Extrema-direita permite eleição de líder regional pela primeira vez na Alemanha

por Lusa

Pela primeira vez na história da Alemanha pós II Guerra Mundial, o líder de um estado regional foi eleito com o apoio de um partido de extrema-direita, contados os votos da terceira volta eleitoral.

O candidato do FDP, um pequeno partido liberal, Thomas Kemmerich, foi hoje eleito presidente do governo regional da Turíngia, no leste da Alemanha, graças aos votos do partido extremista de direita Alternativa pela Alemanha (AfD).

Após uma eleição muito disputada e vários meses de negociações, o líder cessante, Bodo Ramelow, do partido de esquerda radical Die Linke, tentou ser reconduzido no cargo com o apoio de uma coligação minoritária de esquerda.

Não tendo tido sucesso na primeira tentativa, numa segunda volta, Ramelow viu-se derrotado por um voto por Kemmerich, que, numa terceira volta, acabou escolhido para líder do governo regional com o apoio da AfD.

Kemmerich, de 54 anos, recebeu o apoio surpresa de todos os membros eleitos do partido Alternativa pela Alemanha, anti-imigração e anti-sistema, bem como da maioria dos membros do partido conservador CDU (da chanceler Angela Merkel).

"É a primeira vez na história da República Federal da Alemanha que um presidente regional é eleito com os votos do AfD", disse o cientista político alemão Andre Brodocz.

Até agora, os partidos tradicionais de direita e de centro-direita na Alemanha, como a CDU ou o FDP, sempre recusaram qualquer cooperação ou aliança com a extrema-direita.

Contudo, com esta eleição, a barreira foi transposta, com os partidos moderados a aliarem-se com a extrema-direita para controlar o estado da Turíngia, no leste da Alemanha, criando alvoroço político.

Bernd Riexinger, líder do Die Linke, falou mesmo de "quebra de tabu", considerando "incrível" o facto de Thomas Kemmerich ter sido eleito com os votos do AfD e dizendo que "não se trata de um acidente, mas de uma violação deliberada dos valores fundamentais do nosso país".

Também dentro do FDP, as opiniões estão divididas, com o vice-presidente Wolfgang Kubicki a falar de "um grande sucesso", enquanto outra vice-presidente, Marie-Agnes Strack-Zimmerman, se distanciou desta opção dizendo que ela é "inaceitável e insuportável".

A Turíngia é a zona onde o AfD é dirigido por uma ala mais radical do partido, com protagonismo de Bjorn Hocke, que se destacou por, no passado, ter defendido o fim da cultura alemã, no momento em que esta assumiu arrependimento pelos crimes do regime nazi de Adolf Hitler.

Os analistas atribuem ainda a explicação para este caso aos avanços da extrema-direita nos últimos anos na Alemanha, onde tem tido bons resultados eleitorais em diversas regiões e tem conseguido impor-se e normalizar-se perante os eleitores.

Em setembro passado, o AfD tornou-se a segunda força política nas regiões de Brandeburgo e da Saxónia, não muito longe da Turíngia.

Esta situação tem levado a que, dentro do partido conservador de Merkel, tenha crescido um sentimento de abertura ao diálogo com os movimentos políticos mais extremistas à sua direita, sobretudo quando a CDU começou a sentir mais dificuldade para encontrar parceiros de coligação para governar em várias regiões.

Tópicos
pub