Facebook passa a chamar-se Meta. Como está o mundo a reagir?

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Reuters

O diretor executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, anunciou na quinta-feira a mudança de nome da sua empresa para Meta. Será uma experiência imersiva onde o utilizador vai ser capaz de se sentir presente e sentir a presença de outros. As críticas não tardaram a chegar e Zuckerberg está a ser acusado de tentar desviar as atenções da controvérsia gerada pela investigação jornalística "Facebook Papers".

Na apresentação anual para informáticos e criadores, foram apresentados novos detalhes da visão que o Facebook tem para o futuro das plataformas, que passa pela aposta no Metaverso, uma nova realidade virtual que vai além de uma simples rede social, que permitirá às pessoas conectarem-se a um mesmo universo tecnológico e terem relações interpessoais que vão além das ferramentas que usamos atualmente.

A empresa mudará, assim, o seu nome, deixando o Facebook para passar a ser chamada de Meta. Ou seja, Facebook passará a ser apenas o nome da rede social. O Instagram, Messenger e WhatsApp também não irão mudar de nome, assim como a estrutura corporativa da empresa também não irá sofrer alterações.

Zuckerberg descreve o Metaverso como um “ambiente virtual”, no qual o utilizador é capaz de entrar, em vez de apenas ficar perante uma tela. Essencialmente, é um mundo de comunidades virtuais interconectadas e infinitas onde as pessoas se podem encontrar, trabalhar e se divertir, usando fones de realidade virtual, óculos de realidade aumentada, aplicações de smartphone ou outros dispositivos.

No Metaverso vai ser possível o trabalho remoto, interagir com a família e amigos, ir ao ginásio, comprar num mercado e até assistir virtualmente a um concerto. “O Metaverso é a próxima fronteira”, disse Zuckerberg durante a apresentação. “Acreditamos que o metaverso será o sucessor da Internet móvel”, sublinhou.


O mundo não parece, no entanto, tão entusiasmado quanto Zuckerberg relativamente à mudança. Os críticos consideram que a mudança de nome parece ser uma tentativa de desviar as atenções dos "Facebook Papers", um conjunto de documentos confidenciais que foram expostos e divulgados por um consórcio de órgãos noticiosos. A investigação jornalística acusa a empresa de sacrificar a segurança em prol do lucro.

Muitos desses documentos, mencionados pela primeira vez por Frances Haugen, uma ex-funcionária do Facebook que se tornou denunciante, revelam como a empresa fundada por Mark Zuckerberg ignorou ou subestimou avisos internos sobre as consequências negativas e prejudiciais causadas pelos algoritmos da rede social em todo o mundo. Haugen acusa o Facebook de colocar os lucros à frente da eliminação do discurso de ódio e de desinformação da plataforma.

"Com tanto escrutínio e debate público, alguns de vocês podem pensar porque estamos a fazer isto agora", disse Zuckerberg.

"A resposta é que eu penso que estamos na Terra para criar. Acredito que a tecnologia pode melhorar as nossas vidas e penso que o futuro não será construído por si", afirma o CEO do Facebook.

O programa norte-americano satírico “Daily Show”, apresentado por Trevor Noah, ajustou o vídeo de apresentação da Meta sobrepondo a figura de Mark Zuckerberg às imagens do assalto ao Capitólio, no dia 6 de janeiro, e da marcha ultranacionalista branca de 2017 em Charlottesville. Ambos os eventos foram organizados no Facebook.


“Imagine que coloca os seus óculos ou fones e está instantaneamente no espaço da sua casa e ela tem uma imagem incrivelmente inspiradora do que acha mais bonito”, diz Zuckerberg no vídeo editado pelo “Daily Show”, enquanto se veem imagens do ataque ao Capitólio e de um grupo de supremacistas brancos a segurarem tochas.

Políticos de todas as alas partidárias também se têm juntado às vozes críticas da mudança de nome do Facebook. A deputada Alexandria Ocasio-Cortez não conteve a sua desaprovação e apelidou a empresa de um “cancro para a democracia” e uma “máquina de propaganda para impulsionar regimes autoritários e destruir a sociedade civil para obter lucro”.


Richard Blumenthal, senador norte-americano, argumentou que a mudança de nome não foi nada mais do que um esforço para "confundir" e "distrair", mas, em última análise, "não apagará anos de práticas tortuosas e desrespeito pela privacidade, o bem-estar das crianças, disseminação do ódio, e genocídio”.

“O Facebook quer que comecemos a chamá-lo de Meta, mas vamos continuar a chamá-lo do que é, uma ameaça à privacidade, à democracia e às crianças”, disse Ed Markey, também senador.

c/agências
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