Ex-assessor de Donald Trump considera-se culpado em tribunal

por Graça Andrade Ramos - RTP
Reuters

Michael Flynn, antigo assessor para a segurança nacional de Donald Trump, admitiu hoje que mentiu ao FBI no inquérito sobre contactos com a Rússia nas eleições presidenciais.

O general reformado admitiu perante o juiz que cometeu "erros graves" e prontificou-se oficialmente a "colaborar totalmente" com a Justiça norte-americana e a equipa que investiga o caso, do procurador Robert Mueller.

De acordo com a ABC, Flynn terá também concordado em testemunhar que foi Trump, ainda candidato presidencial, a ordenar-lhe para contactar com os russos.
Flynn estará também preparado para implicar "membros da família Trump, e outros na Casa Branca", refere uma segunda publicação da ABC na rede social Twitter.
A bolsa de Wall Street caiu após estas notícias, apesar da Casa Branca já ter dito que a admissão de culpa por parte de Flynn só o implica ele.

O argumento foi usado pelo advogado de Trump, Ty Cobb. E o papel de Flynn na Administração Trump está também a ser minimizado, num esforço para distanciar a Casa Branca do ex-conselheiro.O índice Dow Jones perdeu 1,35%, o Nasdaq 1,92% e o S&P 500 1,51%.

"O falso testemunho espelha os falsos testemunhos feitos a responsáveis da Casa Branca e que resultaram na sua demissão em fevereiro deste anos", afirmou Cobb.

"Esta declaração [de culpa] abre caminho ao fim pronto e razoável" da Comissão Especial à interferência russa da campanha presidencial de 2016 e a potencial implicação da campanha de Trump, acrescenta o advogado membro da equipa da Casa Branca.

O próprio Presidente terá afirmado não estar admirado com a admissão de culpa de Flynn, já que o general reformado também mentiu à sua própria Administração.

Michael Flynn terá decido acusar Trump depois "de se ter sentido abandonado pelo Presidente" e por estar a enfrentar custos judiciais incomportáveis, afirmaram à ABC amigos próximos do general reformado.

Flynn abandonou o tribunal pouco depois de assinar a sua declaração de culpa, entre gritos de "prendam-no" por parte de manifestantes.
Foi a expressão usada pelo próprio Flynn durante contra Hillary Clinton, sobre acusações que se vieram a revelar infundadas. Na altura Flynn pediu que a "prendessem".
A conversa, as mentiras, a culpa
O general Flynn tinha sido indiciado na quinta-feira por ter mentido quanto ao teor das conversações em dezembro de 2017, já depois das eleições ganhas por Trump, com o embaixador russo em Washington, Sergueï Kisliak, sobre sanções impostas pelos Estados Unidos a Moscovo.

Flynn tinha garantido ao FBI que não tinha pedido ao embaixador russo para o país se “retrair” e não reagir a novas sanções decididas pela Administração cessante de Barack Obama.

Na altura garantiu ainda que mentiu ao próprio vice-presidente Mike Pence sobre a natureza destas conversas.

Flynn foi hoje presente a juiz e admitiu a sua culpa, como se pode ler na declaração publicada na íntegra pela equipa especial do FBI que investiga as ligação entre Moscovo e a equipa de Donald Trump.
O general na reserva afirmou que decidiu "assumir total responsabilidade" pelas suas ações, após suportar "muitos meses de falsas acusações de `traição` e outros atos ultrajantes", que lhe foram "extraordinariamente dolorosos".

"Após mais de 33 anos de serviço militar ao nosso país, incluindo quase cinco anos em combate longe da minha família, e depois da minha decisão de continuar a servir os Estados Unidos, tem sido extraordinariamente doloroso suportar estes muitos meses de falsas acusações de `traição` e outros atos ultrajantes", lê-se no texto.

"Essas falsas acusações são contrárias a tudo o que sempre fiz e defendi. Mas reconheço que as ações que admiti hoje em tribunal foram erradas e, com a minha fé em Deus, estou a trabalhar para corrigir o que fiz", prosseguiu.

"O facto de me ter declarado culpado e o acordo para cooperar com o Gabinete Especial refletem a decisão que tomei no interesse da minha família e do nosso país. Assumo total responsabilidade pelos meus atos", conclui.
A análise da correspondente da RTP em Washington, Márcia Rodrigues.

Foi a investigação de Robert Mueller, procurador especial, quem primeiro acusou Flynn de mentir.

“Dia 24 de janeiro de 2017, o acusado Michael Flynn emitiu obstinadamente e conscientemente, declarações que são materialmente falsas, imaginárias ou fraudulentas”, afirmam os investigadores do procurador no documento de acusação, de duas páginas.

Flynn é agora acusado de "prejudicar" as investigações devido às suas mentiras. Terá também feito um acordo de cooperação com o FBI para as acusações contra si serem do teor menos grave possível, apesar da mentira a um agente do FBI poder implicar vários anos de prisão.
O quarto acusado
O general foi diretor de informações militares dos Estados Unidos e é o quarto membro da equipa presidencial próxima de Trump a ser acusado de mentir e de ligações próximas à Rússia.

Na altura dos factos em causa, o general era um conselheiro de Donald Trump e não um membro da Administração americana. Contudo, a mentira ao FBI ocorreu já depois da entronização do novo Presidente.

Mais tarde e apenas durante algumas semanas, foi conselheiro para a segurança nacional do novo Presidente.

Demitiu-se em fevereiro, um mês apenas após a tomada de posse de Trump, quando foi revelado que havia mentido ao FBI - e ao vice-presidente - sobre as suas conversas com Kisliak.

O curriculum de Flynn mostra ligações próximas a Moscovo. Já depois de abandonar o Exército dos EUA, terá ganho milhares de dólares em conferências na Rússia pagas por conglomerados russos.

Terá ainda feito lobbye a favor da Turquia em atividades não-declaradas.
Mais três suspeitos
Após o ex-diretor de campanha de Trump, Paul Manafort, Flynn é o homem mais próximo do Presidente a ser acusado por Robert Mueller.

Um terceiro membro da equipa de Trump, Geroge Papadopoulos, admitiu ter mentido aos investigadores do FBI sobre os seus contactos com pessoas ligadas ao Governo russo e aceitou colaborar com a investigação.

O próprio Flynn terá colaborado com o FBI após fevereiro. Desde outubro passado especula-se que terá sido essa mesma cooperação que levou a acusações a Manafort por alegada lavagem de dinheiro.

Além de Manafort, foi ainda acusado o seu colaborador mais próximo Richard Gates. Ambos terão desviado dezenas de milhões de dólares através de firmas estrangeiras e de diversas contas bancárias, ao serviço de fações pró-russas na Ucrânia. Ambos decidiram também colaborar nas investigações.

Flynn é contudo e até agora o único dos quatro membros da equipa de Trump acusados de crimes a responder por factos ocorridos já durante a actual Administração.

c/Agências
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