Faixa de Gaza. Hamas anuncia acordo de cessar-fogo com Israel

por Carlos Santos Neves - RTP
Sucessivas vagas de bombardeamentos aéreos visaram “alvos militares”, preenchendo a Faixa de Gaza com colunas de fumo Ahmed Zakot - Reuters

Esforços de mediação por parte do Governo egípcio e das Nações Unidas permitiram alcançar, às primeiras horas deste sábado, uma trégua entre o Hamas e Israel, ao cabo de horas de intensos bombardeamentos do Estado hebraico sobre a Faixa de Gaza. O acordo foi anunciado pelo movimento palestiniano que administra este território.

Estará afastado, pelo menos a breve trecho, o cenário de uma ofensiva prolongada das forças israelitas em Gaza, depois de horas de escalada da violência com um balanço provisório de quatro palestinianos e um soldado do Estado hebraico mortos, além de mais de 120 feridos no flanco palestiniano.Israel e o Hamas protagonizaram três guerras nos últimos dez anos.


O acordo de cessar-fogo, adiantou às agências internacionais Fawzi Barhoum, porta-voz do Hamas, foi alcançado sob os auspícios do Egipto e da ONU. “Regressar ao estado de calma precedente” é o objetivo declarado pelo movimento palestiniano.

Desde o final de março que a linha de fronteira entre Gaza e Israel é palco de protestos diários por parte dos palestinianos contra o bloqueio ao território e pelo retorno de refugiados que fugiram ou foram expulsos em 1948, no advento do Estado de Israel.

As Forças de Defesa de Israel têm respondido com mão de ferro. São já mais de 140 os palestinianos - a maioria sem armas - abatidos pelo Tsahal em quase quatro meses.

Na sexta-feira um militar israelita morreu ao ser atingido por disparos de palestinianos “durante um incidente” na fronteira, nas palavras do Exército israelita – a primeira baixa sofrida pelas tropas de Israel desde 2014, ano da última grande ofensiva movida contra o Hamas.

Ao final da tarde, seriam disparados três rockets contra território israelita, precipitando uma ameaça por parte do ministro da Defesa, Avigdor Lieberman: “Se o Hamas continuar a disparar rockets, Israel vai reagir mais duramente do que pensam”.

A resposta israelita não tardou. Sucessivas vagas de bombardeamentos aéreos visaram, pouco depois, “alvos militares”, preenchendo a Faixa de Gaza com colunas de fumo.

Duas das vítimas palestinianas foram atingidas num presumível posto de observação do Hamas próximo de Khan Younes, no sul do enclave. Um terceiro palestiniano morreu durante um raide sobre Rafah, na mesma região. A quarta vítima mortal palestiniana foi abatida pelo Tsahal perto da fronteira a leste da cidade.
“O precipício”

Nickolay Mladenov, enviado especial das Nações Unidas para o Médio Oriente, recorreu ao Twitter para deixar um apelo à contenção. “Todos na Faixa da Gaza devem afastar-se do precipício. Não na próxima semana. Não amanhã. Imediatamente”, escreveu o diplomata na rede social.


“Aqueles que querem provocar uma guerra entre palestinianos e israelitas não devem consegui-lo”, acrescentou.

O falcão Avigdor Lierberman havia já ameaçado o Hamas, nos últimos dias, com uma operação em larga escala na Faixa de Gaza. E a televisão israelita chegou a emitir imagens de manobras que sugeriam a preparação para uma incursão terrestre no território governado pelo movimento palestiniano.

Outro dos argumentos invocados pelo Governo israelita para fazer soar os tambores de guerra é a utilização de balões incendiários por parte dos manifestantes palestinianos, que, segundo as autoridades do Estado hebraico, terão já queimado mais de 2.600 hectares.
“Rotina civil”
Também um porta-voz do Exército israelita, citado na edição online do jornal Haaretz, veio entretanto afirmar que as comunidades israelitas que vivem perto da fronteira com Gaza podem retomar a “rotina civil”.

“No fim de uma avaliação pelo comando do sul, esta manhã, foi decidido manter uma total rotina civil nas comunidades próximas da Faixa de Gaza”, escreve o porta-voz militar em comunicado, para acrescentar que “não há restrições especiais” naquela região.

Já no passado fim de semana a aviação israelita havia lançado dezenas de bombardeamentos sobre alvos da Faixa de Gaza, em retaliação pelo lançamento dos balões incendiários. Morreram dois adolescentes palestinianos. Do lado das Brigadas Izzedine al-Qassam, o braço armado do Hamas, foram disparadas duas centenas de rockets contra Israel.

A par da pressão militar, o Governo israelita apertou na última semana o garrote do bloqueio económico à Faixa de Gaza, interrompendo o abastecimento de combustível através do único ponto de passagem de mercadorias entre Israel e o enclave. Encurtou, ao mesmo tempo, a zona marítima aberta aos pescadores de Gaza.

c/ agências internacionais
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