François Hollande confirma intervenção de tropas francesas no Mali

O Presidente de França anunciou que estão já no Mali tropas francesas em missão de apoio ao exército maliano para combater os grupos islamitas que há nove meses conquistaram o norte daquele país. A aviação francesa já terá mesmo realizado uma intervenção durante a contra-ofensiva do exército do Mali para recuperar a cidade de Konna, tomada ontem pelos islamitas. No Mali está decretado o estado de emergência.

Graça Andrade Ramos, RTP /
O Presidente francês François Hollande anunciou esta tarde em Paris o início da intervenção militar francesa no Mali no âmbito de um esforço internacional contra grupos extremistas islâmicos Philippe Wojazer/Reuters

A participação francesa "esta tarde" já tinha sido confirmada pelo chefe das operações do Mali.

"No momento em que vos falo, tropas vindas da Nigéria, do Senegal e da França estão a dar apoio em Sevaré (centro do Mali) ao exército maliano. Estas tropas chegaram com o material necessário para enfrentar a situação," revelou o coronel Oumar Dao perante o Estado-Maior das Forças Armadas malianas.O norte do Mali está há nove meses sob controlo de grupos extremistas islâmicos que recentemente anunciaram a sua intenção de avançar para sul e conquistar o território ainda em poder do governo oficial maliano. 

A participação senegalesa foi contudo desmentida horas depois à Agência France Presse por uma fonte do exército senegalês, sob anonimato.

O ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius, confirmou por seu lado em Paris que a aviação francesa havia disparado um tiro em apoio ao avanço do exército do Mali sobre Konna, no centro do país.

Esta cidade foi conquistada pelos rebeldes extremistas na quinta-feira.

Fabius justificou a intervenção francesa no Mali dizendo que esta visa evitar a criação de um "Estado terrorista". Paris deu ainda ordem para os cidadãos franceses abandonarem o Mali o mais depressa possível.
Estado de emergência
"Aproveitando o atraso existente entre o momento da tomada de decisões internacionais e a sua aplicação, os grupos terroristas e criminosos (do Mali) desceram para o sul, com o objetivo de controlar todo o Mali e de ali instalar um Estado terrorista," explicou o responsável da diplomacia francesa.
Laurent Fabius garantiu igualmente que a França fará tudo para proteger os seus nacionais feitos reféns pelos islamitas, afirmando que a luta pela sua libertação e o combate contra os "terroristas" são "uma só causa".
Londres e Berlim já deram o seu apoio à decisão francesa de intervir no conflito do Mali.

A declaração do estado de emergência no Mali foi igualmente aprovada esta sexta-feira num conselho de ministros extraordinário "tendo em conta a situação atual", afirmou aos jornalistas o porta-voz do governo maliano, na capital do país, Bamako.

O ministro do Interior, Moussa Sinko Coulibaly, disse por seu lado que a medida entra "imediatamente em efeito e em todo o território nacional". Espera-se que o Presidente Traoré confirme a medida num discurso televisivo, esta noite.
"O tempo necessário"
Em Paris, o chefe de Estado francês afirmou numa declaração aos jornalistas que esta intervenção militar francesa na operação de luta contra "terroristas" durará "o tempo necessário". O Presidente do Mali, Dioncounda Traoré, é esperado em Paris na próxima quarta-feira.

"As forças francesas iniciaram esta tarde o seu apoio às unidades do exército maliano para lutar contra elementos terroristas", afirmou François Hollande em conferência de imprensa em Paris. "Esta operação durará o tempo que for necessário", acrescentou o Presidente francês.

A decisão de enviar tropas para a antiga colónia francesa foi tomada "sexta-feira de manhã, de acordo com Traoré," acrescentou Hollande, que frisou ainda que a missão está de acordo com as resoluções aprovadas pela ONU.

No dia 20 de dezembro de 2012 o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução a dar luz verde ao envio de uma força internacional no Mali, sem fixar contudo calendários para a reconquista do norte e apelando sobretudo ao diálogo com os grupos armados rebeldes tuaregues, que rejeitam o extremismo islâmico e a divisão do país.
Início da contra-ofensiva
A perda de Konna para o avanço islamita terá sido o estímulo necessário para o início da intervenção internacional no Mali, apoiada sobretudo pela comunidade africana francófona.

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) havia também decidido em novembro enviar por um ano 3.300 soldados para apoiar o exército do Mali na luta contra os islamitas. Este envio foi autorizado esta sexta-feira com carácter "imediato" pelo presidente em exercício da organização, o Presidente da Costa do Marfim Alassane Ouattara, após consulta com os seus pares.

Esta sexta-feira o exército do Mali lançou uma operação para recuperar Konna. O chefe das operações militares do Mali admitiu a ocorrência de baixas, tanto do lado maliano como do lado islamita mas não revelou números, dizendo pretender primeiro informar as famílias dos soldados abatidos.
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