas. Tinham entre 14 e 17 anos. Outras sete pessoas foram feridas.

James e Jennifer Crumbley foram alvo de uma caça ao homem de larga escala na sexta-feira, após terem deixado de atender as chamadas dos advogados e de terem faltado a uma audiência em tribunal, na sequência do anúncio de que iriam ser acusados de quatro crimes de homicídio.

Tinham sido vistos em público pela última vez no dia anterior e foram encontrados num edifício comercial na zona leste da cidade, tendo garantido que não invadiram o local. Foram denunciados por uma pessoa que identificou a viatura do casal no exterior do edifício.

A juíza Julie Nicholson teve dúvidas quanto ao perigo de fuga, após o casal não ter comparecido à audiência de sexta-feira. “Estas não são pessoas que possamos garantir que voltem a tribunal de moto próprio”, insistia a procuradora do condado de Oakland, Karen MacDonald. No entanto os dois advogados de defesa garantiram que o casal nunca pensou em fugir às autoridades e que James e Jennifer Crumbley não tinham sido avisados das acusações iminentes. Quanto ao levantamento de dinheiro, era apenas “uma questão de logística”.

Ainda na sexta-feira, a procuradora tinha dado uma conferência de imprensa em que descrevia o comportamento dos pais de "chocante", para justificar as quatro acusações de homicídio involuntário aos pais do atirador, algo muito raro no sistema legal americano. Incorrem em 15 anos de prisão.

Durante a acusação, a mulher chorava enquanto eram lidos os nomes das quatro vítimas mortais. O homem sorriu, riu, balançou a cabeça e ergueu as sobrancelhas em vários momentos da leitura da acusação. As audiências preliminares estão marcadas para 14 e 22 de dezembro.

O casal está na prisão do condado de Oakland, a mesma em que se encontra o filho. Ethan Crumbley está detido sem fiança e foi acusado enquanto adulto pela suspeita de levar a cabo o mais mortífero ataque perpetrado numa escola americana este ano. Também Ethan disse estar inocente e está sob vigilância por perigo de suicídio. Deverá voltar a tribunal no dia 13.

O tiroteio nesta escola do Estado do Michigan é o mais recente caso de disparos num estabelecimento de ensino nos Estados Unidos, onde os ataques são cada vez mais frequentes.

Arma como presente de Natal

O filme dos acontecimentos começa quarto dias antes do ataque de terça-feira- dia 30 de novembro, quando o pai foi a uma loja, na companhia do filho, comprar uma arma de 9 mm Sig Sauer. A lei do Michigan proíbe que menores de 18 anos comprem ou possuam armas de fogo, exceto em determinadas circunstâncias, como caça com licença e sob a supervisão de um adulto.

"Acabei de receber minha nova beleza hoje", publicou Ethan nas redes sociais, adicionando um emoji em forma de coração. No dia seguinte, a mãe postou que os dois estavam a "testar o novo presente de Natal", revelou a procuradora do condado de Oakland.

No entanto, a procuradora referiu outros sinais de alerta, até anteriores à compra da arma semiautomática, e que na sua perspetiva deveriam ter merecido uma ação preventiva dos pais.

A 21 de novembro, um professor encontrou Ethan a pesquisar por munições no telemóvel. A escola tentou contactar a mãe, tendo deixado uma mensagem de voz e enviado um email que não tiveram resposta. Num SMS da mãe para Ethan pode ler-se: "Lol não estou zangada contigo. Precisas de aprender a não ser apanhado".

No dia antes dos disparos, a arma semiautomática ficou guardada numa gaveta sem segurança no quarto dos pais, mas já causava inquietação na escola secundária.

Na manhã do tiroteio, um professor viu desenhos de Ethan que mostravam uma arma, uma bala e uma figura a sangrar ao lado das palavras "Sangue por toda parte", "A minha vida é inútil" e "Os pensamentos não param – ajuda-me". O rapaz foi levado a aula e os pais chamados à escola.

Ethan argumentou que os desenhos eram para um jogo de vídeo em que estava a trabalhar e que queria fazer isso como profissão, refere o superintendente das escolas comunitárias de Oxford numa carta enviada à comunidade escolar este sábado.

"Em nenhum momento os conselheiros acreditaram que o aluno pudesse prejudicar os outros com base no seu comportamento, respostas e carácter, que parecia calmo", refere Tim Throne na carta.

Segundo a procuradora, os pais foram mandados “levar o filho a um aconselhamento dentro de 48 horas”. Já a autoridade escolar refere que o casal "se recusou terminantemente" a sair com o filho. “Tanto James quanto Jennifer Crumbley não perguntaram ao filho se ele estava com a arma ou onde a arma estava e não inspecionaram a sua mochila”, disse a procuradora.

Ethan voltou para a aula com a arma na mochila e, logo após o almoço, saiu de uma casa de banho empunhando a arma. Matou quatro alunos ao acaso e feriu sete outras pessoas, incluindo um professor.

“A ideia de que um pai pode ler as palavras [no desenho] e saber que o filho tem acesso a uma arma mortal que lhe deram é de uma grande falta de consciência. E acho que é um crime ”, disse a procuradora.

Após as notícias dos disparos na escola, a mãe enviou uma mensagem SMS ao filho a dizer “Ethan, não o faças”, enquanto o pai conta que foi de imediato para casa procurar a arma. Depois, o pai participou o desaparecimento da arma e referiu que o seu filho poderia ser o atirador.
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