Facebook financia dispositivo que permite ler a mente dos utilizadores

por RTP
Mark Zuckerberg na F8, a conferência anual realizada pelo Facebook, em São Francisco Reuters - Stephen Lam

Um estudo publicado esta quarta-feira na revista científica Nature Communications revelou que os algoritmos de aprendizagem já são capazes de transformar a atividade cerebral em fala. A investigação foi financiada pela empresa de Mark Zuckerberg.

“E se fosse possível escrever diretamente do cérebro?”, questionou Zuckerberg em abril deste ano.

Das ideias à realidade, o CEO do Facebook prepara-se para alcançar o que parecia ser impossível. Depois de ter anunciado, há dois anos, durante a conferência anual F8, que estava a ser criado um dispositivo que permitia transformar a atividade cerebral em fala, Mark Zuckerberg anunciou esta quarta-feira que já foi dado mais um passo em direção ao futuro.

Hoje compartilhamos uma atualização sobre o nosso trabalho para criar um dispositivo não evasivo e totalmente utilizável que permite que as pessoas escrevam apenas imaginando o que pretendem dizer”, lê-se num tweet do cientista Andrew Bosworth.


Quando o projeto foi anunciado em 2017, o objetivo consistia apenas em “descodificar um discurso silencioso”. Agora, parece já ser possível “descodificar um pequeno conjunto de palavras e frases completas, ditas em tempo real”.

Um estudo realizado pela Universidade da Califórnia, em São Francisco, apoiado financeiramente pelo Facebook Reality Labs, utilizou as respostas dadas, em voz alta, por três doentes com epilepsia a questões simples e ordenadas de forma aleatória para testar o dispositivo “do futuro”.

Isto só foi possível devido aos elétrodos previamente implantados no cérebro desses doentes que permitiram identificar as atividades e os padrões de certas partes do cérebro associados à compreensão e à produção da fala, em tempo real.

"Atualmente, os doentes com perda de fala devido à paralisia estão limitados a soletrar as palavras muito lentamente e a utilizar movimentos oculares ou espasmos musculares para comunicar”, começou por explicar o neurocirurgião especialista em epilepsia Eddie Chang.

"Mas a fala não é algo que ocorre no vácuo. Em muitos casos, a informação necessária para produzir uma fala fluente ainda está no cérebro”, acrescentou.

Os resultados do estudo publicado na Nature Communications revelaram que os algoritmos foram capazes de identificar qual foi a questão colocada em 75 por cento das vezes e calcular a resposta 61 por cento dessas vezes.

No entanto, “é importante ter em mente que o conseguimos através de um vocabulário muito limitado”, revelou David Moses, um dos cientistas envolvidos nesta investigação.

“Em estudos futuros esperamos aumentar a flexibilidade bem como a precisão do que podemos traduzir a partir da atividade cerebral", garantiu.
O dispositivo do futuro
“Em vez de olhar para uma tela de telefone ou abrir um computador, podemos manter contato visual e recuperar informações e contexto úteis sem perder o ritmo”, lê-se num post no blogue do Facebook.

Esta parece ser a ideia de Zuckerberg quando pensa em melhorar a qualidade de vida dos seus clientes. Esta inovação vai permitir aos utilizadores passar do papel à ação ou, neste caso, passar das ideias diretamente para as publicações de Facebook.

"Os investigadores esperam alcançar uma velocidade de descodificação, em tempo real, de 100 palavras por minuto com um vocabulário de 1000 palavras e uma taxa de erro menor que 17 por cento", lê-se ainda no blogue da rede social.

Interligar o cérebro com o computador pode estar a um curto passo, mas ainda há um caminho a percorrer.
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