O balanço dos protestos na Bielorrússia desde as eleições presidenciais de domingo é, por enquanto, de dois mortos e de quase sete mil detidos. Milhares de bielorrussos têm enfrentado na rua as forças da ordem, contra os resultados anunciados pelas instâncias oficiais e que deram a vitória, por cerca de 80 por cento dos votos, ao atual Presidente, Alexander Lukachenko, abrindo-lhe a porta a um sexto mandato.
The workers at the factory that makes famous trucks Belaz are going on strike against the violence that authorities are using to disperse the crowds. The protest movement is taking a new shape in #Belarus pic.twitter.com/ZNe8XvqG47
— Abdujalil A (@abdujalil) August 13, 2020
The female solidarity chain in #Minsk was joined by #MariaKolesnikova, the only of of three women from opposition who remained in #Belarus. She was greeted with applause and shouts of #WellDone. pic.twitter.com/xw01pk2vua
— Belarus Free Theatre (@BFreeTheatre) August 13, 2020
"A nossa sociedade não amadureceu o suficiente para votar numa mulher. Isso é porque, pela Constituição, o Presidente tem muito poder", acrescentou. Luís Filipe Fonseca, João Caldeirinha - RTP
O apoio crescente conquistado por 'Sveta', cujos comícios acabaram a atrair milhares de pessoas, aparentemente mostrou um país mais maduro do que Lukachenko pensava.
Só nos protestos da noite de quarta-feira a polícia prendeu um milhar de pessoas e quinta-feira de manhã anunciou mais 700 detenções, elevando para 6700 o número total de manifestantes detidos desde domingo.
Os relatos publicados nas redes sociais sobre o que está a suceder dentro das prisões, denunciam uma longa lista de horrores, de maus tratos e de abusos, incluindo de pessoas feridas.
As forças da ordem já admitiram terem usado munição real contra os manifestantes. Lukachenko, de 65 anos, a quem a oposição chama "barata", afirma que estes são criminosos e desempregados, "ovelhas" ao serviço de interesses externos.
Todas as táticas violentas ou ameaças por parte do poder parecem fracassar junto dos bielorrussos fartos da mão de ferro com que Lukachenko governa há 26 anos.
Protestam dia e de noite, há cinco dias, galvanizados pelo exemplo de Tikhanovskaïa, uma professora de inglês de 37 anos, sem experiência política, que ousou desafiar Lukachenko depois de o marido, um ativista político da oposição, ter sido preso em maio.
Entre a condenação e o aplauso
Tanto a União Europeia como os Estados Unidos condenaram os resultados eleitorais e denunciaram o escrutínio,"nem livre nem justo". Apelaram ainda ao regime de Lukachenko para que não recorra à força. As Nações Unidas condenaram o uso da violência por parte das autoridades.
Esta quinta-feira Moscovo mostrou-se mesmo preocupada com a situação corrente na Bielorrússia e denunciou tentativas de forças externas para interferir e desestabilizar o país depois das eleições contestadas.
Citada pela BBC, a jornalista russa Olga Ivshina fala não em agentes externos mas da brutalidade exercida pelas próprias autoridades bielorrussas.
"O volume de provas da brutalidade policial, tanto nas ruas como dentro das prisões, acumula-se cada vez mais. Os detidos incluem não só ativistas políticos, mas também muitos jornalistas e meros transeuntes", refere.
"Um dos jornalistas libertados, Nikita Telizhenko, do website de notícias russo Znak.com, publicou um relato angustiantes dos seus três dias na prisão. Agora, no regresso à Rússia, descreve pessoas deitadas no chão num centro de detenção, empilhadas umas em cima das outras, em poças de sangue e de excrementos. Sem serem autorizadas durante horas a usar a casa de banho ou até a mudar de posição", descreve Nikita à BBC.
"O testemunho de Telizhenko's tem sido confirmado por inúmeros relatos nas redes sociais - fotos, vídeos, histórias. Falei com uma mulher americana que estava de visita ao seu namorado bielorrusso em Minsk - que foi detido sem razão aparente. Não só não estava a protestar, como estava na cama a dormir quando a polícia foi ao seu apartamento, derrubou a porta e o levou", afirma a jornalista russa.
Uma equipa de reportagem da BBC foi atacada pela polícia terça-feira à noite e duas pessoas morreram durante os confrontos.
"Vergonha"
As duas vítimas mortais são dois civis e a forma como perderam a vida é alvo de contestação.
Um primeiro morreu na noite de segunda-feira, na explosão de um engenho explosivo que ia atirar à policia, referem fontes oficiais. O segundo terá sido interpelado durante uma reunião em Gomel, no sudeste do país e morreu ao fim de dez dias sob custódia policial, depois de ter sido levado para um hospital por ter ficado doente, afirmaram quarta-feira as forças de segurança.
A mãe deste último, um homem de 25 anos, afirmou à Radio Free Europe que o filho não estava a participar nos protestos e que foi detido quando ia visitar a namorada. Disse que ele tinha problemas cardíacos e foi retido durante horas numa carrinha da polícia.
Muitas pessoas têm gritado "vai-te embora", das suas varandas, num recado a Lukachenko, a mesma palavra de ordem usada pelos manifestantes nas ruas. A policia tem respondido com disparo de balas de borracha.
Servicemen in Belarus are tossing their uniforms in trash cans & renouncing service to Lukashenko.
— Matthew Luxmoore (@mjluxmoore) August 12, 2020
“I swore an oath to my nation,” this man says. “But seeing what’s happening in Minsk I can no longer where this uniform.” https://t.co/dJrhvV3dp0 pic.twitter.com/yGvCAmEU2s