Forças de Kiev rompem mais defesas russas no sul da Ucrânia

por Cristina Sambado - RTP
Ponte danificada perto de Sviatohirsk Lavra na cidade de Sviatohirsk reconquistada pelas forças ucranianas.

As tropas ucranianas quebraram as defesas russas no sul do país, enquanto parecem expandir rapidamente a contraofensiva no leste, reconquistando mais território em áreas anexadas pela Rússia. O avanço meridional visa linhas de abastecimento para cerca de 25 mil soldados russos na margem ocidental do Rio Dnipro.

Oficiais russos instalados em Kherson confirmaram o avanço das tropas de Kiev, mas garantem que as forças de Moscovo estão a resistir.

As tropas ucranianas destruíram 31 tanques russos e um lança-foguetes múltiplo, revelou o comando operacional militar no sul da Ucrânia.

O avanço a sul espelha os recentes avanços ucranianos no leste, numa altura em que o Kremlin anexa territórios, ordena a mobilização e acena com uma retaliação nuclear.

A Ucrânia fez progressos significativos em duas das quatro regiões anexadas pela Rússia, após um referendo que que foi denunciado por Kiev e pelos governos ocidentais como ilegal e coercivo. A agência Reuters viu várias colunas de veículos militares ucranianos a dirigirem-se para o eixo-ferroviário de Lyman.


O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, revelou que “existem novos territórios libertados em várias regiões”.

“Os combates continuam em muitas áreas”, afirmou Zelensky sem dar mais pormenores.
Reconquistas ucranianas
O líder pró-russo instalado na região de Kherson, Vladimir Saldo, admitiu que as tropas ucranianas tinham atravessado perto de Dudchany, uma cidade banhada pelo Rio Dnipro a cerca de 30 quilómetros a sul da linha da frente. O curso de água é chamado de Dnieper pelos russos.

“Há povoações a serem ocupadas pelas forças ucranianas”, confirmou Saldo. Alguns relatórios russos revelam que os ucranianos reconquistaram Dudchany.
Vladimir Saldo revelou ainda que dois batalhões ucranianos tentaram alcançar a central hidrelétrica na cidade portuária de Nova Kakhovka, cerca de 70 quilómetros a leste de Kherson.

Soldados da 128ª Brigada de Ataque de Montanha da Ucrânia hastearam a bandeira ucraniana em Myrolyubivka, uma aldeia entre a antiga frente e o Dnipro, segundo um vídeo divulgado pelo Ministério da Defesa.

Serhiy Khlan, membro do conselho regional de Kherson, enumerou outras aldeias recapturadas ou onde as tropas ucranianas tinham sido fotografadas.

"Isto significa que as nossas forças armadas estão a mover-se poderosamente para as margens do Dnipro mais próximas de Beryslav", acrescentou. Avanço a leste
A leste, as forças ucranianas continuam a avançar lentamente sobre Lugansk, uma das regiões anexadas por Moscovo na passada semana.

Serhiy Gaidai, o governador de Lugansk - uma das duas regiões que compõem os Donbass – afirmou que as tropas russas tinham tomado conta do hospital psiquiátrico na cidade de Svatovo, um alvo a caminho de reconquistar as principais cidades de Lysychansk e Severodonetsk.

"Há uma grande rede de salas subterrâneas no edifício e eles tomaram posições defensivas", afirmou a uma televisão ucraniana.

Para o sucesso militar ucraniano nesta região, contribuíram os sistemas de rockets múltiplos HIMARS, fornecidos pelos EUA, que permitiram atingir repetidamente a ponte principal sobre o Dnipro, em Kherson, e uma barragem que serviu como uma segunda travessia principal.

No sábado, as forças ucranianas reconquistaram a importante cidade central de Lyman no leste, situada perto da fronteira regional de Lugansk. As forças militares russas tinham transformado Lyman numa base logística.
Confirmação de Moscovo
O porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, Igor Konashenkov, reconheceu na segunda-feira que, “com unidades de tanques superiores na direção de Zolotaya Balka, Aleksandrovka, o inimigo conseguiu penetrar na nossa defesa”, acrescentando que as tropas russas continuam a tentar resistir à contraofensiva de Kiev na região de Kherson.

Ainda segundo Konashenkov, as tropas russas abateram cerca de 130 militares ucranianos.

O Ministério russo da Defesa diz que os reservistas recrutados para o exército pela ordem de mobilização de Putin, no mês passado, estão agora a receber treino intensivo de combate nas regiões de Lugansk e Donetsk, controladas pela Rússia. O Kremlin planeia chamar cerca de 300 mil reservistas.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse na segunda-feira que as regiões de Donetsk e Lugansk vão juntar-se à Rússia mantendo as fronteiras que existiam antes de 2014 (ano da primeira invasão da Ucrânia).

Peskov voltou a afirmar que as fronteiras das regiões de Kherson e Zaporizhzhia são questões "ainda em aberto".

"Vamos continuar a discutir com os residentes dessas regiões", disse Peskov numa conferência de imprensa sem fornecer mais detalhes.

Kiev já prometeu reconquistar todo o território anexado pela Rússia, incluindo a Crimeia, anexada em 2014 pelas tropas russas. Conselho da Federação Russa ratifica anexação
A Câmara Alta do Parlamento da Rússia votou esta terça-feira a incorporação de quatro regiões ucranianas na Rússia, numa altura em que Moscovo se prepara para anexar formalmente o território de Kiev durante o seu conflito de sete meses.

O Conselho da Federação ratificou por unanimidade a legislação para anexar as regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhzhia da Ucrânia, na sequência de uma votação semelhante na Duma, a Câmara Baixa.

Os documentos passam agora de novo ao Kremlin para a assinatura final do presidente Vladimir Putin para completar o processo de anexação formal das quatro regiões, que representam cerca de 18 por cento do território internacionalmente reconhecido da Ucrânia.
Evgueni Mouravitch, correspondente da RTP em Moscovo, explica que esta é mais uma formalidade no processo de anexação.
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